Aos 29 anos, Gabriela Trevisan dos Santos é um dos grandes nomes no cenário científico no Brasil e, junto a outros pesquisadores, promete deixar a sua marca com o trabalho que vem desenvolvendo. A jovem santa-mariense, que é professora do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), foi uma das sete cientistas condecoradas no 11º Prêmio L’Oreal Unesco para Mulheres na Ciência, promovido junto com a Academia Brasileira de Ciências (ABC).
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Ela venceu na categoria Ciências da Saúde, com o projeto que investiga novos tratamentos para a dor em pacientes com esclerose múltipla, e vai receber R$ 50 mil como bolsa-auxílio para dar prosseguimento em sua pesquisa. Ao todo, o prêmio recebeu mais de 400 inscrições. Gabriela é a segunda pesquisadora da região a ganhar o prêmio. Há exatos 10 anos, a pró-reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão do Centro Universitário Franciscano, Solange Binotto Fagan, venceu na área Ciências Físicas com um projeto de estudo sobre as nanoestruturas de carbono.
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A trajetória de Gabriela começou em 2005, com uma bolsa de iniciação científica, quando ainda era aluna do curso de Farmácia na UFSM e circulava pelos corredores do prédio 18, de um laboratório para outro. Depois de concluir o mestrado e doutorado na mesma instituição, ela ainda fez pós-doutorado em Ciências Biológicas na University of Arizona, nos Estados Unidos.
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O projeto vencedor do prêmio, que será entregue no dia 20 de outubro, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, ainda está em fase inicial. A pesquisa conta ainda com a colaboração de outros professores da UFSM, da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) e da Universidade de Florença, da Itália. Eles têm, a partir de agora, dois anos para realizar avanços na área.
A escolha por estudar as causas das dores provocadas pela doença e a busca de novos tratamentos e fármacos para a inflamação tem a motivação em casa: a mãe de Gabriela tem esclerose múltipla, que é uma doença inflamatória crônica do sistema nervoso central, de característica autoimune, e que tem como principais sintomas dores de cabeça, nas mãos e nos pés.
– Ela sente bastante cansaço, muita dor de cabeça. Foi o que me incentivou a começar as pesquisas na área. As dores e o formigamento nas extremidades são os primeiros sintomas que surgem. Nossa ideia é melhorar a qualidade de vida desses pacientes, desenvolvendo analgésicos com esse novo mecanismo de ação, como alternativa. Os medicamentos que são usados hoje em dia não têm uma eficácia muito grande nesse sentido – explica a pesquisadora.
Para combater a dor
A proposta é pesquisar novos remédios para combater essas dores. Segundo Gabriela, estudos já apontaram que radicais livres estariam associados a danos neurais, causados por inflamação no sistema nervoso. Essas lesões ocasionam o estresse oxidativo, responsável por ativar as proteínas TRPA1 (receptor de potencial transitório anquirina 1), causadoras da dor.
– Nesse estudo, buscamos identificar se essa proteína poderia ser ativada pelos radicais livres, causando dor e dano neuronal. Dessa forma, a indústria poderia desenvolver analgésicos que funcionariam como bloqueadores do TRPA1, e poderíamos encontrar novos tratamentos para a dor observada na esclerose e favorecer uma melhor recuperação dos pacientes – diz.
Importância do reconhecimento
Além do reconhecimento pessoal, Gabriela atribui a importância da conquista à valorização da pesquisa na área da dor, buscando a melhora na qualidade de vida dos pacientes.
– Também serve para chamar mais pessoas a fazerem pesquisa nessa área. Às vezes, a gente se sente meio “do interior”. Vamos para São Paulo e Rio de Janeiro e achamos o máximo. É importante porque incentiva outros pesquisadores – acredita.
A premiação em dinheiro também favorece o desenvolvimento de pesquisas. Com o cenário em crise e a redução de bolsas do governo federal (como CNPq e Capes), são em prêmios como esse que pesquisadores de diversas áreas se apoiam para desenvolver projetos.
– Na nossa área, falta um pouco de incentivo. Não temos no Brasil muitas agências privadas de financiamento. Ficamos dependendo do dinheiro de editais e de prêmios para conseguir os valores, mas são pouquíssimas as outras fontes que não são do governo. Às vezes, ficamos de mãos atadas, esperando abrir uma oportunidade para conseguir desenvolver e avançar nas pesquisas – explica.