Indispensável para o bom funcionamento do organismo, a água regula a temperatura corporal, melhora a absorção de nutrientes, desintoxica e hidrata o corpo. No entanto, uma mensagem que circula pelas redes sociais afirma que a bebida, quando gelada, faz mal à saúde.
Entre os malefícios citados no texto, que é atribuído (erroneamente) ao médico Drauzio Varella, estão problemas cardíacos, no fígado, no estômago e no intestino – neste último causando, inclusive, câncer. Mas será que ingerir água gelada pode mesmo ocasionar todas essas doenças?
Em 2018, o Ministério da Saúde já havia publicado em seu site uma nota desmentindo a informação. A matéria destaca que, além de informações falsas, o texto contém erros de português e de grafia (o nome de Drauzio está com acento) e passa por diversas modificações ao longo dos anos, sempre com a mesma afirmação sobre a bebida.
Cynthia Molina Bastos, médica de família do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), acredita que o boato tenha surgido por causa do mito de que o corpo quente em contato com superfícies frias ou bebidas geladas entra em choque térmico. Ela explica que o corpo é preparado para isso:
– A partir do momento em que tu começas a tomar a água, o corpo começa a aquecer a bebida e ela entra em equilíbrio.
Sobre a afirmação de que a água prende a gordura no fígado e pode fazer com que a pessoa necessite de transplante, Cynthia esclarece que a esteatose hepática não tem nenhuma associação com a água e sim com o estilo de alimentação do indivíduo. Além disso, diz ser raro o caso de transplante por causa da doença, que tem como tratamento a atividade física e alimentação regulada.
– Água gelada não causa câncer, não faz mal à saúde. O corpo gasta energia para aquecê-la, mas isso não faz diferença para uma pessoa saudável, que pode tomar quanta água quiser, na temperatura que considere ideal – enfatiza a médica.
Cuidado com a desidratação
Já sobre o trecho da mensagem que diz que a bebida gelada fecha veias do coração e é a principal causa de ataques cardíacos, Solano Vinicius Berger, cardiologista do HCPA, garante que a informação não tem nenhum embasamento científico. Segundo ele, a ingestão de água, quente ou gelada, não possui relação alguma com o aparelho cardiovascular.
– O que realmente está relacionado são os conhecidos fatores de risco, como tabagismo, obesidade e hipertensão – relata.
Berger salienta que a ingestão de água deve ser estimulada, especialmente em dias mais quentes, pelos inúmeros benefícios que traz ao organismo. Além disso, afirma que a hidratação auxilia pessoas que utilizam medicamentos para controlar a pressão arterial:
– Elas estão sujeitas a terem quedas de pressão, porque podem ficar desidratadas. A água diminui a chance de isso acontecer.
A nutricionista Anne Dalla Costa esclarece que, além da desidratação, pessoas que ingerem pouca água tendem a ter constipação, que atrapalha a absorção de nutrientes. Enfatiza também que a bebida é primordial para a saúde independentemente da temperatura, já que não há diferença na absorção de água quente ou gelada.
Além dos dois litros que normalmente são recomendados, Anne explica que há uma forma de calcular a quantidade adequada de água que cada pessoa deve ingerir:
– Sempre fazemos um cálculo de 30 a 35 mililitros por quilo de peso (do indivíduo).