Repórter da Rádio Gaúcha Luciano Périco relata a primeira etapa do projeto, que o ajudou a mudar de hábitos alimentares, incorporar exercícios físicos ao dia a dia e deixar para trás quilos e centímetros de preguiça e desânimo.
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Mudança na Hora certa
Fazer 40 anos é algo emblemático. Passa muita coisa pela cabeça. Dá para projetar que metade do caminho da vida foi percorrido. E o que foi feito não se pode voltar atrás. Mas é possível pavimentar uma estrada melhor para seguir em frente. Admito, eu sempre fiz tudo errado. Nunca, realmente, cuidei bem de mim. Comia demais e não mexia um músculo. Tudo isso, com o tempo, fez com que eu acumulasse um peso excessivo e uma debilidade física devido à falta de exercícios. Vivia cansado, pesado, com dores nas articulações, com a autoestima no lixo e sem motivação para as tarefas mais simples do dia a dia.
E você sabe o que eu fazia para mudar a situação? Absolutamente nada! Era um completo acomodado, na zona de conforto, somente pavimentando a minha estrada rumo ao buraco. Era possível projetar um futuro duvidoso. E sem querer fazer sensacionalismo ou ser dramático, com doenças graves e que, potencialmente, poderiam me levar à morte. Tenho certeza absoluta de que, sozinho, não sairia dessa situação de caminhar com os olhos vendados até a beira do abismo. Acordei na hora certa!
Desafio para o espírito
O coordenador de esportes da Rádio Gaúcha, Rafael Cechin, veio com a proposta indecente: produzir uma série para rádio, TV e jornal mostrando que qualquer pessoa pode começar a fazer uma atividade física, ter uma alimentação mais saudável e, com isso, melhorar a qualidade de vida. Como pano de fundo, a preparação para conduzir a tocha olímpica na passagem pelo Rio Grande do Sul, tarefa honrosa para a qual fui incumbido. De cara, desconfiei. Logo eu? Obeso, sedentário e sem vontade de me apresentar como tal.
Sinceramente, não estava pilhado para aderir à empreitada, de botar a cara para bater. Queria continuar com a minha vidinha de fast foods, potes de sorvetes, chocolates, cervejas geladas, rodízios de pizzas e massas e outras coisas que são imprescindíveis para quem gosta da boa gastronomia. Para mim, o melhor prato sempre foi o cheio. Depois da grande insistência do meu gestor direto, com o apoio do coordenador de jornalismo, Cyro Martins Filho, e de falar com a família, resolvi aceitar. Mas as coisas seriam do meu jeito. Não faria nada que me colocasse em alguma situação desconfortável.
Acabei aceitando também porque vi uma chance de tentar começar a mudar de vida aos 40 anos. Fazia muita coisa errada e não me mobilizava para reverter a situação. Teria uma equipe médica extremamente qualificada a minha disposição, a estrutura de primeiro mundo do Hospital Moinhos de Vento e a parceria de um educador físico que iria me orientar e cobrar resultados.
Pontapé inicial
Toda função começou de fato, no mês de abril, quando tivemos as primeiras reuniões com as turmas da RBS TV e da Zero Hora para definir detalhes e partimos para a fase inicial: um verdadeiro escaneamento da minha situação física. Primeiro, conversas com os médicos Guilherme Rollin, Charles Stefani e Felipe do Canto e com a nutricionista Fernanda Schumacher, do Hospital Moinhos de Vento. Foram realizados exames de sangue, cardiológicos e avaliação de articulações.
Surpreendentemente, não apareceram grandes alterações em colesterol, triglicerídeos, e o HDL, o colesterol bom. Coração 100%. Carótidas limpinhas. Joelhos e quadris em dia, sem qualquer tipo de desgaste. Mas um número foi de assustar muito: o diabetes. Em jejum, chegou a 286 mg/l. O máximo indicado é 99 mg/l. Quase três vezes mais! E no teste da hemoglobina glicada, o índice foi de 10,5%, indicando já um quadro de diabetes. Foi nesse momento que a casa caiu com força. Eu estava confirmando uma doença grave, que passaria a fazer parte dos meus dias.
O diabetes tipo 2 chega silencioso, sorrateiro e cruel. Passaria a tomar dois medicamentos diários para o controle da doença. Confesso que balancei, me senti mal, enfraquecido com a imagem da minha saúde. Aos 40, eu teria de tomar remédios de uso contínuo. Fora os outros dois medicamentos para a pressão arterial, que, devido ao diabetes, é preciso ser mantida sob controle porque acaba sofrendo alguma alteração.
Pau na máquina
Medicado e já sabendo das condições clínicas, chegou a hora de começar a reeducação alimentar e a atividade física. Dois pontos importantes na busca de uma vida melhor. No quesito cardápio diário, foi preciso passar uma borracha em tudo o que eu fazia anteriormente. Esquecer definitivamente o açúcar em todas as suas formas tentadoras. Além dele, os carboidratos tiveram de ser reduzidos ao máximo. Adeus pizzas, pães e massas com farinha de trigo.
