Um menino estudioso, amoroso e que amava futebol. Assim é descrito Kauã Machado Tavares Nieto, 10 anos, que morreu baleado na noite de sexta-feira, no bairro Farrapos, na zona norte de Porto Alegre. O garoto jogava bola na praça do Loteamento Tresmaiense, a apenas 65 passos da casa em que morava com os pais, quando foi atingido com um tiro no peito.
_ Perdi meu parceiro, meu amigo. Mandei fazer um fardamento (de futebol) que ele queria tanto. Chegava dia 23. Ele nem vai poder usar _ dizia o pai de Kauã, Paulo Ricardo Machado Nieto, 37 anos, na manhã deste sábado, ao relembrar o momento dos disparos.
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Nieto também foi ferido, atingido com um tiro no pé direito ao tentar livrar o filho da linha de fogo. Dois homens que chegaram ao local a pé foram os autores dos disparos.
_ Os caras passaram por trás de mim e chamaram um homem que estava sentado. Ele (Kauã) vinha saindo da quadra e veio na minha direção _ contou Nieto.
Ferido, e acompanhado pela mulher, Viviane, ele dirigiu até o Hospital Cristo Redentor, onde o menino chegou sem vida, por volta das 21h30min.
Kauã cresceu no loteamento. Roseli de Fátima Ferreira, 47 anos, contou que o menino ficava pouco na rua. Só não abria mão do futebol:
_ Eu era babá dele, cuidava desde pequenino. Era louco por bola, gremista.
Durante a semana, o garoto saía de casa cedo com o pai. Ficava no local de trabalho até ser o horário de ingressar na LBV (Legião da Boa Vontade), onde passava as manhãs. Ao meio-dia, Nieto buscava o filho e levava para almoçar em casa. Saíam novamente juntos. Kauã estudava à tarde na Escola Estadual de Ensino Fundamental professora Branca Diva Pereira de Souza.
Pai e filho voltavam para casa juntos no final da tarde, quando Kauã costumava sair para jogar futebol, na Rua 2006. A mãe de Kauã é professora em uma escola infantil que fica na frente do local em que o filho foi baleado.
Agarrado a um caderno do filho, Nieto dizia na manhã deste sábado que parecia que o menino estava prevendo algo:
_ Vejam o que ele escreveu ontem (na sexta-feira). O nome da cadelinha, o meu, da minha mulher e da avó. Parece que estava sentindo algo. A cachorra nem está saindo do quarto dele.
Na manhã de sábado, a comunidade do loteamento estava assustada, lamentando o crime ocorrido justamente no único local de lazer que há para as crianças.
_ Imagina se fosse no verão? A praça estaria muito mais cheia _ dizia uma moradora.
Moradores avaliam que é o tráfico de drogas que está causando conflitos no local. A partir de informações preliminares, o delegado Adriano Melgaço Junior, titular da 2ª Delegacia de Homicídios, disse que a hipótese para o crime é de acerto de contas entre facções rivais envolvidas no tráfico de drogas.
O alvo dos atiradores seria o outro homem que ficou ferido e que seguia internado em estado grave na manhã deste sábado.
_ A gente não tem segurança em lugar nenhum. Vemos a violência todos os dias no jornal. Mas aqui era muito calmo. Essa noite, passou dando tiroteio e não vemos a polícia _ desabafou o vendedor Pedro dos Santos Santiago, 34 anos, amigo da família de Kauã.
Familiares também estavam apreensivos com a demora na liberação do corpo de Kauã do Departamento Médico Legal (DML). Zero Hora apurou com o Instituto-geral de Perícias (IGP) que a demora se deve á quantidade de trabalho _ pelo menos 10 corpos chegaram para exame no DML desde às 22h de sexta-feira. A previsão de liberação é a partir das 14h deste sábado.