Vida

+Saúde

O câncer de pele e a pandemia

Dermatologistas estão preocupados com a queda nos índices de diagnóstico precoce

GZH

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Medidas de distanciamento social não significam sinal verde para relaxar nos cuidados com a exposição ao sol

Com a chegada do verão, um velho conhecido dos brasileiros volta ao centro do debate de saúde: o câncer de pele. Diretamente ligado à exposição solar, este é o tipo de alteração cancerígena mais incidente no país uma em cada quatro das novas ocorrências de tumor diagnosticadas, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca).  

Neste período, são intensificadas as campanhas de conscientização e prevenção, como o Dezembro Laranja. Mas, no verão da pandemia, no contexto do distanciamento social, alguém pode se perguntar: com a possibilidade de as pessoas se exporem menos ao sol, ainda será preciso preocupar-se com o câncer de pele?

Atraso

Para a coordenadora do Departamento de Oncologia Cutânea da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Jade Cury Martins, a realidade das medidas de combate à covid-19 não é um sinal verde para relaxar na prevenção ao câncer como o uso do filtro solar. Segundo a dermatologista, o impacto do coronavírus no quadro geral pode ser negativo: a queda drástica no número de diagnósticos precoces, essenciais para aumentar as chances de cura.

Os atendimentos ambulatoriais foram suspensos por uma época, no auge da pandemia, e mesmo naqueles que não foram suspensos, muitos pacientes sentiram medo de ir ao médico. Com isso, estamos atrasando os diagnósticos e descobrindo lesões já mais avançadas alerta a especialista. 

Dados levantados pela SBD junto a secretarias municipais e estaduais de Saúde demonstram que, de janeiro a setembro, a procura por atendimentos de dermatologia preventiva caiu cerca de 48%, se comparado ao ano anterior. 

Negligência

Somado ao subdiagnóstico, há uma espécie de "desvalorização" da doença, se comparada a outros tipos de câncer. De acordo com a médica e pesquisadora Caroline Albuquerque, oncologista clínica do Hospital São Lucas da PUCRS e da Oncoclínica, a negligência em relação ao tumor de pele é mais um fator que atrapalha o processo de diagnóstico precoce e de cura da doença que, se não diagnosticada e tratada, pode ser fatal:

As pessoas têm a falsa ideia de que é só um problema de pele, só uma pinta, e acabam não se importando. A gente vê a população aderindo muito mais ao rastreamento do câncer de mama, por exemplo, enquanto a pele é negligenciada. 

Sobrecarga

Diante deste cenário, a expectativa das especialistas é de que, além de uma verificação maior de casos já avançados, o próximo ano seja marcado por uma sobrecarga nos sistemas de saúde sobretudo o sistema público. Deste modo, a orientação é de que, independentemente da pandemia, a população permaneça tomando os cuidados necessários para a prevenção do câncer de pele, realize avaliação dermatológica anualmente e procure atendimento médico sempre que notar alterações cutâneas que possam indicar a presença da doença. 

Conheça os tipos mais comuns

Carcinomas Também chamados de não melanomas, representam cerca de 90% dos casos. Em geral, tendem a ser menos letais do que os melanomas, com baixo índice de metástase (espalhamento para outros órgãos) e grande chance de cura se descobertos precocemente. Há dois tipos frequentes: o carcinoma basocelular, que geralmente se desenvolve em áreas como cabeça e pescoço, tem crescimento lento e raramente se espalha para outras partes do corpo e o espinocelular, que costuma aparecer em rosto, orelhas, lábios, pescoço e dorso da mão, podendo também surgir em cicatrizes ou feridas crônicas da pele em qualquer parte do corpo. Ambos, apesar de menos graves, podem levar à morte se não diagnosticados e tratados a tempo.

Melanomas Mais raro, é o câncer de pele que vem de pintas, manchas e sinais, podendo ser detectado em qualquer parte do corpo. É o tipo mais grave, devido ao grande potencial de provocar metástase. 

Como se prevenir

  • Utilize protetor solar com fator de proteção acima de 30 diariamente, mesmo quando estiver em casa e em dias nublados. 
  • Não abandone o filtro solar quando estiver utilizando máscara. Como todo tecido sobretudo os que têm fator de proteção embutido na composição , a máscara ajuda a evitar a incidência direta dos raios solares, mas não pode ser considerada um mecanismo de proteção. 
  • Quando estiver na rua, proteja-se utilizando chapéus, óculos e sombrinhas. 
  • Evite expor-se ao sol nos horários de maior concentração dos raios ultravioleta, das 10h às 16h. 
  • Realize o autoexame e faça anualmente um check-up dermatológico, a fim de verificar a presença de manchas, pintas e demais sinais que podem indicar câncer de pele.

Saiba quando procurar um médico

Ao realizar o autoexame, utilize o sistema ABCDE, que indica os sinais de perigo que precisam ser analisados em pintas, manchas e sinais que surgirem no corpo. 

Preste atenção

É importante ficar atento para o aparecimento de feridas que não cicatrizam, sangram fácil e voltam sempre a aparecer no mesmo local. 

Produção: Camila Bengo

Fontes: Instituto Nacional do Câncer (Inca), Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e dermatologistas Jade Cury Martins e Caroline Albuquerque

GZH faz parte do The Trust Project
Saiba Mais
RBS BRAND STUDIO

Balanço Final

20:30 - 22:00