Daniel Carlos Garlipp (*)
A ciência já abordou diversas vezes a importância da atividade física como promotora de uma vida mais saudável. Mas uma rotina organizada que privilegia essa prática tem, também, um papel fundamental sobre a saúde mental — um tema abordado durante o 23º Congresso de Stress e Qualidade de Vida da International Stress Management Association (Isma-BR), realizado entre os dias 20 e 22 deste mês no hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre.
A prática do exercício físico é influenciada por diversos fatores, como a alimentação, o meio ambiente e a situação socioeconômica de cada pessoa. Além disso, a atividade física pode gerar uma grande melhoria na qualidade de vida da população, porque atua tanto na saúde física quanto na mental.
Nesse sentido, nos últimos cinco anos diversos estudos têm modificado e ampliado o conhecimento sobre o exercício físico e seus benefícios. Por exemplo, o lactato, que é produzido durante o treino, já foi considerado prejudicial ao organismo. O lactato é um produto do metabolismo da glicose. Ou seja, é resultado do processo da transformação da glicose em energia para as células. Hoje, é visto como um composto excelente, porque, além de servir como substrato energético, facilita as conexões nervosas.
Uma prática regular de exercícios físicos ajuda, por exemplo, nos controles de níveis de ansiedade e de estresse — e inclusive na redução de estados mais depressivos em que a pessoa possa se encontrar.
Uma prática regular de exercícios físicos é capaz de garantir métodos de prevenção e controle de uma série de problemas, como doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes e hipertensão, mas acaba, também, chegando ao campo psicológico. Ela ajuda, por exemplo, nos controles de níveis de ansiedade e de estresse — e inclusive na redução de estados mais depressivos em que a pessoa possa se encontrar. Então, o exercício acaba sendo um excelente meio para as pessoas descarregarem as suas tensões.
Além disso, a atividade física funciona como uma espécie de antídoto contra uma série de doenças. O exercício preserva a quantidade da bainha de mielina, reduzindo, assim a incidência de doença de Alzheimer. A bainha de mielina é uma substância rica em gordura que envolve os axônios de alguns neurônios e aumenta sua velocidade de condução, facilitando a rápida comunicação entre os neurônios. As atividades físicas também liberam neurotransmissores excitatórios e inibitórios, o que diminui o risco e os efeitos causados pela doença de Parkinson.
Outro benefício é a liberação de encefalinas, como a betaendorfina, que serve como analgésico e ainda traz uma sensação de bem-estar. Ocorre ainda a liberação de adrenalina durante a prática de exercícios físicos. Pessoas com depressão têm baixos índices de adrenalina, e os exercícios ajudam a combater esse efeito. Quem pratica atividades físicas tem ainda maior liberação de irisina, um hormônio secretado na musculatura esquelética, que auxilia no fortalecimento do sistema imune. A irisina, também chamada de hormônio do esporte, tem outro atributo, já que é um forte aliado no combate à obesidade, por auxiliar na queima de calorias.
O exercício físico é uma atividade antiestresse fundamental. Quando nos movimentamos com algum vigor, ocorre a redução de hormônios como o cortisol, que é acionado justamente em situações de perigo, aumentando o nível de estresse. E há a libertação de endorfinas, que se tornam responsáveis pela sensação de bem-estar. Ao mesmo tempo, a atividade física tem um impacto direto na qualidade do sono, outro pilar da saúde e fator primordial para a redução do estresse.
Sentimentos enfrentados no dia a dia em decorrência do mundo atual, como raiva e frustração, que acabam formando uma sociedade extremamente competitiva, pesam muito sobre as pessoas. O exercício físico consegue reduzir consideravelmente o impacto de todos esses fatores. Melhora a autoimagem e a autoestima, aumentando o vigor, a sensação de bem-estar e o humor. Enfim, colocar o exercício físico em sua rotina faz bem não só para o corpo, mas para a mente.
(*) Doutor em ciências do movimento humano e professor dos cursos de Medicina e Educação Física da Ulbra