A Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos Estados Unidos ordenou a retirada de alimentos com gordura trans do mercado americano até 2018. Em comunicado emitido ontem, a FDA afirma que "os óleos vegetais parcialmente hidrogenados (PHO), principal fonte das gorduras trans nos alimentos processados, em geral, não são considerados seguros para serem utilizados na alimentação humana".
O órgão, responsável por regulamentar o uso de alimentos, medicamentos e cosméticos comercializados nos Estados Unidos, destaca que vários testes científicos mostram que o consumo de gorduras trans eleva o nível do colesterol "ruim", o LDL. A FDA espera que essa medida ajude a reduzir doenças coronarianas, prevenindo infartos cardíacos fatais.
Campanha engaja consumidor na fiscalização de alimentos
Gilberti Hübscher, professora de nutrição da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), explica que esse tipo de gordura aumenta a produção de substratos pró-inflamatórios no organismo, o que aumenta o risco de desenvolver uma série de doenças crônicas, como diabetes, doenças neurológicas e, principalmente, doenças cardiovasculares.
- É um forte fator para desencadeamento dessas doenças, junto a outros hábitos alimentares inadequados. Por isso é muito importante que as pessoas evitem o consumo excessivo de gorduras trans - afirma a especialista.
Advertências claras nos produtos dos EUA
A lei americana obriga, desde 2006, que fabricantes de produtos que contém gorduras trans - alimentos multi e ultra processados em geral - incluem nos rótulos advertências claras aos consumidores quanto ao uso dessa gordura. Entretanto, essa mesma lei permite que os alimentos sejam rotulados como livres de gordura trans caso contenham menos de 0,5 gramas do produto por porção.
Gordura saturada pode não ser a inimiga do coração que a medicina condenou
Embora a rotulagem obrigatória e a substituição de ingredientes dos produtos, por exemplo, já conseguiram reduzir em 78% o consumo de gorduras trans nos Estados Unidos, a FDA afirma que o consumo atual continua sendo uma preocupação de saúde pública. Com a nova medida, os critérios devem ser alterados e o uso desse tipo de gordura será proibido em todos os alimentos, a menos que os fabricantes obtenham uma exceção específica dos reguladores.
Cuidado com o que dizem as embalagens
Maria Lúcia Oliveira Rósses, nutricionista do Hospital São Lucas da PUCRS, alerta para o cuidado que o consumidor deve tao ler o rótulo dos produtos. De acordo com a especialista, o informação "zero gordura trans" corresponde a alimentos que contém 0,2 gramas desta gordura por porção.
- Se a pessoa comer um pacote inteiro de biscoito, por exemplo, ela pode estar até mesmo ultrapassando o limite diário recomendado para o consumo de gordura trans - explica Maria Lúcia.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não comentou a medida e se manifestaria somente hoje sobre o tema.
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Produtores de alimentos têm até três anos para reformular seus produtos para que não contenham gorduras trans ou pedir autorização da FDA para usos específicos da gordura.
O órgão proíbe gorduras trans artificiais - diferentes das gorduras naturais, encontradas em algumas carnes. Grupos de direitos dos consumidores foram favoráveis à decisão da FDA. Michael Jacobson, diretor-executivo do Centro para a Ciência no Interesse Público, considerou a medida uma "vitória para a saúde pública".