Criada em meio a baralhos e jogos de pife, canastra e escova, Elizabeth Casanova, 55 anos, se viu em uma sinuca de bico quando os filhos a obrigaram a tomar uma decisão que mudaria a sua vida: ou largava o bingo ou eles a abandonariam. Diante da pressão imposta pela dupla, ela percebeu a gravidade da situação em que se encontrava.
– Estava sem vida, autoestima, amor próprio, totalmente desesperada, um farrapo humano – descreve, relembrando o dia em que procurou a ajuda de um grupo dedicado a jogadores anônimos.
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Relatos como o de Elizabeth (leia o depoimento completo abaixo) podem soar dramáticos, mas são extremamente comuns em reuniões de grupos que lutam pela abstinência por meio da troca de experiências, direcionados para pessoas que sofrem do transtorno de compulsão.
O mecanismo que desencadeia esse distúrbio ainda não está totalmente desvendado, mas especialistas já sabem que o problema tem causa multifatorial. Falhas no sistema de recompensa do cérebro, associadas a fatores socioculturais, são os principais elementos que geram as condutas.
A principal característica do transtorno é a repetição de determinados comportamentos de forma descontrolada a fim de obter prazer. É preciso passar por alguma situação previamente gravada pelo cérebro como agradável para manter a liberação da dopamina, substância química diretamente ligada à sensação de bem-estar. O que se acredita é que um problema biológico possa levar determinados indivíduos a produzir essa substância em quantidades menores. Essa falha, somada ao meio em que vivem, seria o necessário para torná-los dependentes dessa liberação, buscando cada vez mais prazer e fazendo com que determinado comportamento vire hábito e, logo, dependência.
– Começa com uma alteração no sistema nervoso central, mas ao repetir o comportamento em busca de bem-estar, cria-se uma dependência, pois a pessoa fica sempre provocando a liberação de dopamina – explica a psiquiatra especialista em dependência química do Hospital Moinhos de Vento Márcia Surdo Pereira.
Uma vez estabelecida, a situação só tende a piorar: com o tempo e as repetições constantes, o cérebro se adapta e passa a produzir cada vez menos dopamina, fazendo a busca pelo prazer ainda mais incessante, em um ciclo vicioso.
– É da natureza humana tentar repetir experiências que dão prazer mas, quando isso ocorre de forma exagerada e reduz o repertório de vida, prejudicando a rotina, é preciso tratamento – orienta o psiquiatra Alceu Gomes Correia Filho, da Unidade de Internação e Desintoxicação do Hospital Psiquiátrico São Pedro.
Para uma pessoa compulsiva, a busca pelo prazer deixa de ser algo agradável para se tornar seu único objetivo de vida. No diagnóstico do transtorno são avaliados aspectos como o número de vezes que a conduta é repetida, por quanto tempo, e se ela causa prejuízos sociais, financeiros ou mesmo físicos.
Além disso, o compulsivo acredita que está sempre repetindo aquele comportamento pela última vez. Mas, depois, é inundado pela sensação de culpa e pela tristeza de não ter conseguido se controlar.
Ainda que a carga genética seja importante, pois é ela a responsável pela falha biológica no sistema de recompensa do cérebro, os aspectos sociais e culturais são determinantes para o desenvolvimento do transtorno, assim como a existência de outras doenças como ansiedade e depressão. Mesmo que a pessoa seja predisposta geneticamente a ser compulsiva, o problema não costuma ser desencadeado sem o gatilho dos fatores sociais.
Apesar de não indicarem um prevalência na população como um todo, especialistas encontram indícios do predomínio de alguns comportamentos distintos em cada sexo ou faixa etária.
– Do ponto de vista neurobiológico não há distinção. A princípio, todos estão predispostos a tudo – afirma Márcia.
No entanto, na prática clínica, observa-se que há maior probabilidade dos homens desenvolverem compulsão por sexo, jogos e álcool, enquanto mulheres estariam mais vulneráveis a compras e comida, assim como jovens à internet.
