Os vírus da gripe evoluem constantemente, graças a fenômenos de deriva antigênica (mutações genéticas que levam a pequenas modificações) e quebras (que causam alterações maiores).
Dois importantes estudos publicados nesta segunda-feira podem acelerar o desenvolvimento de uma vacina antigripal universal. O desenvolvimento de uma única vacina que proteja contra todas as cepas do vírus da gripe está sendo estudada há muitos anos, embora nenhum experimento tenha sido testado em humanos.
As pesquisas realizadas por equipes diferentes foram publicadas na revista científica britânica Nature e na americana Science. Ambos os levantamentos relatam ter demonstrado "a prova de conceito" de vacina universal em ratos, furões e macacos. O resultado foi muito bem recebido por especialistas que enfatizam, no entanto, que a nova vacina ainda está em fase de testes.
Ambas as equipes de pesquisadores concentraram as pesquisas sobre a parte do vírus que é o principal alvo dos anticorpos: a hemaglutinina. A proteína - presente na superfície do vírus da gripe - permite a sua fixação às células do corpo.
Rio Grande do Sul registra quatro mortes por gripe em 2015Conheça as diferenças entre as vacinas contra a gripe disponíveis na rede pública e clínicas particulares
No levantamento publicado na revista Nature, os pesquisadores do Instituto Americano de Alergia e Doenças Infecciosas indicam que testaram com sucesso as suas vacinas em ratos e furões, animais que apresentam os mesmos sintomas que os seres humanos.
As vacinas tradicionais contra a gripe utilizam vírus inativos (injetáveis) ou atenuados (spray nasal) e, portanto, devem ser atualizadas a cada ano com base nas cepas circulantes no outro hemisfério.
Vírus que evoluem
Mas ao invés de atacar a cabeça da hemaglutinina, em constante mutação, os estudiosos se concentraram no tronco desta proteína, muito mais estável.
Ao ligar esta base proveniente de um vírus A (H1N1) à nanopartículas e combinando-a com um adjuvante, eles conseguiram imunizar camundongos e furões antes de injetar neles doses letais do vírus A (H5N1). Embora a vacinação não tenha conseguido neutralizar completamente o vírus H5N1, ela protegeu totalmente os ratos e parcialmente os furões.
Gary Nabel, responsável pelo estudo, acredita que os componentes da vacina não devem inicialmente substituir as vacinas tradicionais, mas apenas "completá-las".
Adultos só têm, em média, uma gripe a cada cinco anos, aponta pesquisa
Conheça as diferenças entre gripe e resfriado
Em outro estudo publicado na revista Science, um grupo de pesquisadores liderados por Antoinette Impagliazzo, do Instituto de Vacinas Crucell, relatou ter testado uma vacina que confere proteção completa para ratos e uma resposta imunológica considerável em macacos.
Eles também trabalham com base na hemaglutinina, esforçando-se para encontrar configurações capazes de se ligar aos anticorpos monoclonais de amplo espectro, atingindo várias cepas virais.
Segundo pesquisadores, o candidato final chamado mini-HA tem demonstrado uma capacidade única de induzir uma resposta imunológica ampla e protetora em camundongos e primatas não humanos.
- Este é um avanço excitante. A nova vacina ainda deverá passar por testes clínicos para ver como funcionam em seres humanos, o que poderá levar vários anos - considerou Sarah Gilbert, professora de imunologia da Universidade de Oxford.