Perola Grinberg Plapler (*)
De acordo com projeção da ONU, o número de pessoas com mais de 65 anos deve dobrar até 2050, chegando a 1,6 bilhão no mundo. O cenário do envelhecimento populacional acende um alerta para a saúde óssea, em especial a uma questão que passou a fazer parte da agenda global da saúde: a osteoporose, doença que afeta 10 milhões de pessoas no Brasil e provoca 200 mil mortes por ano no país.
O impacto direto e indireto da osteoporose pode ser comparado com o de outras doenças, como câncer e cardiovasculares. As fraturas de quadril, por exemplo, podem acarretar períodos mais longos de internação (11 dias) do que infarto (9,5 dias) e câncer de mama nas mulheres (7,6 dias), por exemplo. Além disso, 17% dos pacientes podem precisar de cuidado integral após uma fratura de quadril e mais da metade (56%) podem ter algum grau de incapacidade motora, não recuperando nunca a independência e autonomia de antes da fratura3. Estimativas apontam ainda que mais da metade dos gastos com osteoporose no Brasil está relacionada à perda de produtividade. Além disso, o tratamento dos indivíduos que sofrem nova fratura no intervalo de um ano pode sair quase o dobro em comparação a quem não teve uma fratura anterior.
Assim como outras doenças com alto impacto na saúde pública, a osteoporose também precisa estar no radar dos gestores de saúde. O tema exige uma atenção especial para que protocolos e diretrizes de tratamento estejam sempre atualizados, via Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), na regulamentação do que é coberto pelas operadoras de planos de saúde, ou pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no SUS (Conitec), que determina o que é incluído no SUS.
Nos últimos anos, particularmente, temos tido muitas novidades para o tratamento da osteoporose no Brasil. O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas de Osteoporose no SUS, que ficou por quase uma década sem novidades, está sendo atualizado, com a disponibilização de três novas tecnologias injetáveis sendo que o terceiro medicamento foi o mais recente a ser lançado no mercado internacional e brasileiro _ um imunobiológico formador ósseo (romosozumabe), que já foi incorporado e em breve estará disponível gratuitamente aos pacientes elegíveis para esse tipo de terapia.
Alguns Estados do Brasil, também de forma complementar, buscam soluções regionais para incluir outras tecnologias que ainda não estão pautadas no protocolo federal, como o denosumabe, imunobiológico que se encontra incorporado ao Protocolo Estadual de Osteoporose de Goiás desde o ano passado.
É importante destacar que cada uma das classes medicamentosas para o tratamento da osteoporose age em alvos diferentes e em momentos específicos da remodelação óssea. Temos o privilégio, portanto, de contar com vários recursos. Dessa forma, os pacientes podem e devem ser avaliados individualmente e receber o medicamento mais adequado para o momento. Para decidir qual a medicação ideal, existe recentemente uma orientação de se avaliar qual a gravidade da osteoporose, depois de uma avaliação do risco de fratura nos próximos anos. Daí a importância de ter no arsenal do Ministério da Saúde todos os medicamentos já padronizados e usados em todo o mundo, com evidências científicas bem definidas, aumentando o leque de opções.
Não sabemos quem terá a primeira fratura, mas quem já teve uma fratura aumenta em muito a chance de ter outras. Por isso, a importância de vários centros de atendimento de pacientes com osteoporose no Brasil e no mundo, com o objetivo de tratar com medicamentos e medidas não farmacológicas, esses pacientes com maior fragilidade do esqueleto ósseo, evitando a progressão das incapacidades geradas pela doença.
(*) Fisiatra e diretora da Divisão de Medicina Física do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP)