Julho é o mês de conscientização sobre as hepatites virais, doenças que têm mostrado aumento na taxa de mortalidade global. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mortes relacionadas às hepatites subiram de 1,1 milhão em 2019 para 1,3 milhão em 2022.
Atualmente 254 milhões de pessoas convivem com a hepatite B e outros 50 milhões com a hepatite C no mundo. A doença já responde como a segunda principal causa infecciosa de morte no planeta, contabilizando 3,5 mil óbitos por dia e 1,3 milhão por ano.
No Brasil, a situação também é considerada alarmante. As hepatites virais mais comuns entre os brasileiros são causadas pelos vírus A, B e C. Dados do Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais do Ministério da Saúde estimam que entre 2020 e 2023 foram notificados 785.571 casos confirmados de hepatites virais no país.
A hepatite viral se caracteriza pela inflamação do fígado e pode ser desencadeada por diferentes vírus. O órgão, essencial para a digestão, metabolismo e desintoxicação, quando sofre pela doença, em muitos casos, é em silêncio, um perigo para o paciente. Segundo o professor titular da Faculdade de Medicina da UFRGS e coordenador do Ambulatório de Hepatites do Hospital de Clínicas, Hugo Cheinquer, quando não tratada, o risco é ainda maior.
— A hepatite é uma inflamação do fígado que, se não tratada, pode levar a pessoa a ter câncer, cirrose ou precisar de transplante. Mesmo não apresente sintomas, como icterícia (coloração amarelada na pele e nos olhos), ela ainda pode ser uma hepatite grave. Uma hepatite que não causa icterícia não é necessariamente menos grave, pois pode cronificar. Isso significa que, ao longo do tempo, pode evoluir para fibrose, cirrose e até câncer hepático —, explica Hugo.
Como a hepatite se manifesta?
As hepatites virais se manifestam de forma aguda ou crônica. Quando aguda, ela se manifesta em qualquer um dos cinco tipos, sendo por um período de aproximadamente uma semana a 10 dias, com sintomas como fadiga, perda de apetite, febre e náuseas. Os sintomas diminuem na medida que a icterícia se desenvolve e após o período, os pacientes começam a se recuperar.
Já a fase crônica acontece quando o vírus persiste por mais de seis meses no paciente, sendo notável pela ausência de sintomas evidentes. Segundo Hugo, "a doença pode progredir silenciosamente, com o paciente percebendo sinais de complicações graves apenas quando a hepatite já está em um estágio avançado."
— As hepatites B e C são as que podem se tornar crônicas, persistindo por mais de seis meses no organismo. A probabilidade de cronificação da hepatite B é muito maior na infância, chegando a 90% em recém-nascidos. Já em adultos, é menos frequente. Em relação à hepatite C, a chance de cronificação é alta tanto em adultos quanto em crianças, em torno de 80% a 90%. As hepatites A e E são predominantemente agudas, raramente se tornando crônicas, exceto em pessoas com sistema imunológico comprometido — completa o especialista.
Diagnóstico precoce é essencial
A detecção da hepatite é essencial para a cura do paciente. O Sistema Público de Saúde (SUS) disponibiliza testes gratuitos para diagnóstico do vírus. Por não apresentarem sintomas em alguns casos, é essencial a realização de exames, principalmente baseados em fatores de risco. O diagnóstico da doença é feito por meio do teste rápido ou de exame específico. O teste rápido é realizado com uma pequena amostra de sangue e pode ser feito o ano inteiro em Unidades Básicas de Saúde.
No entanto, a identificação precoce do vírus permanece um desafio para a saúde pública, especialmente devido à falta de exames regulares e diagnósticos tardios. Apesar do diagnóstico gratuito, a detecção antecipada ainda é um obstáculo.
— A hepatite B, por exemplo, pode levar à cirrose e câncer de fígado, mas existem tratamentos eficazes disponíveis e de fácil acesso. O próprio SUS oferece três remédios no Brasil que são os melhores do mundo nesse tipo de tratamento. O problema é o diagnóstico: temos 1,1 milhão de brasileiros com hepatite crônica B, mas só encontramos 275 mil. E os outros? Como a pessoa vai procurar tratamento se nem sabe se está com o vírus? — finaliza o hepatologista.
Tipos de hepatite
As hepatites virais são doenças infecciosas causadas por cinco vírus distintos: A, B, C, D e E. Cada tipo possui suas particularidades em termos de transmissão, manifestações clínicas e estratégias preventivas.
- Hepatite A: associada a baixos níveis de saneamento básico, pois é transmitida pela ingestão de água ou alimentos contaminados. Quando sintomática, os mais comuns são fadiga, febre, desconforto abdominal e icterícia. A prevenção foca na higiene pessoal e no acesso à água potável. Trata-se de uma doença autolimitada, que não se torna crônica.
- Hepatite B: transmitida sexualmente ou por fluidos corporais como sangue e leite materno. Muitas vezes não apresenta sintomas, mas pode levar a cansaço e icterícia. A prevenção envolve práticas seguras de sexo, cuidado no compartilhamento de itens pessoais e vacinação. Pode ser transmitida de mãe para filho durante a gravidez, por isso, é importante que a grávida faça o pré-natal.
- Hepatite C: principalmente transmitida por contato com sangue contaminado, pode se tornar crônica em uma grande proporção dos casos. A prevenção se dá pelo uso cauteloso de objetos cortantes e práticas sexuais protegidas. Embora não exista vacina, há tratamentos eficazes se administrados precocemente. É uma doença silenciosa, raramente apresentando sintomas até que esteja avançada.
- Hepatite D: ocorre apenas em indivíduos infectados pelo vírus da Hepatite B, compartilhando as mesmas vias de transmissão e medidas preventivas. A coinfecção pode acarretar danos hepáticos graves, como a cirrose.
- Hepatite E: pouco comum no Brasil, é transmitida por via fecal-oral. Seus sintomas e medidas preventivas são similares aos da Hepatite A, com ênfase na higiene e no saneamento básico adequado.
*Produção: Murilo Rodrigues