Após a prisão de seis policiais militares por suposta tortura em Jaguarão, a Gaúcha foi atrás do local onde cinco bandidos teriam sido agredidos e conversou com as vítimas. “Chácara da porrada” é o apelido da casa no campo de um dos PMs presos por tortura. Ali, testemunhas contam que era um ponto de interrogatório com tortura frequente da cidade.
“Antes desse episódio, vários amigos meus já tinham sido levados para a chácara. Os mesmos policiais na mesma chácara, sempre.”, revela um dos envolvidos.
Afastada da cidade, a casa, que registrava movimento à noite, tem o vizinho mais próximo a 100 metros. O policial, dono do lugar, era adestrador da Brigada, participante do movimento tradicionalista. Por isso exibe no pátio cinco cavalos e cinco cachorros ao lado da construção verde, simples. Mais um galinheiro – de galo de rinha.
As agressões a cinco bandidos na madrugada do dia 7 de setembro teriam acontecido a 15 metros de onde dormia o filho de 10 anos do policial. O local escolhido era um galpão separado da casa, que abriga uma mistura de depósito com cocheira. Os instrumentos de doma, aliás, teriam sido utilizados na tortura.
“A gente apanhava de relho, com os freios de cavalo, pisavam em cima com coturno, pedaço de madeira. Teve um moreno que o sargento ‘deu-lhe’ e quebrou o braço, daí ele gritou ‘quebrasse o braço? Ah perai q vou quebrar o outro’ e quebrou mais embaixo”, conta uma vítima que prefere não se identificar.
Outro agredido também lembra da chácara. “Levaram para a chácara e lá o cara ficava algemado, pra baixo, no chão, de bruços, e ele dava com pau, cabo de enxada. Teve um que apanhou mais: cinco sacos plásticos eu vi botarem na cabeça dele. Ele furava com a língua para respirar”, narra.
As agressões duraram até as 5h da manhã para obter a confissão de quem, dos cinco ladrões mais reincidentes da cidade, havia furtado a “chácara da porrada”, naquela mesma noite, enquanto o sargento estava em uma festa de CTG. Um dos momentos mais tensos foi quando esse sargento ligou para um amigo, um patrão de CTG e mecânico da cidade, como conta a promotora Claudia Rodrigues Pegoraro:
“Todas as vítimas dizem q ele falava isso, ‘ah vai lá, busca as armas com numeração raspada que essas armas a gente vai ter que usar pra matar eles’, porque, claro, eles não poderiam usar as da Brigada para matar. Mas eu acho que isso é mais uma tortura psicológica mesmo. Não foram encontradas evidências que comprovassem que essas armas foram levadas”.
O mecânico Fabiano Miranda Caetano, responde em liberdade, mas com uso da tornozeleira. Fora ele, outros seis policiais estão presos. São eles: Osni Silva Freitas, Júlio Cezar Souza Vieira, Edison Fernandes Pinto, Everton Radde da Silva e Rodrigo de Freitas Neumann e Iara Luíza Vitória. O Batalhão do qual eles fazem parte é reincidente em episódios semelhantes, como você pode ver em reportagem da Gaúcha.
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