Solange Lompa Truda (*)
Mais do que nunca, observamos dentro e fora da escola práticas do bullying e suas consequências na vida dos estudantes. Mas como entender o limite entre uma simples brincadeira e o bullying?
Muitas pessoas ainda acham que as vítimas são sensíveis demais ou que estão de exagero. Escutamos ainda que “não passa de brincadeira de criança”. Compete não só à escola, mas, acima de tudo, aos pais e familiares estarem atentos aos sinais que esse tipo de agressão produzem na saúde mental das vítimas e de seus agressores.
A brincadeira é entendida como uma atividade prazerosa, que, além de promover o desenvolvimento global, incentiva a interação entre os pares, a resolução construtiva de conflitos, oportunizando diversão e criatividade às crianças. Remete a uma relação de troca e de prazer. Já no bullying, a ação é repetitiva, intencional, agressiva, e a relação de poder é desigual: só o agressor está se divertindo e tendo prazer, enquanto a vítima sofre.
Precisamos promover maior prevenção e acolhimento nas escolas e na família. Temos certeza de que o diálogo continua sendo a principal via de acesso para que a ajuda chegue aos que sofrem o bullying. O que não podemos é ficar de braços cruzados diante de atitudes presenciais ou virtuais que podem causar muitos danos emocionais, como autoestima afetada, transtornos de atenção e concentração, baixo rendimento, dificuldade de ir para escola, agressividade e dificuldades de relacionamento social. Além disso, o bullying contamina a comunidade escolar com ansiedade e medo.
As cinco categorias do bullying
O livro Mentes Perigosas nas Escolas, da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, divide o bullying em cinco categorias: verbal (insulto, ofensa, xingamento, gozações, apelidos pejorativos), físico e material (bater, chutar, espancar, empurrar, beliscar, roubar, destruir pertences das vítimas ou atirar objetos nas vítimas), psicológico e moral (irritar, humilhar, ridicularizar, ignorar, isolar, ameaçar, difamar ou aterrorizar), sexual (abusar, violentar, assediar ou insinuar) e virtual (agressão verbal, difamação e gozação pela internet).
Entretanto, nem todos os atos de agressividade que acontecem no ambiente escolar são considerados bullying, por isso precisamos reconhecer a prática e contar com os professores, coordenadores e psicólogos das escolas, para a correta avaliação dos episódios, se foram atos isolados ou se recorrentes, e buscar a melhor forma de ajudar todos envolvidos. Cabe aos pais informar e trocar com a escola de seus filhos, e à escola, mais trabalhos de conscientização dos alunos e um acompanhamento mais próximo dos envolvidos. A criança ou o adolescente precisa se sentir segura dentro do ambiente escolar, até para que possa conseguir expressar seus anseios, medos e necessidades.
Livros ajudam as crianças a entender o bullying
Isso pode ser feito através de rodas de conversas, espaços que possibilitem o diálogo e a troca de experiências, tendo uma explicação educativa e satisfatória para compreenderem por que o bullying não deve ser praticado em aula e demais espaços das nossas relações sociais. A fim de auxiliar neste processo, contamos como várias referências bibliográficas, das quais gostaria de destacar algumas.
O livro Hugo e a Gangue dos Sapos, escrito por Francesca Simon, mostra a história de um pequeno sapinho que é maltratado por outros seres da mesma espécie e aprende com o pato uma boa lição de como se defender sozinho. Na mesma linha, com textos de Claire Alexander, Luci e o Touro Valentão apresenta uma difícil relação entre dois colegas de turma e como esta realidade pode ser mudada. No livro Me Chame pelo Nome, de Nana Toledo, podemos abordar de forma bem lúdica noções de respeito e amizade, mostrando que alguns apelidos podem ser de mau gosto ou até preconceituosos para com os colegas, e que as pessoas gostam de ser chamadas pelo nome.
(*) Psicóloga, especialista na infância e na adolescência