No modelo de vida acelerado em que vivemos, desligar da rotina e aproveitar de verdade os momentos de descanso nem sempre é fácil. Nas férias, além do repouso físico, relaxar a mente é necessário. Mas isso pode ser desafiador, pois preocupações, compromissos e responsabilidades custam a sair dos pensamentos – eles não entram em férias.
É normal que essa transição de rotina não seja fácil, afinal, não é possível o cérebro simplesmente deixar de considerar o que até ontem era importante para viver alguns dias focado em coisas diferentes. O psicanalista Robson de Freitas Pereira explica como nossa mente cria assimilações da rotina, as quais é difícil romper:
— Quando você aprende a dirigir, por exemplo, pensa em todas as operações a serem feitas. Pisar na embreagem, pisar no freio, olhar para os retrovisores etc. Com o passar do tempo, isso se automatiza. Você não pensa mais nessas relações. Isso é uma lógica nossa, de introjetar e fazer automaticamente. Cortar com alguns desses hábitos é uma das tarefas mais difíceis do ponto de vista psíquico.
Além da complexidade natural, a pandemia afeta o descanso. Depois de quase dois anos com restrições, Pereira avalia que pode ser mais complicado para algumas pessoas superar os efeitos sociais, econômicos e subjetivos que o período de isolamento trouxe:
— Tem de se reconhecer que podem ser férias muito especiais, as primeiras póscovid-19, nas quais a gente se permite ter um pouco mais de contato, de abertura. E reconhecer também que esse tempo que nós passamos com restrições de encontros com os outros teve efeitos no nosso cotidiano, na nossa forma de relação com o corpo e com o ambiente. É preciso reconhecer para poder superar.
Cinco dicas para desligar
- Faça atividades diferentes
Como a rotina é um dos principais causadores de estresse, quebrar o ciclo de atividades do dia a dia é uma maneira de fazer o tempo valer de forma diferente. Tente aprender algo novo que você sempre teve vontade de fazer, saia em horários alternativos, conheça outros lugares em sua cidade ou nos arredores. Podem ser atividades simples e rápidas, o importante é variar a experiência que se experimenta no cotidiano.
- Procure ficar off-line
Ajuda no distanciamento mental dos compromissos ficar longe também dos dispositivos que usamos cotidianamente. Não checar e-mails, redes sociais e outros meios usados para trabalhar vai auxiliar a busca pelo relaxamento. Se for usar esses dispositivos, que seja para se conectar com algum amigo ou familiar ou para ler, jogar, assistir filmes e séries etc.
- Movimente o corpo
Atividades físicas podem ajudar à mente a renovar energias. Exercitar-se é importante sempre, mas, após os dias de isolamento dos últimos tempos, refazer esse hábito pode ajudar a relaxar e fazer as férias valerem mais a pena. Mas não exagere e, se possível, procure acompanhamento profissional.
- Veja seus amigos
Refazer conexões com pessoas distantes, ou até mesmo ver as pessoas habituais, mas em outros contextos e ambientes, é outra situação que ajuda a se distrair da rotina. Falar de assuntos que nem sempre estão na pauta, expor como se sente e ouvir as pessoas trazem sensações boas. Isso também pode ajudar a superar os medos que possam ter se desenvolvido durante as fases mais duras da pandemia, mas, claro, faça isso seguindo as orientações de segurança.
- Não se cobre
Mesmo que você tenha feito planos ou traçado metas para esse período, não exija de si caso as coisas não aconteçam como o planejado. Pereira ressalta que a cobrança por produtividade não é restrita aos ambientes de trabalho, mas que o modelo no qual a gente vive nos condiciona a buscar sempre um resultado e que, tentar oprimir esse tipo de pensamento durante um período é saudável.
Produção: Állisson Santiago