O Rubem Berta, bairro que chamou a atenção no final de semana pelo número de pessoas mortas – foram oito em 26 horas, sendo que a média de homicídios do ano na região é de oito por mês – será alvo do Programa + Garantias, da Polícia Civil, ainda na primeira quinzena de agosto.
A região, que desde 2014 lidera o ranking de mais casos de homicídios em Porto Alegre, também já é alvo de um projeto da Brigada Militar (BM), que faz estudo permanente de ocorrências para movimentar o efetivo conforme as demandas. Após o final de semana sangrento, o policiamento foi reforçado.
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Neste ano, ao menos 52 pessoas foram assassinadas no Rubem Berta. Campeão em mortes, o bairro também é, segundo o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), um dos principais em casos de prisões. Em 2016, foram 24 capturas relacionadas a assassinatos.
– Temos também alto índice de permanência na prisão, fazemos o monitoramento diário e 80% desses capturados permanecem presos – afirma o diretor do DHPP, delegado Paulo Rogério Grillo.
O Programa + Garantias visa a aproximar a polícia da comunidade. A ideia é dar orientações sobre leis e direitos buscando o aumento de denúncias aos órgãos de combate à violência e evitando, por exemplo, a subnotificação de crimes. Segundo as autoridades, a medida não é em decorrência direta das ocorrências de sábado e domingo, mas leva em conta o histórico de violência do bairro. A ação, que ocorre durante um dia inteiro com a presença de diversos departamentos da polícia no local, está previsto para outras áreas da Região Metropolitana.
– Essa criminalidade, alimentada pelas disputas do tráfico, está muito diluída na cidade, não é específica de uma área. Desta vez, foi no Rubem Berta, mas temos problemas no Santa Tereza, na Aberta dos Morros, na Restinga – avalia Grillo.
Leitura de ocorrências para remanejo do efetivo
O chefe da Polícia Civil, delegado Emerson Wendt, chama a atenção para o perfil de vítimas. Segundo levantamento, 75,3% delas têm antecedentes:
– Isso não quer dizer que as mortes estão justificadas. O que tentamos mostrar com isso é uma análise de que existe uma relação criminal entre autor e vítima.
O final de semana no bairro, contudo, teve cenário inverso. Dos oito mortos, seis (75%) não tinham antecedentes.
Por parte da BM, as ações têm sido, segundo o comando do 20º Batalhão de Polícia Militar (BPM), no sentido de sufocar ocorrências onde há maior demanda. Está sendo usado em parte da região o Sistema de Gerenciamento Operacional (Sigo), com leituras das ocorrências e remanejo do efetivo. O primeiro relatório, referente aos primeiros 15 dias de junho, mostrou redução de 28% de sete tipos de crimes, incluindo homicídios, em relação a números dos cinco primeiros meses do ano.
– O policiamento foi intensificado desde a chegada da base comunitária, essa é a ideia da base, ser referência. O Sigo é aplicado na parte do bairro que responde por 73% de todos os delitos da região – diz o comandante do 20º BPM, tenente-coronel Egon Kvietinski.
O duplo homicídio de sábado aconteceu a duas quadras do endereço da base móvel, mas o ônibus não fica no bairro durante o final de semana.