A aproximação dos dias mais frios do ano leva também a uma disposição cada vez menor de praticar atividades físicas. Mesmo entre os mais inspirados, é difícil que a vontade de se mexer supere a de permanecer na cama por mais uns minutinhos – principalmente quando o dia está chuvoso e as cobertas, quentinhas.
Mas seguir uma rotina de exercícios no outono e no inverno é tão importante quanto manter-se ativo durante os períodos mais quentes. A inércia quando o mundo lá fora não está dos mais atraentes pode significar prejuízos para a saúde e para a retomada dos bons hábitos, especialmente quando esse sedentarismo sazonal é aliado a uma alimentação mais desregrada, algo bem comum nesta época.
Quando cai a temperatura, diminuem também o número de corredores nas ruas e a quantidade de caminhantes nos parques. Mesmo em locais fechados, como as academias, percebe-se menor fluxo de pessoas. Conforme os números registrados nos termômetros vão diminuindo, o número de atletas amadores também apresenta uma queda acentuada.
– No verão, as pessoas ficam mesmo mais dispostas. Mas muitas acabam não criando o hábito e incluindo o exercício na rotina em qualquer época do ano. Ainda mais no frio. E isso é ruim, porque nosso corpo não foi feito para hibernar – avalia o profissional de educação física Lauro Aguiar, vice-presidente do Conselho Regional de Educação Física do Rio Grande do Sul (Cref).
Para o psicólogo clínico e do esporte Rodrigo Acioli, superar o desconforto é parte intrínseca da prática de exercícios. Portanto, lidar com o, geralmente, indesejado frio deveria ser tão comum quanto sentir os braços um pouco doloridos após uma sessão de musculação, ou o peso das pernas depois de uma corrida: algo com que se tem de conviver por vezes, um pequeno sacrifício diante de um bem maior.
– Momentos de desconforto fazem parte do processo. Nosso organismo não sabe que está frio, ele não pode parar. Então, a pessoa tem que se adaptar, acostumar o corpo e a mente a uma rotina de atividades físicas.
E essa compreensão, essa adaptação, tudo é uma questão muito psicológica – diz Acioli, que é presidente da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte (Abrapesp).
Para quem não convence a si mesmo da importância e da necessidade de se mexer, o resultado costuma ser visto assim que a paisagem volta a florir: com a chegada da primavera, os parques ganham movimento, as ruas novamente ficam apinhadas de pessoas caminhando e correndo, e a procura por inscrições em clubes e academias ganha fôlego. A pressa na tentativa de compensar o tempo perdido, porém, poderia ser evitada com a devida manutenção dos exercícios no outono e inverno.
Os dias mais frios estão chegando. Você vai se deixar vencer por eles? Caso ainda esteja na dúvida, apresentamos quatro motivos para você não deixar os exercícios de lado, mesmo quando a cama e o sofá parecem exercer uma atração insuperável:
Se sozinho não vai, busque uma inspiração
Se você não confia na própria força de vontade, que tal se apoiar em outras pessoas que passam por questões semelhantes para, juntas, irem atrás de um mesmo objetivo? Pois é com essa premissa que diversos grupos de corrida e outras atividades têm atraído adeptos. Muitas vezes acompanhado da inclusão do postulante em animados grupos de mensagens instantâneas, o ingresso costuma significar incentivo, competição saudável e sociabilidade para aqueles que vão atrás dessa opção.
Foi assim que o especialista em segurança da informação Rodrigo Hammer conseguiu a inspiração que faltava. Depois de anos de avanços e recuos no objetivo de manter a saúde em dia com exercícios, ele descobriu um grupo em Porto Alegre com pessoas que compartilhavam dos mesmos desejos, e conseguiu adaptar a rotina.
– Os participantes entram em uma espiral positiva. Todo mundo se ajuda, e um acaba inspirando o outro. Quando é assim, não tem inverno, não tem frio, não tem sábado, não tem domingo: sempre há alguém para te ajudar a ter aquela vontade de fazer exercício – diz o agora corredor.
Hammer relata dias em que se atrasou para um treino e pensou que, se estivesse sozinho, teria cancelado o compromisso. Mas, mandando mensagem para outros participantes do grupo de corrida, acabava encontrando gente em situação parecida e combinando um novo horário, sem deixar de lado o exercício.
Convença a si mesmo da importância de se mexer
Por mais que o médico prescreva a atividade física como parte fundamental da prevenção ou tratamento de doenças; por mais que família e amigos insistam que é preciso se mexer; por mais que você leia e ouça a respeito, nada vai surtir tanto efeito no combate ao sedentarismo, em especial nos dias frios, quanto simplesmente se convencer de que é preciso fazer exercícios para ter uma vida saudável. É você, afinal, quem vai se levantar e movimentar o corpo, então não há influência externa com maior capacidade de convencimento que a reflexão individual.
O psicólogo do esporte Rodrigo Acioli divide em três categorias os atletas amadores: aqueles que praticam atividade física por uma questão social, como correr com amigos; aqueles que o fazem por vaidade, em busca de uma estética que consideram mais adequada; e os que fazem exercícios por questão de saúde, para evitar ou tratar algum mal. Em qualquer uma dessas três variações, a percepção é a mesma: só sai do sofá quem se convence do quanto isso é importante.
Inclua os exercícios físicos na rotina
Psicólogos e preparadores físicos afirmam que há uma motivação que só perde para a exigência médica quando o assunto é manter os exercícios em dia. É quando a atividade física passa a ser incorporada à rotina, entendida como algo tão inadiável quanto trabalhar ou ir ao supermercado, por exemplo. No momento em que isso passa a se tornar um hábito que independe de sol, chuva ou preguiça e você realmente se compromete com sua realização.
Portanto, a dica para não se deixar vencer pelo frio ou qualquer outro obstáculo climático é simplesmente acordar ou sair do trabalho sabendo, sem nem ao menos fazer um esforço para pensar, que você vai fazer os exercícios a que se propõe naquele dia. Na hesitação é que está o veneno para a criação do hábito: é quando se pensa "hoje eu não vou" que começa o caminho até uma eventual interrupção total da atividade física.
É melhor fazer menos do que não fazer
Ainda que se indique manter um planejamento uniforme para a prática de atividades físicas durante todo o ano, quem acompanha atletas amadores que vêm e vão garante: se o frio é realmente um grande impeditivo, melhor é fazer os exercícios em menor intensidade do que não fazê-los.
Caso você não esteja com vontade de passar meia hora correndo no inverno, vale diminuir o passo e incluir uma caminhada leve no trajeto, quem sabe intercalando corrida e caminhada. Se permanecer uma hora na academia parece inibitivo, melhor é ficar 45 minutos por lá, mas ir.
É muito pior para a saúde e o condicionamento físico, por outro lado, parar completamente durante uma estação ou duas do ano e só depois, quando os dias ficam mais quentes, retomar a prática. Isso equivale a dar alguns passos para trás, o que compromete toda a eficácia do projeto.