O assalto ao restaurante Sharin e a duas dezenas de clientes do estabelecimento, na noite de quarta-feira, expõe o drama de moradores, comerciantes e frequentadores do entorno da Rua Felipe Neri, no bairro Auxiliadora, em Porto Alegre.
Permeada por apartamentos e prédios comerciais em uma das áreas mais nobres da Capital, a região sofre com roubos praticados por bandidos de "fina estampa", como se fossem executivos que trabalham em escritórios das redondezas.
O alvo preferido pelos criminosos que atuam naquela área é o veículo. Arrombamentos, furtos e roubos se tornaram uma prática do cotidiano.
- Todos no bairro sabem que aqui tem hora certa para assaltos. É sempre no começo da manhã. As pessoas estacionam, e o carro é roubado por bandidos bem arrumados - afirma a advogada Janice Aguiar, 54 anos.
A recepcionista Fernanda Noal, 26 anos, relata que o perigo maior é entre 8h e 8h30min.
- Vem para cá de terno e gravata, parecendo empresário. O que temos aqui é só vigilância privada, falta segurança nas ruas. Não se vê PMs, flanelinhas somem e reaparecem depois do roubo - reclama.
O contador Leonir Durante, 51 anos, sentiu na pele a audácia dos ladrões. Às 7h50min do dia 22 de outubro, ele teve o Civic roubado quando chegava para o trabalho.
- Já tinha descido, caminhava pela calçada quando alguém bateu nas minhas costas mandando entregar a chave - lamenta.
Os relatos referem-se a fatos ocorridos nos arredores do cruzamento das ruas Felipe Neri e a Doutor Freire Alemão, essa última figurando entre as 10 vias recordistas em roubos de carro na Capital, conforme registros policiais de setembro. A Rua Freire Alemão tem início junto à Felipe Neri, no prolongamento de um beco com ligação até a Rua 24 de outubro. O trecho acaba servindo como rota de fuga para assaltantes em motos.
É possível que a dupla de ladrões armados que atacou o restaurante Sharin tenha escapado pelo beco, pois invadiu o local escondendo o rosto com capacetes, entre 23h e 23h30min da quarta-feira. Enquanto um deles gravateava o segurança, o outro abordava as vítimas, provocando pânico na clientela.
- Tinha umas 25 pessoas jantando. Anunciaram o assalto e mandaram entregar a carteira e o celular. Em uma mesa, o homem se enfureceu e ameaçou as pessoas. Meu prejuízo foi de uns R$ 3 mil - afirmou um empresário que pediu para seu nome não ser divulgado.
- Foi um pavor, passaram em todas as mesas, e o pessoal entregando suas coisas. Só na nossa mesa levaram, por baixo, R$ 5 mil - relatou em entrevista à Rádio Gaúcha, a publicitária Chana Thomsen.
No caixa do restaurante, foi pego R$ 1,3 mil e dois celulares. PMs foram chamados ao local, fizeram buscas na região, mas não localizaram suspeitos. Sem se identificar, o dono do Sharin disse que vem negociando com outros comerciantes uma parceria para contratação de mais vigilantes particulares para trabalhar na rua.
- Temos grades, cerca elétrica, alarme monitorado e câmeras, mas vamos reforçar a segurança. É a primeira vez que somos assaltados - afirmou.
Segundo ele, como o assalto aconteceu na hora do fechamento do restaurante, as câmeras já estavam desligadas. O roubo foi registrado na 8ª Delegacia da Polícia Civil da Capital, que investigará o caso.
O coronel Alfeu Freitas, comandante do Policiamento da Capital, prometeu incrementar o patrulhamento com PMs a pé na Felipe Neri e ruas adjacentes.
Bandidos 'fina estampa'
Assalto a restaurante expõe riscos no bairro Auxiliadora, em Porto Alegre
Permeada por apartamentos e prédios comerciais, região sofre com roubos praticados por criminosos que fingem ser executivos que trabalham em escritórios das redondezas
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