Solange Lompa Truda (*)
Uma questão delicada que merece nossa reflexão e pela qual seguidamente pais e educadores nos procuram é: como podemos falar para as crianças quando os pais estão se separando?
Pais e famílias buscam nosso auxílio e orientações para administrar ou encontrar a forma “mais adequada” para participar a decisão da separação do casal aos filhos. Sabemos que o término de um relacionamento nunca é uma decisão fácil e indolor. E quando se trata de uma separação com filhos, este processo torna-se ainda mais difícil.
Afinal, trata-se de uma desconstrução da identidade de casal, para uma nova identidade, agora na condição de pais separados. A “forma mais adequada” vai depender de cada história, circunstâncias e pessoas envolvidas nesse processo de separação.
Nossa recomendação é que possam informar a decisão juntos, respeitando a comunicação de acordo com a idade dos filhos, mas deixando sempre claro que as crianças não tiveram nenhuma parcela de participação nessa decisão dos pais.
Mesmo que a decisão seja tomada em conjunto, de forma consensual, o término de um casamento é sempre um marco na vida do casal e, claro, na dos filhos. As crianças são as que mais sentem e, por isso, independentemente dos motivos que levaram à separação, é fundamental que os impactos sejam amenizados, em nome da sua saúde emocional. E independentemente da faixa etária, que possam ser informadas sempre com a verdade, de forma clara, afetiva e segura.
Nossa recomendação é de que os pais possam informar a decisão juntos, respeitando a comunicação de acordo com a idade dos filhos, mas deixando sempre claro que as crianças não tiveram nenhuma parcela de participação nessa decisão. É essencial que a criança ou adolescente entenda que a decisão parte do casal, do processo dos adultos, esclarecendo inclusive que, independentemente de estarem ou não juntos, não deixarão de cuidar, educar e amar o filho, pois continuarão sendo seus pais. Enfim, que o carinho e o amor que sentem pelos filhos não irão mudar. Isso tem que ser garantido e verbalizado pelos pais às crianças, mesmo que venham a acontecer alterações em suas rotinas.
Parece tão óbvio, mas como é difícil esse momento. Como se faz necessário trabalhar os sentimentos e expectativas dos adultos, para que a comunicação seja clara, afetuosa e segura aos filhos, e às vezes até contar com ajuda profissional.
Livros podem ajudar as crianças
Todos da família passarão por um luto e um processo de adaptação muito significativo. Começará uma nova rotina doméstica com diversas emoções. Para ajudar na compreensão e facilitar as informações, sugerimos recursos da literatura infantil, pois as histórias possibilitam que crianças simbolizem seus conflitos psíquicos, além de gerar prazer e acolhimento.
Crianças encontram nas histórias possibilidades para falar sobre seus sentimentos e contar aos adultos como vivem as situações do seu dia a dia, em uma linguagem afetiva e lúdica. Lembro aqui de alguns livros para crianças pequenas, como Lá e Aqui, de Carolina Moreyra e Odilon Moraes que traz uma abordagem delicada e sensível sobre a separação dos pais pelo olhar do filho. Em Duas Casas, Roseana Murray trabalha com interessantes metáforas, revelando por uma simbologia bonita o caminho para que a criança processe a nova dinâmica familiar. Em Duas Casas e uma Mochila, Sonia Mendes e Jana Magalhães referem os conflitos e pensamentos de uma menina sendo transmitidos quase como um diário, que permite entrarmos no mundo interno da criança. Acho uma comovente história, que trata da a elaboração e da superação do conflito pelo olhar das fantasias e do universo infantil.
É bem importante também que os pais comuniquem a escola e aos professores, incluindo como suporte de auxílio e apoio psicológico. Sabemos que professores comprometidos e escola engajada com a nova situação do aluno farão diferença nesta transição.
Confiem na nova configuração de família que vocês estão formando, compartilhando com seus filhos, que os pais também sofrem, podem falhar, mas que estão sempre tentando acertar e crescendo com eles, buscando a melhor forma de ser, estar e ressignificar a vida.
(*) Psicóloga clínica e escolar