Não é por acaso que deixar de fumar e moderar o consumo de bebida alcoólica é uma recomendação de 10 a cada 10 médicos. Tabagismo e alcoolismo podem desencadear grande quantidade de problemas de saúde de ordem neurológica, respiratória e cardiovascular, entre outras. Essas questões também são as principais causadoras do câncer de boca, doença cuja semana nacional de prevenção ocorreu entre 1º e 7 de novembro, instituída pela lei 13.230, e que tem o objetivo de incentivar ações de conscientização e fomentar o debate sobre este tipo de enfermidade.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 90% dos diagnósticos de câncer de boca ocorrem em fumantes e esse risco aumenta, e muito, com a associação do hábito de fumar com a ingestão exagerada de álcool.
— O cigarro tem substâncias, como a nicotina, que causam câncer. Além disso, a fumaça oriunda dele, assim como o álcool, causa irritação na mucosa, na língua, bochecha, gengiva. E a irritação da mucosa, de forma contínua, é determinante na formação de lesões cancerígenas — explica Nelson Eguia, presidente do Conselho Regional de Odontologia do Rio Grande do Sul.
Outros vilões
Também contribuem para o surgimento de tumores a má higiene bucal, uma dieta pobre em nutrientes e a exposição contínua ao sol, que pode atingir a região do lábio. Pesquisas apontam que o vírus HPV está relacionado a alguns casos de câncer de boca, portanto recomenda-se o uso de camisinha inclusive para sexo oral. O odontologista Eguia ressalta que há, ainda, a incidência em pessoas que têm próteses desadaptadas e dentes fraturados, situações que podem resultar no surgimento de lesões cancerígenas.
Como reconhecer
A doença pode atingir todas as partes da cavidade oral, ou seja, pode ser observada em uma ou mais regiões da boca, como nos lábios, língua, palato (céu da boca), gengivas e bochechas. Os primeiros sinais são o surgimento de lesões, especialmente se elas não cicatrizam durante um período maior do que 15 dias. Ainda nas fases mais iniciais podem ser observadas manchas ou placas vermelhas e esbranquiçadas no interior da boca.
Já em estágios mais avançados, o câncer ainda pode causar a formação de nódulos no pescoço, rouquidão constante dificuldade para mastigar, engolir e falar e a sensação de algo entalado na garganta.
Ao notar qualquer um desses sintomas, um cirurgião-dentista deve ser consultado imediatamente, especialmente se tratando de uma pessoa incluída no grupo de risco.
— Em qualquer caso de câncer, o diagnóstico precoce é fundamental. Quanto antes tratar, podemos evitar a evolução da doença, fazendo com que a melhora seja mais rápida — explica Eguia.
Tratamento
O método de tratamento usado irá variar conforme o estágio em que o tumor se encontra. Na maioria dos casos, são adotados procedimentos cirúrgicos ou radioterapia, que também podem ser utilizados de forma associada. Os dois tipos de técnica costumam apresentar resultados positivos e são escolhidos conforme a avaliação médica, geralmente baseada na localização do câncer e nas alterações que ele está provocando.
Mais comum em homens
Há uma diferença expressiva na quantidade de casos na comparação entre homens e mulheres. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), entre todos os tipos de câncer, o de boca é o quinto mais frequente em pessoas do sexo masculino, enquanto é o 13º entre o sexo feminino, com uma estimativa para 2022 de 11,2 mil casos para eles e 4 mil casos entre elas em todo o país.
No Rio Grande do Sul, o Inca prevê o surgimento de 660 casos da doença no ano que vem (520 em homens e 140 em mulheres), sendo 70 deles em Porto Alegre (40 em homens e 30 em mulheres).
A explicação para ser mais comum nos homens é mais social do que científica, afirma Nelson Eguia:
— Os homens cultivam mais esses vícios prejudiciais do que as mulheres. Os dados mostram que os homens são mais consumidores de álcool e, também, cigarro. E as quantidades também são diferentes.
Novidade no Estado
A partir de maio de 2022, o Rio Grande do Sul passará a ter um centro de referência no tratamento deste tipo de câncer. O Instituto Nacional do Câncer Bucal (INCB), que ficará em Porto Alegre (Rua Vasco da Gama,723), será um espaço para prevenção, orientação e tratamento destas enfermidades.