A hora de fazer exercícios deveria ser um momento para relaxar e dar boas risadas com amigos, mas com o surto de insegurança em Porto Alegre, as conversas sobre o futebol e o churrasco de final de semana dividem espaço com os casos de violência na academia Terra Brasilis, no Menino Deus.
Dos 13 clientes que aceitaram conceder entrevista, seis foram assaltados à mão armada, um sofreu tentativa de sequestro, um foi agredido em tentativa de assalto e uma teve o marido assaltado. Na terceira matéria da série "Uma história de muitas", a reportagem visitou, aleatoriamente, uma academia para fazer a pergunta:
– Quem aqui já foi ou tem algum familiar vítima da violência?
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Nove pessoas levantaram as mãos. A campanha do Grupo RBS, que mostra o rosto das vítimas da criminalidade, teve início na segunda-feira, quando uma turma de cursinho pré-vestibular contou suas histórias. Na terça-feira, mostrou a situação vivida por funcionários de uma gráfica na Capital.
MARIA ISABEL VICARI
Assistente administrativa, teve arma apontada para cabeça em assalto
"No sábado de tarde estava indo na Renner e, quando estava passando na frente do Colégio Protásio Alves, um guri me apontou uma arma e disse que queria me assaltar, que eu desse meu celular e meu dinheiro e que, se não entregasse, ele me mataria. Com a arma na cara, tive de dar, fazer o quê? Depois, ele foi embora correndo. Fiquei ali, tremendo que nem vara verde. Agora, quase não ando mais com celular. No ônibus, também tomo cuidado porque tem assalto."
THALES VINICIUS RODRIGUES ALMEIDA
19 anos, teve o celular roubado em novembro do ano passado
"Estava voltando de uma consulta médica. Era uma quarta-feira de tarde. Estava em uma parada de ônibus e chegou um homem, ficou me encarando. Achei meio suspeito, mas logo chegou outro homem, e eles ficaram conversando. Logo depois, o primeiro se aproximou de mim, me cumprimentou, até achei que fosse pedir alguma informação e, no fim, anunciou o assalto. Disse que me conhecia, sabia onde eu estudava. Me pediu dinheiro, e eu não tinha. Aí, começou a me ameaçar, disse que ia me dar um tiro. Comecei a ficar mais assustado, porque realmente não tinha dinheiro. Acabou levando meu celular. Antes de eu ir embora, ele me mandou pegar o primeiro ônibus que viesse para que algo pior não acontecesse comigo."
RÔMULO DELLANI BARRETO
33 anos, foi agredido em tentativa de assalto
"Foi há duas semanas. Estava em um bar na frente da minha casa, assistindo ao jogo comemorativo de 10 anos da conquista do Inter na Libertadores. Estava caminhando, celular na mão, carteira no bolso e uma sacola com duas cervejas. Quando estava na Rua José de Alencar, quatro caras, que vinham no sentido oposto, chegaram me atacando. Quando dei um passo para trás, vieram para cima, brigamos. Ainda estou com um corte na sobrancelha. A sorte é que estávamos quase na frente do bar, meia quadra de distância. Eles devem ter me atacado achando que iam me roubar e ir embora tranquilos, mas a confusão chamou a atenção, e eles acabaram fugindo só com a cerveja. Graças a Deus não levei um tiro. Saiu barato."
CLAUDIO THOBER
55 anos, bancário, foi perseguido em suposta tentativa de sequestro na Capital
O dia a dia de Claudio Thober nunca mais foi o mesmo após a tentativa de sequestro que acredita ter vivido há alguns meses quando ia para o trabalho, em uma agência em um shopping da Capital. O bancário de 55 anos foi perseguido por diversas quadras por um homem em uma moto. Assustado, ligou para o setor de segurança do banco e pediu ajuda.
Dirigiu o mais rápido que pode e, assim que chegou próximo ao centro comercial, uma equipe já o estava esperando de prontidão. O assaltante, conta Thober, deve ter percebido a movimentação e fugiu. As imagens de câmeras de segurança chegaram a registrar a presença do motoqueiro, mas não foi possível identificar a placa. O sequestro acabou não se concretizando, mas a marca do medo permanece na rotina do bancário.
– Fiquei muito assustado, nervoso. Por vários meses, segui preocupado. Tive de mudar minha rotina para e ir e voltar do trabalho. É uma coisa que fica na minha cabeça – conta.
OS NÚMEROS
13 clientes
1 sofreu tentativa de sequestro
1 foi agredido em tentativa de assalto
1 teve o marido assaltado
6 foram assaltados à mão armada
4 não sofreram violência