Com as definições sobre o que é ou não saudável mudando rapidamente, o público está se voltando para os alimentos que desprezava há alguns anos. Estudos sugerem que nem toda gordura, por exemplo, necessariamente contribui para o ganho de peso ou para problemas cardíacos. Isso faz com que as empresas se desdobrem para fabricar produtos que já achavam terem perdido a popularidade – e os defensores da alimentação saudável se questionam sobre o que deu errado.
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Segundo o novo pensamento, nem toda gordura é ruim, como nem todas as comidas salgadas. Há um estigma meio irredutível em relação aos substitutos do açúcar, mas nem tanto para a versão obtida da cana, consumida com moderação. E todos esses atributos são avaliados em relação a qualidades como simplicidade e sabor.
– Acho que a equação risco-recompensa mudou – avalia Steve French, sócio da empresa de pesquisas Natural Marketing Institute.
A Edy's, conhecido como Dreyer's no oeste dos Estados Unidos, é um bom exemplo. A marca vendeu 10,8% a mais do sorvete integral Grand Ice Cream, em comparação com o ano anterior, segundo a empresa de pesquisa e dados IRI. Outras variedades do produto também venderam mais.
Saudável é saber o que há no produto consumido
Durante o mesmo período, a Edy's vendeu 4,8% menos do Slow-Churned Ice Cream, preparado por meio de um processo que reduz o nível de gordura. Quando lançado, em 2004, o produto foi promovido como tendo menos gordura e calorias – e as vendas dispararam. Agora esse tipo de marketing já era. Em vez dele, a empresa adaptou alguns produtos da linha Slow-Churned, de modo a prepará-los com menos ingredientes e a incluir açúcar de cana em vez de xarope de milho, com alto índice de frutose, desprezada por muitos.
Os rótulos desses sorvetes também dizem ao público que eles não contêm ingredientes geneticamente modificados. É preciso, porém, ter cuidado com os detalhes dessas descobertas científicas atuais. Nenhum dos novos estudos, por exemplo, recomenda que você coma todo o bacon que quiser.
– A nova definição de saúde moderna é bem diferente da visão tradicional, que era a de reduzir gordura, açúcar e sódio. Saudável agora é saber o que tem na minha comida e de onde ela vem – explica Robert Kilmer, presidente da Dreyer's Ice Cream, divisão da Nestlé nos EUA.
As companhias alimentícias vêm trabalhando com afinco nos últimos anos para oferecer o que os consumidores entendem como "conteúdo nutricional melhorado" e "alimento saudável". As vendas dos produtos feitos a partir de ingredientes orgânicos dispararam de uns anos para cá. A Mars Food, divisão da empresa de doces Mars, cujas marcas incluem Uncle Ben's e Dolmio, reduziu em até 20% o sódio de vários produtos e recentemente anunciou que pretende ir mais além. A General Mills vai eliminar corantes e sabores artificiais dos seus cereais.
O consumidor, porém, está sempre recalculando os prós e contras dos alimentos que come, fazendo com que a popularidade de alguns deles cresça inesperadamente. Por exemplo, em 2015, os norte-americanos checavam o índice de gordura nos rótulos com menos frequência do que faziam em 2006, segundo pesquisa do Natural Marketing Institute. Agora se preocupam.