– Possivelmente, isso ocorre por influência social – sugere a psiquiatra.
A intervenção dos familiares costuma ser crucial para dar um ponto final no ciclo vicioso. Normalmente, são eles que levam o compulsivo a buscar tratamento – são poucos os casos em que a busca por ajuda parte do próprio doente.
A psicoterapia e a prescrição de medicamentos para regular o mecanismo de recompensa do cérebro são as alternativas de tratamento mais comuns. Fora isso, a participação em grupos de ajuda também é uma saída complementar. De acordo com Correia Filho, esses modelos tendem a impactar de forma positiva, auxiliando no tratamento.
Compulsão por internet
Passar horas a fio em frente a um computador ou mesmo acessar excessivamente a internet no smartphone e outros dispositivos são alguns dos sinais de um tipo de compulsão que começou a ser observado a partir da década de 1990.
– Começou com um uso excessivo da internet principalmente por meio de jogos. Depois, houve um incremento com o uso das redes sociais. Podemos dizer que se trata de uma dependência tecnológica – explica a psicóloga Sylvia Van Enck, do programa de dependência tecnológica do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Obedecendo a um perfil mais padronizado em relação aos demais transtornos, a compulsão por internet é mais comum nos jovens entre 18 e 24 anos, embora possa começar ainda mais cedo, na faixa dos 12 anos. Homens são os que mais sofrem dessa dependência que, hoje, atinge mais de 10% dos usuários domésticos da rede, de acordo com Sylvia.
O primeiro sinal de que algo não está bem é quando a pessoa se isola e deixa de fazer as atividades de rotina para ficar conectada.
– Muitos se conectam no final da tarde e seguem madrugada adentro, tendo dificuldade de acordar no dia seguinte. O desempenho nas atividades escolares ou acadêmicas fica prejudicado, e começam a ocorrer as faltas aos compromissos – diz Sylvia.
Para tratar o problema, além do acompanhamento com especialistas, é importante que os pais evitem desconectar os aparelhos ou proibir seu uso. Sylvia afirma que isso pode tornar o indivíduo mais agressivo e irritado, provocando problemas de violência no ambiente familiar:
– A sugestão é que se estabeleça uma agenda para esse uso. Que primeiro o jovem cumpra as suas atividades de rotina e, depois, possa usar o computador, mas com um limite de tempo.
A psicóloga recomenda que os pais fiquem atentos ao uso precoce de aparelhos eletrônicos.
– Esse é um aspecto que a escola não deveria permitir e a família não poderia descuidar. Na hora do recreio, o que observamos é que as crianças estão jogando nos celulares em vez de estarem brincando – finaliza.
Compulsão por compras
Descrita pela primeira vez em 1915 pelo psiquiatra alemão Emil Kraepelin, a oniomania (do grego onios, que significa "à venda") reapareceu na literatura psiquiátrica em 1924 em texto do suíço Eugen Bleuler no Livro de Psiquiatria. Mas o conceito voltou a ser discutido somente em meados dos anos 1990, quando o transtorno ficou em evidência. A rainha Maria Antonieta, Mary Todd Lincoln e Jacqueline Kennedy Onassis estão na lista das pessoas que sofriam com a compulsão por compras, de acordo com o psiquiatra Donald W. Black, autor do livro Impulse Control Disorders.
Caracterizado pelo ato de comprar sem limites, esse transtorno leva as pessoas a não conseguir fazer um planejamento dos gastos nem frear o impulso do consumo. O prazer imediato torna-se mais importante.
– O comprar compulsivo é um alívio das emoções – diz a psicóloga Tatiana Filomensky, coordenadora do tratamento a compradores compulsivos no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
No contexto cultural atual, em que os estímulos ao consumo chegam por todos os lados, é importante diferenciar consumistas de compradores compulsivos.
– A grande diferença é o sofrimento que o comprar causa. Os compulsivos têm uma série de pensamentos do tipo "se eu não comprar, corro o risco de ficar sem", "não vou conseguir dormir se eu não comprar" – explica Tatiana.
