Autora do livro Tenho Monstros na Barriga, uma ferramenta para as crianças aprenderem a identificar as próprias emoções, a especialista em inteligência emocional e social Tonia Casarin dá dicas de como desenvolver essa competência nos pequenos desde cedo. Confira trechos da entrevista.
Qual a importância da inteligência emocional na infância?
Na primeira infância, de zero a seis anos, as crianças fazem de 700 a mil conexões neurais por segundo, é o momento em que temos maior atividade cerebral. Por que não ensiná-la nessa janela de oportunidade? Porém, a parte do cérebro responsável por regular as emoções se desenvolve até os 25 anos. Não podemos esperar que a criança vá conseguir regular todas as emoções, porque não está biologicamente pronta.
Como estimular as crianças?
Acolhendo os sentimentos dela. Explicando que ela pode sentir raiva, tristeza. Dizer que a mãe e o pai também têm esses sentimentos. Ao acolher, não se supervaloriza, mas se passa a mensagem de que aquele lugar é seguro para dividir o que se sente. É importante dividir emoções para que a criança perceba que aquilo é natural. Uma forma legal de ajudar é fazendo os pequenos nomearem as emoções. Isso contribui para a “alfabetização” emocional, e eles conectam o que sentem com uma palavra. Quando se sabe o termo, pode-se expressar.
Crianças pequenas com raiva e que mordem, por exemplo: essa é a única forma que elas conhecem de expressar a emoção. Se os responsáveis ensinam que não pode morder e acolhem o sentimento, a criança passa a ter consciência. O processo de desenvolvimento da inteligência emocional passa pelos adultos com os quais a criança se relaciona.
Qual o papel da escola nesse processo?
De forma geral, isso está começando a acontecer nas instituições de ensino, mas ainda é preciso evoluir muito. As crianças não vão à escola só para desenvolver a parte cognitiva, mas também as competências de relacionamentos, de se colocar no lugar do outro.
Como lidar com a raiva nas crianças?
Deve-se acolher e limitar o comportamento. No caso de uma criança que tem raiva e bate em alguém, por exemplo, é preciso explicar que tudo bem sentir raiva, mas que não é “tudo bem” bater. Entender o gatilho também é importante, e depois pensar em formas de evitar esse comportamento. O adulto também pode dividir: “Mamãe faz tal coisa quando sente raiva”. Pode ser uma forma de mostrar que, naquela casa, as pessoas se ajudam. Quando não se cria esse espaço seguro para trocar e dividir, passamos a mensagem de que naquele local não se fala sobre problemas e emoções.