Jovens concebidos a partir da doação de sêmen de um homem desconhecido resolvem buscar pistas que permitam reconstituir e ampliar suas biografias - este é o tema central da novela Sete Vidas, de autoria de Lícia Manzo, no ar na faixa das 18h na RBS TV. Um número de registro identifica o doador, Miguel, interpretado pelo ator Domingos Montagner: 251. A personagem Júlia (Isabelle Drummond), de posse dessa informação, descobre um meio-irmão, Pedro (Jayme Matarazzo), ao consultar um site especializado em conectar as pessoas envolvidas nesses procedimentos. À parte a atração que floresce desse encontro, os dois personagens decidem deixar uma carta na clínica de fertilização a que seus pais recorreram, dando início a uma série de contatos que ligará todas as vidas a que faz referência o nome da trama.
Professoras recorrem à doação de sêmen em clínica de reprodução assistida
Ambientado no Rio de Janeiro, o enredo utiliza um recurso narrativo fundamental para tornar a história viável: o sêmen de Miguel foi coletado nos Estados Unidos, país que não exige o sigilo de doadores e receptores e inclusive remunera quem se dispõe a ajudar quem enfrenta problemas reprodutivos. No Brasil, todas as doações, regradas pelo Conselho Federal de Medicina, são anônimas, impedindo que os filhos gerados a partir delas possam requisitar dados e chegar a esses voluntários. Quem busca um profissional especialista em reprodução pode até escolher características físicas dos doadores disponíveis, mas jamais saberá de quem se trata. O mesmo sigilo vale para a doação de óvulos e embriões.
A doação de sêmen pode ser uma opção para mulheres que desejam uma produção independente, casais gays formados por duas mulheres ou casais heterossexuais em que o homem é infértil, por exemplo. Não há bancos de esperma em Porto Alegre, e as clínicas costumam recorrer a uma instituição de São Paulo. Os interessados conhecem um breve perfil de quem forneceu as amostras: tipo sanguíneo, altura, peso, raça, religião, profissão, hobby. Quando chega às clínicas, o esperma já passou por diversos testes. Dependendo do caso, as pacientes são submetidas a fertilização in vitro ou inseminação artificial. Podem ser realizadas múltiplas tentativas até que tenha início a gestação. Desde o início do tratamento os pacientes são informados de que não será possível conhecer o doador no futuro.
A imposição do anonimato divide médicos dessa área de atuação. Para Renato Frajndlich, especialista em reprodução humana, o desconhecimento em relação aos "pais" biológicos poupa as famílias de transtornos mais adiante. Como comparação, ele cita as diferenças entre os processos de adoção, quando é natural que a criança queira conhecer suas origens, e o de doação de gametas.
- O anonimato evita mais problemas do que traz soluções. Imagina se uma criança resolve ir atrás de quem doou. Ela foi doada não como pessoa, mas como óvulo ou sêmen. É diferente ser adotada e ser doada - explica Frajndlich.
Nilo Frantz, ginecologista e diretor do centro de reprodução humana que leva seu nome, destaca que cada país tem normativas ditadas pelos conselhos de medicina e variações de acordo com a cultura. Na prática brasileira, Frantz acredita que o ideal seria dar flexibilidade ao critério da identificação, permitindo que o doador fizesse uma escolha de acordo com sua própria vontade:
- Melhor seria dar liberdade para ele optar pelo anonimato ou não. Isso acontece nos Estados Unidos, onde há doadores que aceitam a identificação posterior e outros a vedam. O casal fica esclarecido no momento da escolha do doador.
Fertilização in vitro
- Estimula-se, com o uso de medicação, a produção de óvulos na mulher.
- Depois de coletados, os óvulos são unidos aos gametas masculinos (sêmen do doador) em laboratório.
- O embrião formado a partir daí é introduzido na paciente. A fertilização se dá, portanto, fora do útero.
- O número de embriões transferidos para o útero varia de acordo com a idade da mulher - quanto mais jovem, melhor a performance do organismo.
* Até 28 anos: um embrião
* Até 34 anos: dois embriões
* Até 38 anos: três embriões
* A partir dos 38 anos: quatro embriões
Reprodução assistida
Doação de sêmen é alternativa para casais gays ou que enfrentam problemas de fertilidade
Conselho Federal de Medicina proíbe a identificação dos doadores no Brasil, o que impede que os filhos gerados a partir dessas amostras conheçam seus "pais" no futuro
Larissa Roso
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