A psicóloga destaca que 90% dos pacientes que atende têm problemas com dívidas:
– Um consumista pode se endividar, mas consegue se reerguer. Um compulsivo, não.
O comprar compulsivo pode atingir todos os sexos e as classes socioeconômicas, mas são mulheres que mais buscam ajuda.
O distúrbio não afeta somente aqueles que não controlam o impulso de consumir: seus familiares se veem atolados em dívidas sem sequer saber de onde elas surgiram.
– Já vi pessoas gastarem heranças, contraírem dívidas de quase R$ 1 milhão, e até gente que perdeu o emprego por desviar dinheiro da empresa – relata a psicóloga.
O tratamento envolve o cuidado com as questões emocionais que levaram ao quadro e medidas financeiras, como criar um planejamento de gastos e abrir mão do cartão de crédito.
Compulsão por comida
O transtorno do comer compulsivo é caracterizado pela ingestão de grandes quantidades de comida em um curto período de tempo, em que a pessoa afetada chega ao extremo de passar mal pelo excesso. Quem sofre com o problema coloca a comida como prioridade de vida, consome alimentos mais calóricos – geralmente carboidratos e doces –, assalta a geladeira, come a toda hora e vê no ato de comer uma saída para conter a raiva ou a tristeza.
– Há um descontrole. Eles não têm freio – relata a pesquisadora da Faculdade de Psicologia da PUCRS Margareth da Silva Oliveira.
A comida também é vista como uma forma de acabar com a dor, a depressão e a ansiedade, e o ato de comer é seguido de tristeza e sentimento de culpa pelo exagero. O problema ainda pode evoluir para outros quadros, como o de bulimia nervosa, por exemplo. Com os quilos a mais na balança, o indivíduo fica infeliz com a própria imagem. O resultado é o isolamento social.
Dados do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) mostram que, nos Estados Unidos, o índice de incidência do transtorno chega a 1,6% nas mulheres e 0,8% nos homens, e que o problema começa a aparecer na adolescência ou nos primeiros anos da vida adulta. Em seu consultório, Margareth percebe um quadro parecido: mais mulheres do que homens procuram tratamento. Contudo, ela observa que eles parecem seguir mais à risca o processo, pois geralmente buscam no tratamento a solução para outros problemas de saúde, como os cardiovasculares.
Para tratar esse tipo de comportamento, o mais importante é não recorrer à ajuda em uma só área. Além de um processo de reeducação alimentar, é preciso acompanhamento psicológico e de profissionais de Educação Física, para estimular a prática de exercícios.
– É um trabalho multidisciplinar, dificilmente se faz com só um profissional – garante a pesquisadora.
Além dos prejuízos sociais, o transtorno aumenta o risco de desenvolver doenças como obesidade, o que pode acarretar problemas mais graves de saúde.
Os resultados físicos acabam se tornando o propulsor da mudança de comportamento. Segundo Margareth, embora possam ser longos, os tratamentos tendem a reverter o problema de vez.
"Não entendia porque eu continuava a comer se eu queria emagrecer"
Leni, 69 anos
"Sou uma comedora compulsiva em recuperação. Estou abstinente há três anos e cinco meses, e emagreci 26 quilos.
Minha história de comedora compulsiva começou na infância. Uma história de sofrimento, porque nunca aceitei minha obesidade. Deixei de viver etapas da vida, sofri bullying, o que deixou minha autoestima arrasada. Sempre tentei fazer dietas, consegui perder até 40 quilos, mas chegava um dia em que minha força de vontade não funcionava mais, começava a comer novamente e não conseguia parar, engordando tudo e mais um pouco do que tinha perdido. E vinha a culpa e a tristeza de não entender porque eu continuava a comer exageradamente se eu queria emagrecer.
Minha vida foi assim até conhecer a Irmandade Comedores Compulsivos Anônimos (CCA), em 1987. Isso me trouxe a esperança de que existia uma solução para mim, que essa compulsão era uma doença que não tinha cura, mas recuperação. Era preciso ter o desejo sincero de parar de comer compulsivamente, admitir minha impotência perante a comida e abandonar minha vontade e minha vida aos cuidados de um poder maior que eu.
