Nem o comando da repressão à criminalidade no Estado escapa da ousadia dos criminosos do semiaberto. A afronta aconteceu às 10h de 7 de agosto de 2015, protagonizada pelo apenado do semiaberto Jaime Roberto Sape, 46 anos. Naquela manhã, assaltou o posto do Banrisul junto ao prédio da Secretaria da Segurança Pública (SSP), em Porto Alegre.
Condenado 16 vezes – até 2030 – por furtos, assaltos e receptação, com seis fugas no currículo e foragido havia quatro meses do Instituto Penal de Novo Hamburgo, Sape tinha motivos de sobra para ficar longe de homens-da-lei.
Mas fez exatamente ao contrário naquela sexta-feira. Vestindo calça jeans, sapatos e camisa social, óculos escuros, bolsa de couro a tiracolo e fones nos ouvidos, esperou 30 minutos no saguão do prédio até a abertura do posto.
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Não demonstrou a menor preocupação com câmeras de vigilância, em ser reconhecido ou preso no complexo da SSP, por onde circulam 1,5 mil pessoas por dia, entre elas, investigadores, delegados da Polícia Civil, soldados, oficiais da Brigada Militar e agentes penitenciários.
Conforme denúncia do Ministério Público, assim que o banco abriu, Sape foi o primeiro e único a entrar. Cruzou apressado a porta giratória sem empecilhos e, chamando o vigilante pelo primeiro nome, ordenou que ele fechasse as cortinas do posto. Imaginando se tratar de um servidor do banco, o guarda obedeceu a ordem sem desconfiar.
Sape foi até o caixa, agarrou um funcionário pelo braço, e exigiu que ele abrisse o cofre. O vigilante se deu conta, mas teria se assustado ao ver algo parecido com a coronha de um revólver com o intruso, e acabou entregando sua arma.
Como o cofre tem horário especifico para abrir, Sape não quis esperar. Recolheu R$ 20 mil do caixa e fugiu a pé com a arma do guarda. Um comparsa o esperava no lado de fora do posto.
No dia da prisão, revólver de vigilante encontrado
Era a mais ousada investida de Sape, estreante em roubos na Capital. Vindo na Serra, já tinha no currículo 16 condenações, 10 por assaltos – incluindo roubos de carros, em relojoarias e bancos – e quatro por furtos, além de receptação e falsa identidade, a maioria cometida em Canela e em Gramado (onde nasceu), e em Alvorada, (onde mora).
O assalto constrangeu a cúpula da segurança. Começava o parcelamento de salários e protestos do funcionalismo estadual e policiais cruzavam os braços. Além disso, câmeras da SSP não ajudaram a identificar o criminoso, e o banco sequer tinha o equipamento. Em uma nota de esclarecimento, a secretaria alegou que o posto do Banrisul fica em um anexo e não no interior do prédio.
Sape seguiu livre por mais um mês. Armado com um revólver, em setembro atacou duas mulheres em um HB20, na Rua Fernando Machado, no centro de Porto Alegre. Fugiu com o carro e pertences das vítimas, mas não foi longe. PMs em uma viatura passavam pelas imediações e o prenderam. Perícia na arma apreendida com o assaltante revelou se tratar do revólver calibre 38 levado do vigilante do Banrisul.
Pelo roubo do HB20, Sape foi sentenciado a nove anos e sete meses de prisão, em fevereiro deste ano. Alcançou a 17ª condenação, a pena foi elevada até 2040 e ele teve o regime regredido para o fechado. Aguarda o 18º julgamento, sobre o assalto ao Banrisul da SSP, atrás das grades. Resta saber até quando.