A felicidade é o motor e também o freio. Para encontrá-la, ou zelar pela sua manutenção, podemos adotar os comportamentos mais bizarros, mas também somos capazes de deixar nossa ousadia no congelador. Há tempos a ciência tenta explicar essas atitudes, reunindo evidências que comprovem aspectos científicos do bem-estar. Mas essa é uma questão que tem muito mais a ver com a prática do que com a teoria.
Criador da Escola das Emoções, o casal gaúcho Camila Weinmann e José Pedro Zereu viajou até a Índia para encontrar novos embasamentos e inspirações do projeto que, agora, compartilha. A proposta deles é ajudar as pessoas a entender os sentimentos que mascaram a felicidade.
- Ser feliz está dentro de cada um, precisa apenas ser lapidado - diz Zereu.
- As emoções são mensagens. É preciso se desmascarar para ver as verdades a respeito de si mesmo - complementa Camila.
O professor de ioga e a terapeuta transpessoal dividiam impressões sobre fatores corriqueiros que costumam roubar a alegria de viver quando decidiram criar um espaço dedicado a evitar esses "pequenos furtos". Hoje, eles conduzem grupos a ouvir e a interpretar sentimentos como o medo e a ansiedade.
- Os professores não somos nós. São as próprias emoções. Somos facilitadores - diz Camila, que procura entender, pela biopsicologia, como as tensões acumuladas criam bloqueios energéticos no corpo.
Pausa na rotina para refletir
Para aprofundar o estudo dessas sensações, um grupo de 25 gaúchos passará um período entre templos, praias e prédios de luxo do Camboja e da Tailândia. O desafio de encontrar onde, afinal, esconde-se o sentimento mais perseguido pela humanidade, será facilitado pela presença de dois professores de ioga. Em cada uma das cidades visitadas serão trabalhados temas como respiração, descontração, qualidade de vida e meditação.
- Essas práticas ativam neurotransmissores como dopamina e serotonina e estabilizam o cortisol (hormônio do estresse) - diz Fabiano Gomes, um dos professores que acompanharão o grupo.
A médica oncologista Alessandra Morelli topou encarar o convite de Fabiano. No próximo dia 2, ela embarca com o marido e, por coincidência, uma paciente que ajudou a curar. Ao aceitar o convite do professor de ioga, Alessandra se deu conta de que há pelo menos 15 anos não tirava férias por mais de uma semana. Decidiu, então, dar-se ao luxo de impor uma pausa à rotina e pediu para a secretária cancelar a agenda por 20 dias.
No período em que estiver longe, deixará de ver os pacientes no consultório, mas levará consigo a principal lição que eles lhe ensinaram: a felicidade não deve ser adiada.
- Tem de ser feliz no dia a dia, com o trabalho, a família, a saúde. Para isso, cuido do corpo e da mente, pratico treinamento funcional e ioga como hobby. Amar o que faço também ajuda a manter elevado o nível de satisfação com a vida - diz a médica, encorpando o grupo que acredita que viver com um sentido ajuda a trazer mais contentamento.
Feliz por natureza
O estilo de vida zen das bandas orientais do planeta atrai dezenas de visitantes ao redor do mundo e tem uma expressão significativa em um pequeno país do sul da Ásia chamado Butão. Próximo a China e Índia, ele é conhecido por ter um índice medidor de desenvolvimento social que não leva em conta apenas o poder econômico, como nosso Produto Interno Bruto (PIB), mas, sim, o sorriso no rosto. A Felicidade Interna Bruta (FIB) coloca a qualidade de vida e a preservação do ambiente à frente da questão financeira do país. Por lá, a alegria do povo é uma política de governo, como escreveu o jornalista Eric Weiner, no livro Geografia da Felicidade.
Na nação himalaica, ser feliz é levar uma vida tranquila, meditar contemplando a natureza e chegar de avião em um aeroporto que parece um templo.
Hoje, existe um departamento especial para cuidar da felicidade dos habitantes do Butão. Ao contrário do PIB, o FIB não pode ser medido. Mas o governo usa 23 critérios para avaliar se um projeto pode ou não diminuir a felicidade do povo. Dependendo disso, o projeto é ou não aprovado.