Entraram em campo verduras, cereais, legumes e proteínas. Tudo diet, zero, light e desnatado. Mais refeições fracionadas durante o dia para afastar o fantasma da fome: café da manhã, almoço, lanche, janta e ceia. De forma equivocada, a gente pensa que ter uma vida mais saudável na alimentação é deixar de comer o que se gosta. O importante é reduzir as porções, sem abrir mão do prazer. Esse é o segredo.
A hora da mudança
Além de fechar a boca, é preciso gastar calorias. Mexer o corpo. A academia passou a fazer parte da minha rotina. O plano montado foi audacioso. Pelo menos uma hora nas segundas, quartas e sextas. Uma rotina de treino puxado comandado pelo educador físico Alexandre Travi, da Optima Fitness.
Começando com cinco minutos de esteira, que são intercalados com séries de exercícios, mexendo braços e pernas, utilizando pesos, fazendo prancha, abdominais, subindo e descendo caixas, esticando borrachas, fazendo deslocamento lateral, agachamento e apoios. No ritmo esteira, exercício, esteira, exercício... Ufa! Uma verdadeira pauleira! O corpo enferrujado e pesado sente! Os músculos nunca trabalhados dão sinal de vida. O começo é bem difícil. Dá vontade de desistir de tudo! Fugir para longe! É preciso muita perseverança e força de vontade para superar limites que a histórica falta exercícios impõe.
E a atividade física não para por aí. Nas terças e quintas, também é necessária pelo menos uma caminhada na esteira, na rua, no parque ou na pista de atletismo. Resumindo: o "contrato" com o professor de Educação Física indica no mínimo cinco dias de atividades na semana. E tenho sido muito disciplinado. Nos primeiros dias, a dor foi uma parceira constante. "A dor do bem" , como brinca Travi. Aos poucos, o corpo vai se condicionando e sentindo os benefícios dos exercícios físicos.
Hoje, já foram incorporados à rotina e me deixam muito mais disposto. Nunca imaginei que sentiria falta de fazer qualquer atividade. Óbvio que não virei atleta. Estou muito longe disso. Apenas provei, para mim mesmo, que era capaz. Ainda sinto dores nas pernas e braços. Mas elas serão vencidas com a sequência. É isso que me motiva cada vez mais.
Efeitos positivos
Com a combinação da boca fechada com o corpo em atividade, o peso começou a ser reduzido. As roupas começaram a ficar mais largas. O diabólico diabetes foi controlado. Tudo a muito custo. E está valendo a pena. O melhor é justamente isso. Ver que todo o esforço diário tem dado resultado. É hora de confessar algo importante: a vontade de transgredir, comer o que não se deve, ainda é muito grande.
Mas o peso na consciência nos pouquíssimos momentos em que a dieta foi burlada é algo positivo e que barra novos crimes. Assim como na atividade física, por vezes, bate uma vontade forte de faltar na academia ou não fazer a caminhada extra. É preciso exorcizar a velha preguiça. E falando especificamente de diabetes, ele é um monstro que todos devem respeitar. Temer, nunca! Lutar com todas as forças, porque é possível vencê-lo. Entre seus efeitos devastadores estão a possibilidade de acidentes vasculares cerebrais, insuficiência renal, risco de perda da visão e a má circulação sanguínea nos membros, o que pode levar à amputação.
Tenho total consciência de que neste período do Te Mexe, Gigante! foi dado apenas o primeiro passo de uma longa caminhada. Muitos obstáculos podem aparecer pelo caminho e será preciso ter persistência e coragem para não jogar tudo para o alto. Não há metas numéricas estabelecidas em termos de peso. Quanto menor, melhor. Cada quilo tem de ser batalhado e comemorado. Mas também nesse processo todo de aprendizado é preciso conviver com as dores lombares e musculares, cansaço físico e sensibilidade nas articulações.
O futuro
No início, o Te Mexe, Gigante! tinha uma período estabelecido para ser encerrado. A data derradeira seria o dia em que eu vou carregar a tocha olímpica, em Guaíba, em 7 de julho. Entretanto, o projeto acabou me envolvendo de tal forma, com grandes resultados na minha qualidade de vida, que seria um absurdo parar tudo agora. No fim das contas, está sendo finalizada apenas a primeira etapa, que foi de conscientização, redução de peso e equilíbrio do diabetes. Foram eliminados 16 quilos (talvez quando você estiver lendo isso pode ser mais ainda) e 15 centímetros de medida no abdômen.
A partir de agora, a atividade física segue nos mesmos moldes, assim como o controle alimentar. Tudo perfeitamente igual. E nada será como antes. Então, vamos em frente e que mais pessoas tentem, pelo menos, começar. Coragem, gente! É possível! É preciso ter foco e perseverança. Com todas as minhas limitações, eu estou conseguindo.
Por que você não tenta? Tenho recebido relatos de inúmeras pessoas que se identificaram com essa batalha e também começaram a correr atrás de um futuro mais saudável. É a vida da gente que está em jogo nessa batalha. Deixo o desafio para cada um que se identificou com todas as coisas que contei nesses poucos meses. Vamos nos mexer, pessoal!