Cíntia Presser da Silva (*)
Considerada um problema de saúde pública pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é uma doença crônica, progressiva e com impacto de epidemia global. No Brasil, de acordo com o World Obesity Federation1, as prevalências de pessoas afetadas pelo excesso de peso, até 2030, são estimadas em 68,1% para sobrepeso, 29,6% para obesidade e 9,3% para os tipos de obesidade classes II e III — quando os índices de massa corporal são superiores a 35.
A boa notícia é que, cada vez mais, surgem soluções que auxiliam na jornada de perda de peso. Um exemplo dessa evolução é o balão deglutível, o primeiro e único do mundo, sem necessidade de procedimentos invasivos (cirurgia, endoscopia ou anestesia).
O Balão Allurion é totalmente apoiado pelo Programa Allurion, concebido para uma perda de peso rápida e eficaz: durante os quatro meses em que o balão está no estômago, ajuda os pacientes a sentirem-se saciados mais rapidamente e durante mais tempo, reduzindo o tamanho das porções e o apetite e auxiliando na perda de peso. Uma equipe especializada de médicos, nutricionistas e psicólogos e um conjunto completo de ferramentas digitais estão integrados no programa para ajudar os pacientes a iniciar hábitos de vida mais saudáveis, mudar a sua mentalidade e capacitá-los a manter a perda de peso a longo prazo.
O passo a passo para a colocação é um dos diferenciais. O método dura em torno de 15 minutos, podendo ser realizado no consultório médico se houver disponibilidade de um equipamento de RX portátil. Sem cirurgia, endoscopia ou anestesia, o balão vazio é engolido da mesma forma que um suplemento vitamínico, já que o mesmo é envolto por uma cápsula vegana presa a um tubo fino, denominado cateter. A cápsula é ingerida, e um raio-X confirma o posicionamento correto no estômago. Posteriormente, esse mesmo cateter é utilizado para encher o balão com 550ml de água destilada. A partir daí, uma segunda radiografia é feita para verificar se o balão está cheio e bem encaixado dentro do estômago. Por fim, o cateter é removido suavemente e a colocação é concluída.
O balão gástrico deglutível é expelido naturalmente pelo organismo, sem a necessidade de retirada ou de outros procedimentos. Aproximadamente quatro meses após a colocação, uma válvula de liberação é ativada automaticamente, permitindo que o balão esvazie e seja eliminado pelo trato gastrointestinal. A técnica é indicada para quem tem 18 anos ou mais, sendo a idade máxima mais relacionada à idade biológica (o estado de saúde do paciente) do que à cronológica (os anos de vida) e que possua índice de massa corpórea (IMC) acima de 30. Calcula-se o seu IMC dividindo seu peso pela sua altura ao quadrado.
Com o Programa Allurion, não existem dietas especiais, alimentos da moda ou regimes de exercícios extremos. Em vez disso, são estabelecidas metas alcançáveis e importantes, para manter a perda de peso depois que o balão for expelido. Da colocação à eliminação da cápsula, paciente e equipe multidisciplinar estarão conectados e poderão acompanhar e trocar informações sobre todas as etapas que envolvem o emagrecimento. Além do médico, a equipe multidisciplinar de profissionais inclui nutricionistas e, em alguns casos, psicólogos, que acompanham toda a jornada do paciente.
Impacto na saúde pública e nas finanças do país
É importante ressaltar que a obesidade está associada a inúmeras comorbidades e a uma alta taxa de mortalidade, além de aumentar o risco de desenvolvimento de muitas doenças potencialmente graves, incluindo as cardiovasculares (a principal causa de morte no mundo), diabetes e vários tipos de câncer. Muitos pacientes com pressão alta, diabetes ou gordura no fígado precisam perder peso por conta dessas condições crônicas e nem sempre possuem indicação ou acesso a uma cirurgia bariátrica ou outros métodos de emagrecimento. Muitas vezes, inclusive, necessitam perder peso antes de uma cirurgia bariátrica para diminuir o risco cirúrgico. A técnica do balão deglutível também é uma opção para este tipo de público que requer um cuidado maior com a saúde.
Cada vez mais surgem opções terapêuticas modernas que chegam para auxiliar no combate à obesidade. Por ser um tema que envolve saúde pública, a discussão sobre a ampliação de acesso a esse tipo de tecnologia deve estar sempre na pauta das autoridades e decisores do Brasil. Isso porque, quando pensamos em um sistema de saúde cada vez mais sustentável, adotar a prevenção pode ser o melhor caminho. Para se ter uma ideia, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, o Brasil deve ter um impacto econômico por conta da obesidade de mais de US$ 75 milhões até 2035, e um gasto de US$ 19 milhões apenas com assistência médica em saúde na próxima década.
(*) Médica gastroenterologista, mestre em hepatologia, membro da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED)