O Dia Nacional de Combate à Dengue, sempre no penúltimo sábado de novembro, tem um significado ainda mais importante no RS neste ano. Em 2021, o Estado registrou o maior número de casos da doença e de mortes (11 óbitos) em sua história. Segundo o boletim epidemiológico mais recente do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS/RS), até a 44ª semana do ano houve 9.529 ocorrências da enfermidade, sendo 9.181 deles autóctones, ou seja, contaminações ocorridas dentro do território gaúcho.
Os motivos
Há algumas possíveis explicações para esse aumento expressivo, e a pandemia da covid-19 surge como uma dessas razões. Responsável pelo Programa de Arboviroroses (tipos de doenças transmitidas por insetos) do Centro de Vigilância Estadual de Saúde (CEVS), Cátia Favreto acredita que a divisão da atenção dos cuidados em saúde por parte da sociedade pode ter tido um impacto importante:
— A população acabou deixando de lado outras doenças, até pela orientação de não sair de casa. Mas acontece que o mosquito está dentro das nossas casas, dos nossos pátios, nossos terrenos. E a população acabou deixando de fazer essa limpeza básica, que acontecia incentivada pela mídia e pelo poder público. Todas as forças se voltaram para a pandemia covid e o número de mosquitos aumentou significativamente.
De olho no veraneio
Esses números inspiram uma atenção especial neste verão, já que é a época em que há mais proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus da dengue, do zikavirus e do vírus chikungunya. No RS, a grande maioria dos casos acontece entre o final de março e o final de maio, portanto, os meses que antecedem esse período são fundamentais para agir preventivamente.
A medida básica para evitar a multiplicação do mosquito é eliminar os criadouros. O Aedes aegypti põe seus ovos em locais onde há água parada e limpa. Como o vírus da dengue é urbano, a conscientização coletiva é fundamental. No RS, de acordo com o boletim epidemiológico do CEVS, 427 dos 497 municípios do Estado estão classificados como infestados por essa espécie de mosquito.
— Não é só responsabilidade do poder público, mas também individual. Que a gente faça as limpezas em casa, que a gente não deixe essas águas paradas. Essa é a parte mais importante. É papel do poder público limpar terreno baldio, tirar pneu, eliminar esses depósitos grandes, mas a dengue está dentro das nossas casas, então cada um precisa fazer a sua parte — orienta a especialista.
Cuide desses locais
Basicamente, qualquer objeto que pode acumular água é um criadouro em potencial de Aedes aegypti. A atenção deve ser especialmente para as áreas externas das casas e para os telhados. Medidas individuais importantes:
- Preencher vasos e pratos de plantas com areia;
- Tampar devidamente caixas d’água e outros reservatórios de água;
- Higienizar regularmente os potes de água dos animais domésticos;
- Descartar o lixo corretamente;
- Revisar o estado de calhas, ralos e dos depósitos de água de geladeiras e aparelhos de ar-condicionado;
- Vigiar o acúmulo de água em lajes;
- Orientar vizinhos, familiares e amigos e alertar o poder público sobre locais abandonados.
Sintomas
Em mais de 80% dos casos, os pacientes tiveram febre, mialgia (dor muscular) e cefaleia (dor de cabeça). Outros sintomas observados foram náusea, dor retro-orbital (atrás do olho), vômito, manchas vermelhas na pele e dor nas articulações.
Há quatro tipos diferentes de vírus da dengue no país, portanto, uma pessoa pode contrair a doença até quatro vezes. Uma reinfecção pode ser ainda mais perigosa que a primeira contaminação, pois o corpo fica mais sensível às ações do agente viral. Não há ganho de imunidade, no caso da dengue.
Quando a doença evolui para o estágio conhecido como dengue hemorrágica, o risco de morte é ainda maior. Os principais sintomas desta fase são dores abdominais fortes e constantes, pele fria, pálida e úmida, pressão baixa, sangramentos por nariz e boca, sensação de sede e boca seca, sonolência e outros, que são comuns à primeira etapa.
Tratamento
Indiferentemente do estágio, havendo suspeita de dengue a recomendação é procurar imediatamente uma unidade de saúde para diagnosticar a doença e dar início ao tratamento. Não há um remédio específico, sendo o tratamento essencialmente para cuidar dos sintomas. O objetivo é manter o organismo forte o suficiente para que o próprio sistema imunológico combata o agente causador, por isso as orientações principais são repouso e ingestão de muito líquido.
É importante que os pacientes com dengue mantenham-se isolados, já que, quando contaminados, podem propagar a doença. Basta levar uma picada de um mosquito que não é hospedeiro do vírus para ele tornar-se um vetor e ser capaz de adoecer outra pessoa.
Fontes: Ministério da Saúde, Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS/RS), Cátia Favreto, responsável pelo Programa de Arboviroroses do Centro de Vigilância Estadual de Saúde (CEVS)
Produção: Állisson Santiago