Quem vê de fora o Complexo Prisional de Canoas não entende como as 2.808 vagas permanecem desocupadas. A Rádio Gaúcha esteve no local e conversou com trabalhadores da obra, que relataram que há pouco para fazer - como algumas ligações elétricas, de água e esgoto e pintura.
No módulo I a obra foi concluída e agora o mato cresce no terreno em frente. Quando a reportagem esteve no complexo, chegou inclusive um caminhão entregando alimentos. Agentes da Susepe atuam no local e veículos são estacionados na entrada. Os presos, no entanto, ainda não chegaram. O módulo foi construído para abrigar 393 apenados.
Módulo I terá capacidade para quase 400 apenados (foto: Eduardo Matos / Gaúcha)
Mais adiante, está o módulo II, com capacidade para 2.415 vagas. De fora, se vê operários colocando grama e fazendo pinturas. Mas toda a estrutura está de pé. Um dos operários disse que não há muito mais o que fazer no local. O que está parado é o acesso ao complexo prisional.
A Susepe não permitiu a entrada da reportagem no presídio. Também não indicou alguém para falar sobre a obra. Apenas divulgou uma nota com algumas informações. Entre elas, de que o módulo I está 100% concluído. Também que o módulo II está 99% pronto. Explica que para a ocupação pelos presos, no entanto, será necessária a execução de serviços de interligação dos dois módulos. A previsão de conclusão dessa parte da obra é de aproximadamente 120 dias. No entanto, o serviço sequer foi contratado.
A Secretaria Estadual da Fazenda afirma que faltam R$ 17.284.474,22 para finalizar a construção e ocupar as celas. Também que esse dinheiro, que tem origem em empréstimos com bancos, foi usado no fim do ano passado para pagar 13º salário e custeio da máquina. Acrescenta ainda que está tentando renegociar com bancos para conseguir esse dinheiro.
Mas não é só isso que falta para que o presídio receba os apenados. O governo ainda precisa cumprir contrapartidas e repassar R$ 1,4 milhão para a prefeitura de Canoas concluir o acesso. O secretário de segurança e cidadania do município, Adriano Clafke, lembra que não adianta a obra estar concluída se há outras pendências tão ou mais importantes para operação do presídio.
"Que a obra é condição primária. Uma boa arquitetura. Mas não é o essencial de um novo modelo de casa prisional. O essencial é a prática. E a prática depende desses outros itens", afirma o secretário.
Conforme Adriano Clafke, não há definição sobre o aumento das equipes de saúde e segurança. Também não está confirmada a implantação dos bloqueadores de celulares. E ainda há pendência em relação ao chamado módulo produtivo, que foi acertado para que os presos trabalhem vinculados ao Polo Industrial de Canoas.
Na placa em frente ao complexo prisional, a data de início da obra é 29 de julho de 2013 e de término 24 de abril de 2014. Em 19 de maio de 2015, os presos seguem amontoados no interditado Presídio Central, em Porto Alegre, e em outras cadeias da região, também superlotadas.
Placa em frente à construção indica que obra deveria estar concluída há um ano (foto: Eduardo Matos / Gaúcha)