A Polícia Civil responsabilizou pelo sumiço de peças de um automóvel e um caminhão três funcionários do depósito de veículos SOS Esteio, um dos quatro credenciados pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran) em Porto Alegre.
O desmanche de um Uno e de um caminhão Mercedes-Benz foi flagrado por Zero Hora na edição de 19 de agosto, evidenciando que o furto era uma prática em centros de remoção de veículos oficiais - local para onde são recolhidos automóveis com problemas criminais, documentais ou envolvidos em acidentes de trânsito.
O principal caso a embasar a reportagem foi o flagrante do desmanche de um Uno branco, pertencente ao pedreiro Cladimir Gonçalves de Oliveira. O carro tinha sido furtado e foi encontrado por policiais militares, inteiro.
Quando Cladimir foi buscá-lo no SOS Esteio, dois dias após a BM ter recuperado o veículo, faltavam bancos, estepe, aparelhagem de som, dois cilindros de gás veicular (usado como combustível), o kit gás e uma bateria, nova.
ZH fotografou o veículo sendo depenado pelos próprios funcionários do depósito SOS Esteio. A reportagem também documentou, posteriormente, um outro servidor do depósito removendo e ocultando o tacógrafo de um caminhão guardado no SOS Esteio que tinha sido apreendido pela Polícia Civil.
A delegada Vivian Nascimento, da Delegacia de Roubos de Veículos da Polícia Civil, tomou depoimento do proprietário do Uno e de três repórteres de ZH que flagraram os crimes.
Foi com base nesses depoimentos, além das fotos, que o inquérito apontou como responsáveis três funcionários do SOS Esteio: Adão Luiz Pereira Dorneles, Lairto Heimerdinger (que furtaram peças do Uno) e Elton John Cardoso (que furtou o tacógrafo do caminhão).
Se condenado, trio pode pegar de dois a 12 anos de reclusão
Os três foram indiciados por peculato, que é o crime praticado por funcionário público (no caso, furto). A pena é maior do que a de furto. O trio pode pegar entre dois e 12 anos de reclusão, enquanto para furto a pena varia de um a quatro anos de reclusão.
- Optamos por enquadrá-los em peculato porque, mesmo não sendo funcionários públicos, os três indiciados representavam o poder público, já que trabalhavam num depósito vinculado ao Detran - esclarece a delegada.
Os três chegaram a declarar, em depoimento, que furtavam objetos dos veículos a pedido de um filho da dona do depósito SOS Esteio. A Polícia Civil requisitou vídeos do circuito interno de TV do depósito, mas não existiam gravações referentes aos dias dos furtos.
Conforme um técnico contatado pelos policiais, as imagens ficam armazenadas por no máximo 28 dias e depois sofrem gravações por cima. Como o único indício contra a dona do depósito era a palavra dos ex-funcionários, a delegada optou por não indiciar a empresária.
Em auditoria no SOS Esteio realizada pelo próprio Detran, após a denúncia feita por ZH, ficou constatado o sumiço de peças em 43 veículos (2,5% dos 1,6 mil veículos ali depositados). Não há como comprovar quem furtou os objetos. Os donos do depósito estão sujeitos a descredenciamento, em decorrência das irregularidades, além possíveis indenizações a proprietários de carros pelas perdas.
Entenda o caso
- Zero Hora publicou em 19 de agosto reportagem mostrando um automóvel Uno e um caminhão Mercedes-Benz sendo depenados dentro de um depósito, o SOS Esteio. O estabelecimento, situado em Porto Alegre, é credenciado pelo Detran para receber veículos guinchados por dívidas, acidentes ou crimes.
- Em 20 de agosto, o Detran interditou o SOS Esteio. Ficaram permitidas apenas retiradas de veículos ali depositados, mas não podiam ingressar no depósito veículos recém-removidos.
- Em 21 de agosto, a Polícia Civil abriu inquérito sobre os furtos documentados no SOS Esteio. Foram identificados os funcionários fotografados pela reportagem e que cometeram furtos.