Uma pesquisa conduzida pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) alerta para os riscos de surgirem novos sorotipos de zika, como já ocorre com a dengue. De acordo com o professor Edison Luiz Durigon, isso poderia dificultar o desenvolvimento de uma vacina para o vírus e comprometer a eficácia dos exames de diagnósticos criados até então.
A hipótese foi levantada a partir da análise de dados de três pacientes assintomáticos – dois homens e uma mulher – que foram acompanhados pela equipe do ICB-USP ao longo de meses. Eles tiveram amostras de sangue, saliva, urina e esperma, no caso dos homens, colhidas semanalmente e enviadas para os Estados Unidos, onde o genoma completo do vírus foi sequenciado.
Leia mais:
Cientistas usam vírus da zika para matar células de tumor cerebral
SUS passa a oferecer medicamento para tratamento da microcefalia
Fiocruz descobre que pernilongo pode transmitir zika
– Semana a semana, nós comparávamos o que havia de diferente no genoma viral. Chegamos a ver no mesmo paciente cepas compartimentadas, ou seja, o vírus presente no sêmen era diferente do que havia na urina. Em todos os casos, o patógeno que encontramos no estágio final da infecção não era o mesmo que entrou no paciente – contou Durigon.
Conforme o pesquisador, os homens seguiram eliminando o zika pelo esperma em grandes quantidades por até seis meses. Com isso, os espermatozoides já se formavam infectados.
– Se a gravidez vai para frente nesses casos e quais as consequências para o feto é algo que não temos ideia – disse.
Além do esperma, um dos voluntários também teve o vírus detectado na saliva por três meses. Diante do achado, o professor destaca a importância de mudar a cultura médica, que foca os cuidados pré-natais nas mulheres:
– Não adianta testar apenas as gestantes para a presença do vírus, recomendar apenas às mulheres que usem repelente e evitem áreas de risco durante a gestação e deixar os homens à vontade, seguindo a vida normalmente. Elas podem ser contaminadas pelos próprios parceiros e isso é algo que os médicos ainda não estão atentos.