O furto de gado (conhecido como abigeato) aumentou 63,7% na região de Bagé, se comparados o primeiro semestre de 2010 e com o deste ano. Mesmo para Bagé, na Campanha, onde esse tipo de crime sempre foi comum, a taxa de crescimento surpreendeu as autoridades.
Comparando-se os primeiros seis meses de 2012 com o mesmo período do ano passado, houve um crescimento de 19,8% na região, formada por 11 cidades que compõem parte do chamado coração da pecuária de corte gaúcha.
A Polícia Civil tem uma explicação para o crescimento expressivo do número de casos: o abigeato tornou-se crime organizado, afirma o comissário José Mariano Moraes Amaral, da Delegacia de Furto, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec) de Bagé, um dos policiais mais experientes em delitos rurais no Brasil.
- A atual elevação da taxa de abigeato coincide com reorganização de uma quadrilha formada por homens que abatem o gado no campo, motoristas que transportam a carne e comerciantes que vendem para os consumidores. Eles têm ramificações nos municípios da região de Bagé, na periferia de Pelotas, em Rio Grande e nas cidades do Vale do Rio Pardo, como Venâncio Aires - diz o policial.
Amaral diz que a investigação sobre a quadrilha está adiantada. Foi descoberto, por exemplo, que um dos líderes do bando comanda os delitos de dentro do Presídio Regional de Bagé. Alerta, contudo, que desmantelar o bando não será uma tarefa fácil, devido às ramificações dos criminosos. Enquanto os agentes da Defrec investigam o bando, as patrulhas rurais da Brigada Militar (BM) tentam surpreendê-los quando estão circulando pelas centenas de estradas e caminhos que cortam as planícies do pampa gaúcho.
- No final, conseguiremos pegá-los. Temos boa chance, porque contamos com uma parceria com a Polícia Rodoviária Federal para vigiar as rodovias da região, com cinco patrulhas rurais da BM percorrendo as estradas municipais e com um bom volume de informações conseguido pela investigação da Polícia Civil - acredita o major Emílio Teixeira, comandante do 6º Regimento de Polícia Montada, em Bagé.
Semanalmente, os ladrões atacam de duas a três propriedades rurais. Eles abatem lotes de meia dúzia de animais com um tiro na testa. Os abigeatários cortam e levam apenas as partes nobres do gado, como paletas e lombo.
- Nos últimos meses, fui vítima dos abigeatários duas vezes: no final do ano passado, furtaram seis cabeças de gado. E, neste ano, levaram quatro cabeças de ovinos - relato o fazendeiro Paulo Ricardo de Souza Dias, presidente da Associação e do Sindicato Rural de Bagé.
Dias recorda que os proprietários rurais da região costumam enfrentaram "surtos" de abigeato. Esse, porém, seria diferente porque há uma mercado clandestino de carnes em alta, principalmente na região de Rio Grande e Pelotas, para onde foram atraídos centenas de trabalhadores devido ao aquecido da economia local.
- Acredito que, desta vez, o prejuízo do pecuarista será maior - conclui Dias.