Foi um alívio saber que eu não era uma gorda sem vergonha, como eu me chamava, mas sofria de uma doença física, emocional e espiritual.
Fui para a primeira reunião e me apaixonei pelo programa e por toda a sua literatura, mas entendi que não existe milagre. É uma ação por meio da prática de 12 passos e de 12 tradições, adaptados do Alcoólicos Anônimos. Continuei voltando e me recuperando um dia de cada vez.
Mudei de cidade em 1994, para um lugar onde não existia CCA. Achei que já conhecia o programa e que poderia continuar me recuperando sozinha. Mas como essa é uma doença do isolamento, não funcionou, pois preciso falar das minhas experiências com outros comedores compulsivos e transmitir a mensagem de recuperação, força e esperança a quem ainda sofre. Retornei aos grupos de CCA em 2012 e voltei a ficar abstinente só por hoje nos níveis físico, emocional e espiritual, o que é indispensável para manter a recuperação."
Compulsão por jogos
Apostar dinheiro em jogos, voltar a jogar para recuperar prejuízos, mentir para esconder o envolvimento com o jogo, perder o emprego ou o relacionamento são algumas das situações citadas no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) para descrever as pessoas que são compulsivas por jogos ou sofrem do chamado jogo patológico.
Conforme o manual, o começo do problema tende a ocorrer na adolescência ou no início da fase adulta, embora seja muito comum até a meia-idade. O gatilho para o desenvolvimento desse transtorno pode estar dentro de casa, com a influência e a convivência de familiares jogadores.
Depois de ingressar no jogo, os compulsivos tornam as apostas cada vez mais frequentes. Junto a esse aumento progressivo no número de vezes, há também o crescimento, pouco a pouco, dos valores apostados.
Um dado importante sobre esse tipo de problema, também apontado pelo DSM-5, é que, apesar de ser mais comum em homens, o número de mulheres afetadas tem crescido bastante nos últimos tempos. Cada sexo, entretanto, apresenta algumas peculiaridades: homens têm maior tendência a se tornar dependentes das cartas, apostas esportivas e corridas de cavalo, enquanto as mulheres são mais suscetíveis a bingo e caça-níqueis.
Assim como nos casos de dependentes químicos, os compulsivos por jogos são capazes de mentir, roubar, pegar dinheiro emprestado e contrair cada vez mais dívidas para manter o comportamento.
Além de muito relatado em telenovelas, o problema é tema de uma obra clássica da literatura, escrita pelo russo Fiódor Dostoiévski e intitulado O Jogador. Acredita-se que o próprio autor sofria do mal e, para sanar as dívidas, escreveu o romance em poucos dias.
"Tentava parar, mas não conseguia. Deixava de trabalhar para jogar"
Elizabeth Casanova, 55 anos
"Nasci em uma família na qual o jogo fazia parte da rotina: pai, irmãos, tios, primos e amigos jogavam pife. Não havia uma reunião familiar em que uma mesa não fosse formada, e uns tiravam dos outros tudo que podiam. Por esse motivo, eu nunca quis jogar nada tendo como aposta dinheiro. Casei, tive dois filhos e, quando meu filho menor tinha um ano, me separei, o que foi difícil e doloroso. Certa vez, uma amiga me convidou para jogar bingo e comer pizza. Foi muito divertido, adorei. Daí, começou minha desgraça.
Comecei apostando baixinho e, quando vi, estava apostando o que não tinha. Minha vida e de meus familiares tornaram-se um inferno. Tentava parar, mas não conseguia. Deixava de trabalhar para ficar jogando. Jogava 24 horas por dia, sete dias por semana. Meus filhos eram pequenos e não tinham noção do buraco em que eu estava. Recebia uma pensão alimentícia para eles e perdia tudo no mesmo dia, ao ponto de vir a pé para casa sem um tostão.
