Chef de cozinha e apresentadora de TV, Bela Gil autografou seu terceiro livro, Ingredientes do Brasil (Globo Estilo, 200 páginas), nesta terça-feira, em Porto Alegre. Aos 29 anos, além de comandar o Bela Cozinha no GNT, a filha de Gilberto Gil tem uma linha de produtos, um canal no YouTube e assina o cardápio dos restaurantes Da Bela.
Antes da sessão de autógrafos, na livraria Saraiva do Shopping Iguatemi, a chef, que é focada em alimentação saudável, conversou com ZH sobre o novo trabalho, no qual apresenta receitas e benefícios dos ingredientes.
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O livro fala dos ingredientes do Brasil desde o título. Como surgiu a ideia de fazê-lo especificamente sobre produtos daqui?
Nas últimas duas temporadas do programa Bela Cozinha, saí com um caminhão-cozinha atrás dos produtores e dos produtos. Comecei na Bahia, depois fui para o Rio. Então, tive a oportunidade de presenciar exatamente a produção de alimentos superbrasileiros, como azeite de dendê, cacau, palmito pupunha. Achei que um livro que pudesse retratar e valorizar isso seria muito incrível. Tanto que nele tenho fotos dos convidados do programa, como artistas, mas também dos produtores. Queria mostrar o rosto de quem colhe a nossa alface, a nossa rúcula, quem faz o nosso azeite de dendê.
O que de mais importante sai do aprendizado de ter deixado uma cozinha fixa para viajar?
O aprendizado foi muito em cima da troca de experiências com esses produtores, das comidas tradicionais que eles consomem, dos modos de preparo culinários que são novos para mim. Foi lindo ver a feitura do dendê, não imaginava como era. Foi muito enriquecedor.
As receitas que estão no livro também são baseadas nessas experiências ou são receitas que tu já fazias antes?
São receitas que eu fiz para o programa, baseadas nesses produtos e produtores. Foi uma elaboração com ideias que eu já tinha, mas também muito espontânea, porque eu estava viajando e precisava cozinhar com o que tinha. É uma mistura de conhecimentos antigos e novos.
No livro, antes das receitas, tu falas sobre o alimento. Como é o teu trabalho de pesquisa?
Leio muito. Gosto muito de ler, trocar experiências, viajar e conhecer produtores, lugares e produtos diferentes. Mas a base de meu aprendizado é a pesquisa. Quando viajo, adoro me enfiar em bibliotecas e ler livros sobre culinária e de receitas. Aqui no Brasil, a gente tem muitas universidades legais, estaduais e federais, que pesquisam e valorizam produtos nossos. As castanhas de baru, o coco babaçu, as frutas típicas do Nordeste. Acho que é muito rico.
O livro é de receitas veganas, mas tu não és vegana. Como surgiu a ideia?
Selecionei todas as receitas para o livro e sempre vejo se são veganas, vegetarianas ou sem glúten para colocar um asterisco avisando. Quando fui ver, todas eram. Falei: "Gente, é uma oportunidade incrível de fazer um livro 100% vegano e sem glúten". Acho muito legal porque o Bela Cozinha é um programa, diria, 90% vegano. Esse livro é muito para representar esse novo nicho de pessoas e dar mais voz para elas. Independentemente de a escolha ser por saúde, meio ambiente, animais. Acho que elas precisam de respeito.
De forma geral, como tu vês a alimentação do brasileiro?
Bem mal. Acho que o brasileiro desperdiça a vantagem de ter na própria terra muitas coisas boas, muitos vegetais e frutos. A gente desperdiça essa oportunidade de comer bem. Não sou contra nenhum tipo de comida, não acho que a gente deve largar os industrializados para sempre, mas a gente tem de inserir eles na nossa dieta de uma maneira adequada, com moderação. O problema é a quantidade excessiva. Ninguém consome 25g de açúcar por dia, que é a quantidade que a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda. A gente consome muito mais, se pensar que uma latinha de refrigerante tem 35g de açúcar, isso seria 138% da quantidade recomendada. A questão não é o alimento em si, mas a quantidade. Vejo que o brasileiro está trocando o arroz e feijão pelo macarrão instantâneo e o suco fresco pelo refrigerante. Isso é uma pena.