Pesquisadores brasileiros encontraram partículas do vírus da diarreia viral bovina (VDVB), além do zika vírus, em tecido cerebral de fetos e recém-nascidos com microcefalia. O Ministério da Saúde emitiu nota na qual diz que está acompanhando a investigação sobre os fatores que podem estar associados ao zika no desenvolvimento de malformações congênitas e notificou o resultado da análise preliminar à Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os estudos foram feitos em parceria entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto (Ipesq), da Paraíba. Os exames foram feitos em amostras obtidas por necropsia de tecidos cerebrais de fetos e de recém-nascidos com microcefalia.
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O Ministério da Saúde ressalta que a presença do vírus nestes tecidos não significa necessariamente que ele está relacionado às malformações. Novos estudos serão feitos para confirmar ou descartar a hipótese.
Ainda nesta semana, a pasta vai se reunir com o Ministério da Agricultura para discutir quais medidas deverão ser adotadas no caso de se confirmar a hipótese de que a microcefalia ligada ao zika tenha também vínculo com o vírus VDVB. Caso a relação seja comprovada, entre as medidas que serão analisadas está o abate de bezerros contaminados pelo vírus.
Representantes da OMS disseram considerar que o estudo preliminar pode, no futuro, apontar uma "pista" importante para se investigar o surto de nascimento de bebês com microcefalia ligada ao zika.
Estudos internacionais
Como o nome indica, o vírus da diarreia viral bovina afeta predominantemente bovinos, podendo causar malformações nos animais. Não é a primeira vez, entretanto, que pesquisadores tentam travar uma relação entre microcefalia e VDVB. Estudos realizados, no entanto, indicam haver apenas alguns indícios.
Um deles, publicado na revista Lancet, em 1987, analisou um grupo de 129 mães que deram à luz bebês com microcefalia. O estudo preliminar indicava que duas mães (um número considerado baixo) apresentavam anticorpos para o VDVB e para rubéola. Outro trabalho, de 1988, avaliou um grupo de pessoas que tinha contato com animais considerados suscetíveis ao VDVB. Os resultados indicaram que parte do grupo apresentava anticorpos para o VDVB, mas não havia nenhum indício de que a contaminação poderia provocar sintomas.
*Agência Brasil e Estadão Conteúdo