Toda cidade, por menor que seja, tem a sua praça. A praça é o coração da cidade. E toda grande metrópole tem (ou deveria ter) um parque urbano, o pulmão verde. Praça e parque são sempre excelentes refúgios de lazer, respiro e alegria. Lembrei dessa dupla depois dos intermináveis dias de chuva que passamos no Rio Grande do Sul. Foi só o sol reaparecer para sentir aquela vontade de se jogar em uma gostosa área verde de Porto Alegre com chimarrão embaixo do braço.
Em viagens, adoro visitar parques. Além de serem grandes atrações turísticas, revelam os costumes e a alma da cidade. Recentemente estive na Alemanha e destaco dois lugares impressionantes: o Englischer Garten, de Munique, e o Tiergarten, de Berlim – ambos na lista dos maiores parques urbanos do mundo. Como era primavera e dia de sol, tive a chance de vivenciar a cultura do biergarten (jardim da cerveja, em tradução literal) dentro dos parques. Para minha surpresa, pude constatar que não se trata apenas de um jardim para beber cerveja ao ar livre. O biergarten é também uma área verde para celebrar a folga e o sol ao lado dos amigos e da família. São várias mesas de piquenique espalhadas sob as árvores. Os alemães carregam suas lancheiras térmicas com petiscos e até refeições para compartilharem à mesa. Só a bebida deve ser adquirida no local (há sempre um restaurante e serviço self-service). Fiquei horas observando pessoas de todas as idades se divertindo nesse grande banquete despojado a céu aberto. Adorei!
Voltei para Porto Alegre, e os dias ficaram escuros por um bom tempo. Mas, de repente, o sol voltou a brilhar. Foi hora de ajudar as vítimas das chuvas e vendavais e também de correr para nossas áreas verdes para tirar o mofo do corpo. Sei bem que não temos os parques das Europa, muito menos biergarten. Mas temos o astral gostoso do "chima garten" pelos bancos de praça, rodas de amigos e sombras de árvores.
No mesmo fim de semana, fui à Encol (ops, Carlos Simão Arnt), escalei árvores com meu filho de 10 anos (pequenos prazeres que nos deixam tão felizes!). Na Redenção, fiz a minha feira orgânica que tanto amo. No Parque Germânia, caminhei com as amigas. Animadíssima com o céu azul, fui fotografar minha filha e suas amigas adolescentes na Gustavo Langsch, a praça do bairro residencial Bela Vista que, no outono, tem cenário europeu com as cores das folhas dos plátanos. Mal estacionei na praça quase deserta em pleno sábado de sol e logo uma moça assustada, que passeava com o cachorro, arrancando o carro, gritou: "Não se arrisquem, um casal acaba de ser assaltado dentro da praça".
Porto Alegre já teve orgulho de ser uma das cidades mais arborizadas do Brasil. Hoje, figura no ranking das 50 cidades com maior número de homicídios do mundo. Já teve o lindo cenário do Café do Lago da Redenção, que hoje está completamente depredado, assim como vários patrimônios verdes que estão abandonados. No último fim de semana, quando o sol voltou a brilhar, percebi que, por mais que a gente se esforce em ter um olhar positivo e em querer aproveitar ao máximo nossa cidade com a família, Porto Alegre segue abaixo de mau tempo.