Poucos meses depois do nascimento da sua filha, em 2012, Grazi Massafera exibia um corpo escultural na televisão. O segredo? "A culinária ayurveda mudou minha vida", declarou, na época.
Ayurveda é a medicina milenar indiana e entende que toda doença começa no aparelho digestivo: o alimento é considerado remédio contra qualquer disfunção. Contudo, se usado de forma equivocada, também se transforma em veneno. Prestar atenção ao que se come, portanto, é um dos pilares para obter saúde física, psicológica e espiritual.
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A dieta proposta pela ayurveda, por vezes, cruza com a medicina ocidental: é preciso privilegiar alimentos naturais, frescos e livres de conservantes e agrotóxicos. Congelados, enlatados e embutidos devem ficar longe. Carne deve ser evitada, assim como álcool e cigarro. Misturar duas proteínas na mesma refeição é exagero.
– Essas misturas dificultam a digestão e deixam a mente "embotada", que é aquela sensação de sono após comermos um churrasco ou bebermos cerveja – afirma Gisele de Menezes, terapeuta ayurveda no Espaço Povo de Pé, em Porto Alegre.
Alimentos anti-inflamatórios ganham pontos, como azeite de oliva, gengibre, cereais integrais e frutas vermelhas. Também há comidas que contribuem para o desequilíbrio na saúde: carne vermelha, pão branco, batata frita, gorduras saturadas e açúcar branco.
Entre os benefícios defendidos por quem segue a dieta, estão redução da ansiedade, combate à depressão, aumento da energia e do bem-estar, tranquilidade e prevenção contra alergias e doenças crônicas.
Apesar de haver algumas regras, a dieta ayurveda não é igual para todos. Para a medicina indiana, nascemos com certas características físicas e psicológicas que vão definir nossas reações perante o ambiente – incluindo as respostas aos alimentos. Essa construção é resultado da interação entre cinco elementos naturais: água, fogo, terra, ar e éter (o espaço, a possibilidade de preenchimento).
Tais componentes se agrupam em duplas e determinam a predominância de três doshas (perfis metabólicos) que um indivíduo pode ter: pitta (fogo + água), kapha (água + terra) ou vata (ar + éter). Cada perfil exige uma alimentação adequada. Quem faz o diagnóstico é o terapeuta ayurveda (com formação em cursos da área), que aplica um questionário e analisa o corpo da pessoa.
A regra básica da alimentação ayurveda é que "oposto diminui oposto e semelhante aumenta semelhante". Isto é, se você tem predominância de fogo e água no corpo, deve ingerir alimentos com naturezas opostas.
– O objetivo é gerar saúde a partir do equilíbrio, o que vem com a alimentação adequada – afirma Manuel de La Rosa, ministrante de oficinas culinárias ayurveda.
De la Rosa ésócio-administrador do Mantra Gastronomia e Arte, restaurante de Porto Alegreconhecido pela culinária vegana. No mês passado, ele deu um curso de oito horassobre culinária ayurveda, no qual ensinou as bases da filosofia indiana e osprincipais temperos usados na massala
Massala, os temperos indianos
- Uma parte importante da culinária ayurveda é a massala, um conjunto de temperos e condimentos que, mais do que acentuarem o sabor, são vistos como aliados na digestão – uma espécie de antídoto alimentar.
- Se eventualmente você quiser comer uma lasanha com carne e queijo, por exemplo, a ayurveda recomenda colocar pimenta-do-reino no seu prato a fim de facilitar a digestão.
- A lista de ingredientes prontos para ajudar no processo digestivo é grande: cúrcuma, canela, cravo, noz-moscada, gengibre, anis, alecrim, açafrão, manjericão e salsa são apenas algumas das especiarias que podem ser combinadas entre si na massala.
- De acordo com a nutricionista Valéria de Abreu Urh, esses alimentos são extremamente funcionais e antioxidantes. Vários deles são reconhecidos em estudos feitos pela medicina tradicional como benéficos ao organismo.
- A predileção por especiarias é outro ponto no qual medicinas oriental e ocidental se cruzam. Por aqui, a ciência já defende há anos que é melhor empregar temperos na comida em substituição ao sal, que traz uma série de prejuízos.
Saudável, mas com cuidado
Culturas ocidental e oriental, apesar de às vezes convergirem, uma hora se afastam. Para justificar sua filosofia, a medicina ayurveda – junto a sua culinária – evoca a ciência moderna na busca de obter legitimação. Entretanto, cientistas tradicionais refutam aproximações e preferem respeitar a prática como expressão de outra cultura.
Para o médico nutrólogo Antônio Elias Filho, diretor da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), a dieta praticada na ayurveda faz um ótimo esforço em estimular o consumo de alimentos saudáveis, em privilegiar alimentos orgânicos e em desencorajar a inclusão de alimentos industrializados no dia a dia. No entanto, ele aponta que algumas premissas não têm base científica, como a classificação do corpo e da psique com base em três perfis.
– Do ponto de vista científico, não dá para dividir as pessoas em tipos e fazer uma dieta com base nisso. Como médico nutrólogo eu não posso concordar, apesar de aceitar, já que é uma prática adotada por algumas pessoas. Como conselho, diria para adotar apenas alguns princípios da ayurveda, e não a dieta por completo – sentencia o médico.