Começou pela Restinga, em Porto Alegre, o projeto da Brigada Militar (BM) que promete impedir a captação, por terceiros, da frequência dos rádios comunicadores. Além de tentar frear a criminalidade, que se vale da vulnerabilidade do sinal analógico utilizado atualmente para obter informações privilegiadas, o novo conceito põe fim ao tradicional e incômodo chiado presente nas conversas.
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O sinal, que foi ativado às 15h desta segunda-feira, está sendo compartilhado de forma experimental por viaturas e brigadianos do 21º Batalhão de Polícia Militar (BPM), que atende ao bairro Restinga, região utilizada como laboratório por ser uma das maiores da Capital. Durante 30 dias, o projeto será monitorado e avaliado para posterior ampliação.
– É uma zona com elevações geográficas, áreas rurais e urbanas que nos permite avaliar aspectos positivos e negativos dessa tecnologia – explica o diretor do Centro de Manutenção Tecnológica da BM (CMTec/BM), tenente-coronel Marcelo Giusti.
A projeção da BM para que o sinal alcance todo o município é de aproximadamente um ano e meio, tempo considerado necessário para a aquisição de novos rádios portáteis. Para o projeto experimental, não foi necessário investimento, apenas reprogramação que permitiu a mudança de sinal, do analógico, para o digital.
– A captação de recursos para compra de novos rádios portáteis irá permitir a expansão do projeto para outros batalhões. A infraestrutura, já tínhamos – diz Giusti, ressaltando que estão sendo utilizados menos de 10 desses rádios na Restinga. – É importante por questão de evolução. Todas as tecnologias estão se fundamentando no digital – acrescenta.
COMO FUNCIONA O NOVO SISTEMA
- O projeto parte de normativas da Associação Nacional de Telecomunicações (Anatel), que estabelecem a utilização do sinal digital pelos órgãos de segurança do país até dezembro de 2021.
- A BM em Porto Alegre possui equipamentos fixos, que ficam nas viaturas, suficientes para expandir o novo conceito para todo o município. O que faltam são os portáteis, também conhecidos como rádios de mão.
- Mais resistentes à água, pó e impactos, os rádios portáteis que recebem o sinal digital têm vida útil de aproximadamente oito anos; três a mais dos que os utilizados atualmente.
- A BM não estimou prazo para que o sinal cubra e seja captado por todos os batalhões do Estado.
- A tecnologia digital possibilita implantação de serviços como GPS nos rádios portáteis, que dá, automaticamente, a localização do equipamento e, por consequência, do policial. Ainda possibilita o envio de fotos e vídeos.
– São upgrades possíveis, que iremos implementando aos poucos – diz Giusti.
- A tecnologia escolhida pela BM, APCO 25 ou Projeto 25, é digital de rádio profissional criada pela Associação dos Oficiais de Comunicações de Segurança Pública dos EUA, usada em todo território americano e por muitas polícias e bombeiros do mundo. No Brasil, já é opção de muitos órgãos de defesa e segurança pública, como Exército, prefeituras de São Paulo, Minas Gerais e Paraná.
- De acordo com o diretor do CMTec/BM, tenente-coronel Marcelo Giusti, entre as vantagens que a tecnologia digital traz para as comunicações policiais estão sigilo, identificação automática de terminais, maior qualidade de áudio, criptografia (segurança adicional), entre outros.
O bairro Restinga
Localizado na Zona Sul, é um dos bairros mais violentos da Capital com mais de 10 quadrilhas ativas. Entre as principais, em constante conflito, estão, de um lado os Miltons e os Cantão, pelo lado dos Bala na Cara, e de outro, os Marianos (Manos), Alemão, Carro Velho e Madeireira, todos como Antibala. Entre janeiro e a primeira quinzena deste mês, pelo menos 24 pessoas foram assassinadas na Restinga.