A crise política e econômica pode ter contribuído para esse aumento, segundo Ana Maria Rossi, psicóloga e presidente da Isma-BR. A falta de perspectivas positivas, conforme a especialista, está gerando ansiedade e preocupação.
Conhecida no Brasil pela versão em português interpretada pela cantora Simone, uma das canções mais tocadas nesta época do ano faz uma pergunta derradeira: "Então é Natal, e o que você fez?". Outra tradicional música expressa o desejo que vem com as comemorações do fim de um ciclo: "Que tudo se realize no ano que vai nascer".
São dois trechos emblemáticos: refletem as angústias e as expectativas que surgem nas últimas semanas do ano. Entre organizar as férias, comprar os presentes e comparecer às festas, os pensamentos martelam: como aproveitei os últimos 12 meses? Cumpri todas as metas? Como devo planejar os próximos?
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De fato, há uma sobrecarga de tarefas, gastos e uma certa idealização de como esse período deve ser. Conciliar as demandas internas e externas exige preparo psicológico e uma avaliação realista, porém construtiva, do que se espera para o futuro.
Uma pesquisa realizada em 2015 pela International Stress Management Association (Isma-BR), entidade que trabalha para a prevenção e o tratamento do estresse, revelou que o nível de estresse pode aumentar em 78% entre a segunda semana de novembro e o final de dezembro. Esse número é maior do que o registrado nos anos anteriores em que pesquisa foi realizada - em 2013, o dado chegou a 75%.
Pense em um comercial temático de Natal. As imagens mostram uma família reunida em torno da mesa, a decoração é refinada, há presentes embaixo da árvore, a ceia é farta. Marcada pela nostalgia, toda a construção simbólica da data remete a valores e a ideais nem sempre tangíveis e que ficam nas memórias infantis.
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- O Natal é uma grande festa para as crianças. Elas veem a família, ganham presentes. É uma data bastante nostálgica, todos esses momentos ficam muito marcados. Como adultos, vemos que não existe essa magia toda, mas temos a expectativa de sentir as mesmas coisas que sentíamos quando criança - diz a presidente da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, Anette Blaya Luz.
Imaginar o comercial descrito acima e compará-lo com a própria realidade pode ser um exercício que gera ansiedade. Isso inclui relembrar a configuração familiar que hoje pode não existir mais ou pessoas queridas que já morreram. Cada um passa a se dar conta das perdas e das separações.
- Essas datas são vistas como momentos de alegria e felicidade, em que todos estão de bem uns com os outros. Nem sempre isso acontece. Esta pode, na verdade, ser uma época triste, se comparada a outros momentos em que a família já foi maior e mais feliz - avalia Rossana Andriola, psicóloga especialista em terapia cognitiva.
A recomendação, segundo Rossana, seria superar essa concepção já construída e reestruturar o conceito de Natal e de Ano-Novo, sem preocupar-se com padrões e tradições:
- Algumas pessoas acham que o Natal não é tão importante, então, podem escolher
outra data para comemorar. Reavalia-se o que não deu certo, como foram as experiências anteriores e as companhias. É importante procurar enxergar o que faz sentindo para si mesmo e não se contaminar com o que é imposto.
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Posted by Zero Hora on Terça, 15 de dezembro de 2015
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Avaliação construtiva e metas realistas
Os participantes da pesquisa realizada pela International Stress Management Association (Isma-BR) - homens e mulheres entre 22 e 65 anos de Porto Alegre e São Paulo - citaram o planejamento entre as causas do estresse de final de ano. Relembrar o que passou, vislumbrar o que vem pela frente e o que seria o ideal torna-se uma combinação possivelmente angustiante.
Para Rossana, avaliar o que foi feito durante o ano pode ser produtivo, mas não se realizado de maneira dicotômica.
A especialista aconselha relembrar os erros e os acertos antes de traçar as próximas metas. Isso inclui mudar os processos adotados no passado, montar um plano e fatiar suas próximas ações para que a resolução não se torne inatingível.
- Quais são os recursos que eu tenho? O quanto eu já consegui? Qual o tempo que eu tenho para conquistar tudo isso? Colocar uma meta muito grande ou vaga pode atrapalhar. Dividir em tarefas menores pode ser mais motivador.
Para Anette, as tradicionais resoluções não devem se tornar um fardo para carregar durante o ano.
- Se essas metas não se tornarem regras obsessivas e cobradoras, tudo bem. Se dentro da pessoa isso se transforma em uma cobrança demasiada, a saúde mental fica de lado - afirma.
Na hora da tristeza, procure companhia
Sintomas de depressão podem aumentar nessa reta final. A conotação emocional mais pesada das datas festivas contribui para os sentimentos de tristeza. O conselho é encontrar outras pessoas e evitar permanecer sozinho, que seria o comum quando há uma
pré-disposição para a depressão.
- A pessoa pode procurar uma companhia que ela goste e evitar comparecer a qualquer lugar ou festa por obrigação. Não foque nos aspectos negativos, busque atividades prazerosas - indica Ana Maria.