Felicidade não se traduz em palavras nem cabe em um tubo de ensaio. A ciência esbarra em definições e um dos problemas para seu estudo é que o termo não comporta conceitos, variando entre bem-estar, êxtase, satisfação ou serenidade da contemplação.
Martin Seligman, presidente da Associação de Psicologia Americana (APA), faz distinção entre três tipos de felicidade. A primeira é a vida prazerosa, ao modo Hollywood. A segunda é a "boa vida", como a que Aristóteles pregava: contemplação e boas conversas, estar totalmente imerso em uma experiência - que o psicólogo húngaro Mihaly Csikszentmihalyi define como "flow". Atividades esportivas, música, leitura, são atividades típicas de "flow", segundo ele, mas o trabalho também pode ser. A sensação de ligar-se a algo maior que si mesmo, tal como religião ou missões voluntárias, é uma terceira forma.
Progressos na neurociência também têm arriscado a explicar o que ocorre em nosso cérebro quando estamos felizes. A ressonância magnética (que mapeia o fluxo de sangue) e os eletroencefalogramas (que detectam atividade elétrica dos neurônios) apontam para o lado esquerdo do córtex pré-frontal (uma região acima e à frente do ouvido) como o local do cérebro onde as sensações de felicidade se alojam.
Mas todos esses esforços seriam em vão, segundo o filósofo utilitarista Henry Sidgwick, que tratou do paradoxo do hedonismo no início do século 20 em seu livro Métodos de Ética. Ele afirmou que quem tenta maximizar seus prazeres tem mais chances de fracassar, já que a felicidade é um fenômeno que não obedece a princípios normais.
- Ela não pode ser adquirida diretamente, apenas indiretamente - afirmou.
O pensamento coincide com a ideia de que é a própria procura pela felicidade que frustra a felicidade em si, ou de que ela seja um caminho e não um destino. Na sociedade que reúne as melhores condições para tornar seus cidadãos felizes, sua busca constante tem se tornado fonte de estresse.