Os pais entram no consultório assustados, acompanhados de João, que parece estar muito bem, obrigado. Começam a descrever o episódio que os impressionou na noite anterior. O menino de cinco anos estava bem, seguindo a rotina do dia. Banho tomado, leite quente, escovação dos dentes e cama. Na madrugada, gritos desesperados, vindos do quarto do filho. A mãe corre e acende a luz. João está sentado na cama, de olhos abertos, chorando desesperadamente, aparentando enxergar monstros que só ele vê. O pai chega para ajudar. O menino, agitado e suando, sai da cama tentando fugir de uma ameaça invisível. Tentam acalmá-lo, mas ele não escuta, parece estar em transe. Abraçam, conversam, e nada! Em minutos que parecem horas, João adormece novamente e aparenta estar normal. No dia seguinte, acorda lépido e faceiro sem lembrar de nada.
Essa é a descrição do terror noturno, distúrbio do sono que ocorre em 4% a 6% das crianças, principalmente entre os três e seis anos, mas que pode acontecer até os 12 anos. É um evento que ocorre na fase profunda do sono, em geral no primeiro terço de uma noite. Não é pesadelo e não tem relação com os sonhos, por isso, a criança não recorda ao acordar. Dura de 10 a 20 minutos, podendo se estender.
Tem forte predisposição genética: filhos de pais que tiveram alteração do sono têm duas vezes mais probabilidade de ter. Pergunte à avó se ela também se assustou com seu sono quando criança. Todas as ocorrências que atrapalham um sono tranquilo facilitam o surgimento dessa alteração. Assim, a febre, a obstrução nasal e o cansaço excessivo com privação de sono são fatores desencadeantes. Além desses, situações que provoquem ansiedade e estresse na criança, como desequilíbrio na família, na escola e até a exposição a atividades lúdicas como jogos de videogames mais violentos.
A frequência é variável, podendo acontecer de uma a duas vezes no mês ou até mais, dependendo da influência e da incidência de fatores desencadeantes.
Na maioria dos casos, o terror noturno é reconhecido pela descrição característica e pela confirmação de que tudo está bem no exame físico com seu pediatra. Em geral, não necessita de exames especiais.
Apesar do incômodo que pode gerar na família, é uma condição benigna que não traz sequelas para a criança e tende a se resolver gradativamente em um ou dois anos. No máximo, chega à puberdade. Enquanto isso:
> Trate as condições que atrapalham o sono, como a obstrução nasal e a febre. Institua uma soneca de uma hora no início da tarde para evitar o cansaço.
> Respeite a adequação da faixa etária com histórias, filmes e jogos oferecidos a seu filho, evitando condições estressantes para sua etapa de maturidade emocional.
> Promova rotina do adormecer com atividades mais relaxantes. Evite telas e luz mais intensa uma hora antes de dormir.
> Como o terror noturno é parente do sonambulismo, revise o quarto e a casa quanto às condições de segurança. Cuidado com escadas e objetos pontiagudos. Assegure-se de que as portas e janelas da casa estão trancadas.
> Durante o episódio, simplesmente aguarde passar. Sacudir ou gritar que se acalme não vai adiantar. Evite acordar a criança, porque pode assustá-la e será pior. Mantenha a calma e, gentilmente, segure seu filho na cama, impedindo que se machuque.