Em 2014, visitei mais de 10 escolas estaduais de Porto Alegre para compreender por que tantas vezes as aulas foram suspensas em função da disputa entre gangues rivais. Uma professora que trabalha e mora na Vila Cruzeiro disse algo que me marcou: "Nem a escola os traficantes respeitam mais".
Até alguns anos atrás, as instituições de ensino eram vistas como algo sagrado, inclusive pelos criminosos, pois os filhos de todos precisam estudar. Mas a criminalidade crescente no Rio Grande do Sul – os indicadores da segurança mostram isso – não deixa mais imune da violência as escolas. Até porque elas estão inseridas nas comunidades onde ocorre a guerra entre os traficantes.
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Em seis meses, foram mais de 5,6 mil casos de violência no entorno dos colégios estaduais que de alguma forma prejudicaram as atividades. O levantamento faz parte do trabalho das Comissões Internas de Prevenção a Acidentes e Violência Escolar (Cipaves). Implementadas a partir do ano passado na rede estadual, elas têm mapeado os principais problemas.
As comissões envolvem pais, alunos, professores, direção e funcionários. Depois de identificadas as dificuldades, são propostas soluções. Brigada Militar, Polícia Civil, Ministério Público Estadual e outros órgãos estão envolvidos.
Em pouco mais de um ano de trabalho, alguns resultados já podem ser observados, como a redução dos casos de bullying e de agressões a professores. Mas a violência do entorno segue um desafio porque envolve, além da escola e da comunidade, a necessidade de ampliação dos investimentos em segurança pública.
O governo estadual acena com um convênio para levar brigadianos aposentados para trabalhar nas escolas. A proposta não é nenhuma novidade, mas pode ajudar a minimizar a sensação de insegurança. Só que precisamos mais.
Não podemos aceitar é que, diante de tantas dificuldades na educação – como salários baixos dos professores e estrutura precária –, ainda tenhamos que conviver com aulas suspensas todos os dias porque "o traficante mandou".