A ciência já sabe que a chave da longevidade envolve uma combinação de bons genes com hábitos como exercício físico, alimentação saudável, zero tabagismo e consumo controlado de álcool. Mas, um novo componente tem conquistado espaço na equação: o cultivo de laços sociais. É o chamado "efeito aldeia": ter amigos, família e vizinhos por perto é, além de prazeroso, ótimo para a saúde.
O conceito foi proposto pela psicóloga canadense Susan Pinker no livro The Village Effect: How Face-to-Face Contact Can Make Us Healthier and Happier (O efeito aldeia: como o contato presencial pode nos deixar mais saudáveis e felizes, em tradução livre), publicado em 2014. Ela concedeu uma entrevista por e-mail para GaúchaZh. Confira.
Podemos dizer que cultivar vínculos sociais com amigos, familiares e parceiros é tão importante quanto (ou mais) do que comer bem, se exercitar, parar de fumar e beber álcool moderadamente? Por quê?
A interação protege mais a saúde do que perder peso ou parar de fumar. Há milhares de estudos mostrando a importância de fazer exercícios para a longevidade, mas é mais importante não estar sozinho. Poucas pessoas percebem que os relacionamentos são tão protetores. Se percebessem, elas colocariam mais ênfase na sustentação de suas amizades e conexões com os membros da família e até com seus vizinhos e colegas. Existem dois tipos de relação que se mostraram poderosamente protetoras: nossos laços íntimos, isto é, os relacionamentos próximos que reduzem as dificuldades e compartilham as alegrias, e também os vínculos mais fracos, aquelas relações que temos com vizinhos, conhecidos, colegas, pessoas que encontramos no trabalho, na igreja, na academia ou no supermercado. Surpreendentemente, esses vínculos mais fracos também são importantes para a nossa saúde, e estão desaparecendo à medida que nossas vidas se movem irrevogavelmente para o ambiente online, em direção a uma rotina mais solitária.
Por quê?
Como mamíferos sociais, desenvolvemos um sistema complexo de verificações e equilíbrios moleculares que garantem que pertencemos a um grupo. O sentimento de pertencimento indica a nossos sistemas biológicos, orientados para a sobrevivência, que estamos protegidos — assim como a saciedade após uma refeição sinaliza ao organismo que a necessidade de calorias não é mais uma questão urgente. A ausência desse sentimento de pertencimento é a solidão, que comunica ao nosso sistema biológico que precisamos resolver um problema relacionado à sobrevivência de forma rápida. A solidão pode ser tão angustiante porque é muito prejudicial para o corpo. É uma forma de dor que evoluiu para nos certificarmos de que estamos sempre cercados e protegidos da fome e dos predadores. Isso se traduz em atividade bioquímica, como, por exemplo, a liberação de neurotransmissores que eliminam a dor e induzem a confiança quando estamos com outros ou danos no nível molecular diante da falta de interações pessoais. John Cacioppo, pesquisador sobre o tema da Universidade de Chicago, diz que a solidão deixa uma impressão digital distinta em cada célula de nossos corpos.
A solidão é tóxica?
Não é tóxica quando a pessoa precisa dela para trabalhar, se concentrar ou ser feliz. O questão central é que não devemos ter uma "dieta" constante de solidão. Aqueles que passam a maior parte ou o tempo todo sozinhos têm um aumento de 30% no risco de morrer em comparação com aqueles que rompem a solidão com amigos e familiares. Pessoas verdadeiramente introvertidas — que representam apenas 25% da população — também precisam de contato social, mas menos. Elas têm a necessidade de controlar como e quando essa interação ocorre.
Em outra perspectiva, quais são os benefícios de ficar quieto e sozinho?
Muitos de nós precisam de um tempo em silêncio para pensar, criar ou fazer o nosso trabalho. Mas você não precisa estar sozinho para ficar quieto. Por exemplo, mesmo atividades silenciosas, como ler ou pintar, se feitas perto de outras pessoas, são uma forma de contato social. Você sente que os outros estão perto de você, mesmo que não haja conversa. Acho que é por isso que os espaços de coworking decolaram. Atualmente, muitas pessoas trabalham por conta própria e sobrevivem de contrato a contrato. Mas você não precisa estar sozinho. Você ainda pode trabalhar com outros — e apenas buscá-los quando precisa se conectar. O mundo está começando a reconhecer que os ambientes sociais que fornecem sustento são tão importantes como alimentos bons e saudáveis, e ainda mais importantes do que respirar o ar limpo.