Então, começaram as mentiras para conseguir dinheiro. Deixava de pagar as contas, e meu imóvel foi a leilão. Perdi família, amigos, tudo. Fiz coisas terríveis com pessoas que me amavam e sempre me apoiaram. Furtei, subtrai, enganei. A compulsão te torna uma pessoa sem caráter e escrúpulo.
Sem saída, tentei suicídio, pois as dívidas eram enormes e achava que, se morresse, meus filhos seriam mais felizes. Foi quando meus filhos, já adultos, perceberam a gravidade. Eles me levaram para tratamento psiquiátrico e psicológico, mas continuei com a jogatina. Joguei até o ponto de meus filhos darem um ultimato: ou eu parava de jogar, ou eles me abandonariam.
Procurei ajuda no Jogadores Anônimos por pressão. Quando cheguei, não tinha mais nada. Ingressei no Grupo Esperança, na sede da Cruz Vermelha, em setembro de 2011. Cheguei lá sem vida, autoestima, amor próprio, totalmente desesperada, um farrapo humano, sentindo-me uma ordinária mau caráter.
Não foi fácil admitir que eu era uma viciada e que não conseguia governar minha vida. Meus filhos foram fundamentais em minha recuperação. Fui participando das reuniões e, aos poucos, comecei a entender que a compulsão pelo jogo é uma doença, e eu estava doente. Comecei minha recuperação.
Minha mãe morreu sem ver a minha volta por cima, e isso é algo que me deixa triste. Voltei a trabalhar, entregando todo o meu salário aos meus filhos, que passaram a ser meus pais. Um dia de cada vez, fui recuperando meu amor próprio. Sofri muito porque jogar era muito bom. Hoje, com quase cinco anos de abstinência, posso dizer que tive um novo recomeço de vida. As dívidas foram pagas aos poucos, a família foi se recuperando.
Aprendi a viver um dia de cada vez. A compulsão é uma doença, mas a maioria das pessoas que sofrem com ela prefere achar que param quando querem. Infelizmente, não é assim. Hoje digo que 'existe vida após o jogo', e ela pode ser maravilhosa. Vivo em paz, com serenidade e abstinência.
Compulsão por sexo
A compulsão sexual é um problema predominantemente masculino, em uma proporção que pode chegar a oito homens para cada mulher afetada.
O fator determinante para diagnosticar o transtorno é a perda do controle sexual. A pessoa torna-se repetitiva em determinados comportamentos, como consumo excessivo de pornografia, busca do ato sexual com vários parceiros ou sexo virtual.
– Percebe-se o transtorno na medida em que o sofrimento acerca do comportamento sexual começa a interferir em outras áreas da vida – explica o psiquiatra Marco Scanavino, responsável pelo Ambulatório de Impulso Sexual Excessivo e de Prevenção aos Desfechos Negativos Associados ao Comportamento Sexual (AISEP) do Hospital de Clínicas de São Paulo.
A prevalência em homens é explicada por questões socioculturais – a sexualidade masculina sempre foi mais valorizada e precoce.
– Também devemos considerar que é muito mais difícil para as mulheres buscar ajuda. Elas se sentem menos apoiadas – pondera o médico.
Segundo Scanavino, o problema costuma ter origem no fim da adolescência, e não é incomum estar relacionado a experiências de abuso sexual e negligência emocional ou física. Mesmo que se manifeste relativamente cedo, a busca pelo tratamento normalmente só ocorre quando as pessoas se aproximam dos 40 anos, e é motivada, em geral, por alguma consequência negativa palpável, como traição, contaminação por doença sexualmente transmissível, perda do emprego ou de dinheiro.
A compulsão por sexo não está necessariamente atrelada à relação sexual em si – ela pode se manifestar por meio de um consumo excessivo de pornografia na internet, por exemplo.
O tratamento envolve um trabalho conjunto de psicoterapia e psiquiatria, com uso de medicamentos antidepressivos e que ajudem a controlar a libido.