Pode parecer estranho e até um pouco nojento, mas grande parte do nosso corpo é composto por bactérias, vírus e protozoários – juntos, eles podem chegar a um quilo do peso total de uma pessoa. Esses hóspedes, que compõem a chamada microbiota, são, em geral, "do bem", e ajudam a manter a saúde em dia.
Para dar uma força a esse conjunto de microrganismos é que surgiu a ideia da alimentação viva, os chamados probióticos, palavra de origem grega que significa "pró-vida", contrário de antibiótico.
– Os probióticos são microrganismos que, quando ingeridos de forma adequada, contribuem para o bom funcionamento do sistema imunológico e intestinal – explica a nutricionista Fernanda Bortolon.
É justamente no intestino que eles mais atuam, afinal, o órgão abriga 70% da microbiota.
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– O intestino é nosso segundo cérebro, então merece uma atenção especial – destaca a nutricionista clínica Alexandra Oshiro.
Quando ingerimos produtos ricos em microrganismos, passamos a contar com um exército de bactérias que trabalham a nosso favor. Eles pré-digerem os alimentos. É como se você delegasse aos microrganismos parte da sua digestão.
Os alimentos vivos ainda atuam melhorando o trânsito intestinal, a absorção de nutrientes, fortalecem o sistema imunológico, desintoxicam e até mesmo reduzem alguns sintomas de depressão.
No mercado, cresce o número de produtos com essa proposta na forma de bebidas, comidas e até suplementação. Lembrando que os iogurtes, quando não são recheados de açúcar, também carregam bactérias do bem. Veja quais outros alimentos com estas características já dá para encontrar nas prateleiras.
Kombucha
O aroma azedinho, que remete ao amargor da cerveja, é facilmente desfeito ao primeiro gole dessa bebida gaseificada feita à base de chá e açúcar. Embora tenha cara de novidade, a kombucha já tem milhares de anos.
– Ela existe desde a China antiga, cerca de 220 anos antes de Cristo. Recentemente, a kombucha começou a se popularizar em países como Estados Unidos e Austrália – diz Raquel Abegg, sócia-fundadora de uma empresa especializada na bebida.
O processo de fermentação ocorre em função do scoby, uma espécie de disco gelatinoso composto por colônias de bactérias e leveduras de 13 tipos. Ao longo do processo, os microrganismos vão se alimentando do açúcar, resultando em uma bebida com baixo teor de carboidrato (açúcar) e cheia de nutrientes como vitaminas do complexo B e C e aminoácidos essenciais. Além disso, é antioxidante, em função dos chás, e, apesar de não ser fonte de cafeína, é considerada um alimento energético, podendo ser indicada para consumo pré-exercício. Como é ácida e tem sabor marcante, o ideal é começar tomando pequenas porções, de 100ml por dia.
Kefir
É uma colônia de leveduras e microrganismos em forma de grãos, que pode se reproduzir na água com açúcar mascavo ou no leite. Para isso, é preciso depositar os grãos nessas bebidas e esperar no mínimo seis horas. No leite, as bactérias se alimentam da lactose. Na água, o açúcar vira alimento.
Depois de fermentado, o leite vira um iogurte. Já o kefir produzido a partir da água fica com sabor muito ácido. Por isso, a recomendação é usar o produto em preparações como sucos e vitaminas.
– Há 30 cepas de microrganismos no kefir. Eles auxiliam no fortalecimento da microbiota intestinal, otimizam o metabolismo, reduzem os processos alérgicos, têm ação antibiótica e antifúngica – afirma a nutricionista Fernanda Bortolon.
Conservas
São outra forma de consumir probióticos. Elas são preparadas por meio da colocação de vegetais da estação em uma salmoura e depois fechadas em um pote de vidro. Ao garantir um ambiente sem oxigênio, as bactérias inertes ou probióticas se reproduzem.
A explicação para o ambiente propício ao desenvolvimento de bactérias boas e não as ruins é que, ao se multiplicarem, elas baixam o pH para menos de 4,5. Os patógenos não se proliferam em ambientes com pH inferior a 4,5.
Mas é preciso ficar atento às conservas industrializadas, que recebem aditivos e conservantes, prejudiciais à saúde.
O que é fermentação
É um fenômeno que converte o açúcar dos alimentos em ácido láctico, em álcool, ou em ácido acético (vinagre). Esta transformação é realizada por microrganismos adicionados ou naturalmente presentes nos alimentos.
De acordo com a nutricionista Fernanda Bortolon, a fermentação é um dos métodos mais antigos de conservação de alimentos.
– A fermentação láctica ou lactofermentação é a mais interessante do ponto de vista nutricional – avalia.
Também são probióticos: leites fermentados, iogurtes, coalhada e pasta de soja