Era por volta de 13 horas da última terça-feira quando dona Neusa Maria Rodrigues de Araújo, 64 anos, saiu para fazer compras no mercado perto de casa, na Rua Clara Nunes, no Bairro Restinga, Zona Sul de Porto Alegre. Ao retornar, ela ouviu estampidos de tiro e correu para dentro de casa. Mal sabia ela que as paredes não seriam suficientes para protegê-la da violência na rua.
Neusa foi vítima de uma bala perdida que atravessou a janela e a atingiu nas costas. O projétil perfurou o pulmão e provocou hemorragia interna. A suspeita da polícia é que tenha ocorrido uma troca de tiros na redondeza em função da guerra do tráfico de drogas.
Leia mais
Idosa é encontrada morta dentro de casa após tiroteio na Capital
Polícia investiga morte de criança que caiu de escorregador em Três Coroas
O que se sabe até agora sobre a morte da jovem que levou 17 tiros na cabeça
A morte da moradora foi descoberta no dia seguinte pelo filho mais velho. Ele chegou para visitá-la e a encontrou caída no chão.
– Meu irmão chegou lá no final da tarde (de quarta-feira) e encontrou ela deitada. Foi terrível porque tu não espera que a tua mãe morra assim, de repente. Pior ainda por uma bala perdida. Foi bem difícil – contou a filha do meio, Rita Ribeiro Soares, de 46 anos.
Tiroteio
A vizinha Maria Laura Lessa, de 70 anos, ouviu que os disparos começaram distantes e foram se aproximando. Quando o barulho ficou mais alto, ela correu para os fundos da casa e começou a rezar. Ela não se deu conta que a vizinha havia sido atingida porque não ouviu nenhum pedido de socorro e não costumava vê-la todos os dias.
– Eu digo, bah, é tiro. Chamei meu guri e fui lá para dentro. Comecei a pedir misericórdia e a rezar – disse ontem, ainda assustada.
Uma amiga de Neusa estranhou o silêncio dela após o tiroteio, mas pensou que ela estivesse na casa da filha.
– Agora estou com medo de sair da minha casa para ir ao mercado. No dia ainda brinquei: 'vou passar ali na casa dela pra ver se está viva'. Mas acabei não passando e nunca imaginei que pudesse ter acontecido alguma coisa – lamentou Eliane da Luz Rosa, 62.
Neusa era querida pela vizinhança e gostava de presentear os amigos.
– A minha mãe chegava a dar as coisas dela para os outros que precisavam mais do que ela – contou a filha emocionada.
Como está desempregada e os irmãos não têm condições de bancar o velório, Rita vai enterrar a mãe com apoio da Prefeitura por meio do enterro social.
Investigação
O disparo que acertou dona Neusa veio de uma praça próxima a casa dela. Pessoas de três carros que pararam na travessa onde mora a idosa trocaram tiros com alguém que estava na praça. Um dos ocupantes dos carros teria sido atingido pelos disparos e socorrido pelos próprios companheiros.
A polícia acredita que a troca de tiros tenha ocorrido em função de disputa pelo tráfico de drogas na região. Perto da praça existe um ponto conhecido de venda de drogas.
Um dos carros suspeitos foi recuperado pela polícia. Um homem chegou a ser preso pela Brigada no mesmo dia com um revólver 38. A perícia vai indicar se a arma foi utilizada no confronto.
– Foi uma fatalidade porque a bala passou a centímetros da parede, perfurou o tapume da janela e atingiu as costas dela. A violência acaba transcendendo as guerras por domínio do tráfico _ avaliou o delegado Rodrigo Pohlmann, da 4ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa.