Os agentes da Delegacia de Roubo de Veículos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) vasculham a Região Metropolitana em busca de um especialista que estaria fornecendo para quadrilheiros um equipamento que clona a frequência de alarme de carros. O aparelho vem sendo usado por bandidos para, aproveitando-se do exato momento em que o proprietário aciona o alarme, "roubar" a frequência que possibilita a abertura do veículo.
Os bandidos permanecem à espreita em locais com afluxo de automóveis, onde aguardam até que o motorista acione o controle - no momento em que ouvem o sinal sonoro que indica o travamento das portas, usam o aparelho que captura a frequên- cia do controle original. Depois disso, esperam a vítima se afastar, abrem o veículo e levam os objetos de valor que encontram - ou até o próprio veículo.
A investigação do Deic dá prosseguimento à Operação Ponto Final, deflagrada em novembro. Na ocasião, foram presos o empresário de autopeças Carlos Rayan Filho, o Carlinhos, e mais 27 pessoas, em cinco cidades da Grande Porto Alegre e em Santa Catarina.
- Foi durante as escutas telefônicas que ouvimos falar da existência deste equipamento. A nossa esperança era encontrá-lo durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão e de prisão. Não o encontramos - afirma o delegado Juliano Ferreira, da Delegacia de Roubo de Veículos.
Com nova tática, ladrões têm vantagens jurídica e técnica
A polícia corre contra o tempo. Embora o aparelho, conhecido entre os bandidos como "controlezinho", tenha sido usado para furtar apenas cinco veículos de luxo até o momento, Ferreira acredita que, se o seu uso for disseminado entre os quadrilheiros, poderá causar aumento na criminalidade.
Até então, os ladrões usavam dois métodos para levar os carros. O primeiro é o roubo à mão armada. No segundo, os bandidos utilizam um bloqueador de frequência que impede o acionamento dos alarmes dos veículos.
O delegado diz que o controlezinho traz duas vantagens ao bandido: uma jurídica, outra técnica. A primeira é que, ao trocar a arma pelo aparelho, ele pratica um furto e não um roubo, o que implica pena menor. A vantagem técnica é que, ao capturar a frequência com o equipamento, não precisa trocar a central eletrônica do carro, porque transmitirá o sinal original. Ao evitar tal manobra, o ladrão ganha tempo para fugir - em média, a troca do equipamento demora 15 minutos.
COMO AS QUADRILHAS AGEM
ROUBO
Clonagem do alarme incrementa os métodos tradicionais dos bandidos
- A quadrilha aproveita o descuido da vítima e a imobiliza, geralmente usando uma arma, e leva o veículo.
- Na maioria das vezes, os bandidos levam o motorista para saber se o veículo não está equipado com corta-corrente - equipamento que, ao ser acionado, desliga o veículo alguns minutos depois.
BLOQUEIO DE FREQUÊNCIA
- A cerca de 10 metros da vítima, o ladrão aciona o bloqueador de frequência. A vítima aperta o botão do alarme, mas o veículo não é trancado. O bloqueador impede que a frequência ligue o alarme.
- O bandido entra no carro e retira a central eletrônica (que controla todas as funções do veículo) e põe no seu lugar um equipamento igual (normalmente, de veículos sinistrados, obtido em ferro-velho).
- Em média, o bandido demora 15 minutos para fazer toda a operação.
CONTROLEZINHO
- O bandido fica próximo à vítima e captura a frequência que o alarme emite ao ser acionado. Depois, por meio de um processo que a polícia desconhece, usam a frequência para clonar o controle.
- O equipamento usado para capturar a frequência teria sido contrabandeado do Paraguai e aperfeiçoado por um técnico em Porto Alegre.
Frequência do crime
Polícia procura especialista que fornece aparelhos para clonagem do alarme de carros na Região Metropolitana
Dispositivo usado em roubo de carros seria obra de técnico em eletrônica
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