Um estudo publicado em maio deste ano, abrangendo mais de 300 pais norte-americanos, demonstrou que existe uma correlação entre deixar de interagir com uma criança para verificar o celular ou o tablet e o aparecimento de problemas comportamentais nessa criança. O trabalho investigou a chamada "technoference", termo cunhado a partir das palavras "tecnologia" e "interferência".
Os pesquisadores Brandon McDaniel (Illinois State University) e Jane Radesky (University of Michigan) questionaram 168 mães e 165 pais de 170 famílias com crianças de até cinco anos. A intenção era avaliar como a utilização de equipamentos tecnológicos – celulares, computadores, tablets, iPods e videogames – afetava as interações com os filhos. GaúchaZH falou com McDaniel, que estuda desenvolvimento humano e família e morou em Minas Gerais entre 2005 e 2007. Ele alerta que as pessoas tendem a não se dar conta de que o uso que fazem da tecnologia pode ser problemático:
– A maioria de nós acredita que o uso que faz dos aparelhos não tem nada demais e que não estamos afetando nossas crianças, mas as pesquisas mostram que as pessoas costumam subestimar a quantidade de tempo que gastam nos seus aparelhos e que é muito fácil o celular levar-nos a questões problemáticas, como o uso em demasia ou o uso como uma tentativa de regular a tristeza e outras emoções. Se não somos conscientes e não prestamos atenção nisso quando estamos com nossos filhos, é muito fácil sermos atraídos para o celular em prejuízo da interação face a face com eles.
Esse fenômeno apareceu com clareza no estudo realizado por McDaniel. Metade dos pais relatou que seu uso de tecnologia interrompia as interações com as crianças três ou mais vezes por dia – a situação clássica de parar tudo para conferir uma mensagem que entrou no celular, por exemplo. Os pesquisadores constataram que isso se relacionava, nas crianças, a comportamentos como agitação, frustração, irritação e fúria.
Essa relação apareceu principalmente nas relações entre as crianças e suas mães, o que pode ser explicado por o tempo de convívio materno ser maior. Só 11% dos pais e mães disseram que suas interações com os filhos não eram afetadas pelo uso de smartphones e similares.
– Descobrimos que tanto comportamentos internalizados quanto externalizados estão associados à "technoference". Em outras palavras, as crianças começam a agir ou talvez a chorar e a agitar-se mais quando se sentem desconectadas de seus pais devido à frequente interrupção pela tecnologia – relata McDaniel.
O pesquisador disse a GaúchaZH que os pais devem se colocar no lugar dos filhos, para ter uma ideia de como as crianças podem ser afetadas pela "technoference".
– Peço para pais e adultos imaginarem como se sentem quando seu cônjuge, companheiro, amigo ou colega os ignora ou não os escuta porque, em vez disso, estão focados em algum aparelho eletrônico. A pessoa sente-se chateada ou, no mínimo, desconectada do outro nesse momento. Para as crianças, é muito semelhante, mas elas não estão com suas habilidades e sua capacidade de controlar emoções bem desenvolvidas. Por isso, reagem e se comportam mal para chamar atenção.