Teimosia, desobediência e choro fácil. Para muitos especialistas, essas características - típicas de crianças entre um ano e meio e três anos - podem ser resumidas em uma expressão de origem inglesa: terrible two (terríveis dois anos, na tradução literal). O período normalmente traz dor de cabeça aos pais que, praticamente de uma hora para outra, veem seus filhos escalando móveis, colocando o dedo na tomada e se atirando no chão a cada vez que são contrariados.
- Nessa fase, a criança começa a exercitar sua autonomia e sua independência com relação aos cuidadores. E também é quando começa o que os pais chamam de "arte" - explica o psiquiatra Luiz Carlos Prado, especializado em atendimento infantil e adolescente.
Tempo na frente da telas compromete qualidade do sono
Os "arteiros" parecem não ter limites. De acordo com a psicóloga Simone Bampi, especialista em educação inclusiva, é na fase do terrible two que a curiosidade é praticamente uma regra para as crianças. É a vontade de descobrir o mundo que as torna um pouco mais desobedientes.
- Elas testam não só as restrições impostas pelos pais, mas também a própria capacidade. Experimentam movimentos para ver o que o corpo consegue executar - diz Simone.
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É o que Miguel, de um ano e meio, tem feito com os pais Jorge Rodrigues e Josiane Arruda, ambos de 44 anos.
- Ele não subia nas coisas. Antes, precisávamos colocá-lo na cadeirinha de alimentação. Agora, ele consegue sozinho - conta o administrador de empresas.
Pais precisam se adaptar às descobertas do bebê
Numa dessas, o bebê ficou em pé sobre a cadeira, desequilibrou-se e caiu de cabeça no chão. O susto fez com que os pais o levassem ao hospital para checar se estava tudo bem - e, por sorte, estava. Não raras vezes, Miguel prende a perna gordinha entre as hastes do berço e não consegue puxá-la de volta. Josiane e Jorge são acionados pelo choro estridente do bebê.
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- A gente tem se adaptado às novidades. Cada semana, ele nos surpreende. Começa a mexer em algo que não mexia, entrar onde não entrava - comenta o pai.
Hora de exercer a paciência
Por ser uma fase de muitas mudanças e certa rebeldia, o terrible two também é conhecido como a adolescência dos bebês.
- Até os três anos, é o período em que a gente mais se desenvolve - justifica a psicóloga e escritora de livros infantis Adriana Zanonato.
Quando não conseguem aquilo que querem, os pequenos tendem a chorar, fazer birra e se atirar no chão. A recomendação, nesses momentos, é se afastar.
- Os pais têm de esperar a irritação passar. Não pode bater na criança no momento de desespero, porque é nessa fase que elas modelam o comportamento. Se os pais gritam, elas aprendem a gritar. Se batem, aprendem a bater - esclarece Adriana.
Se a chegada de um irmãozinho se aproxima, a situação tende a piorar. Além de todas as rupturas que ocorrem no período - como deixar o uso das fraldas e da chupeta -, um novo bebê em casa faz com que as atenções não sejam voltadas apenas à criança.
- É importante que não haja comparação entre os filhos, ou com outras pessoas da família - recomenda Prado.
O segredo principal, segundo Adriana, é priorizar o diálogo e supervisionar, sempre que possível, os momentos de descoberta. Afinal, a exploração de novos territórios e a conquista de independência faz parte do desenvolvimento dos "arteiros" .
Como lidar com o "terrible two"
- Entenda que faz parte do desenvolvimento da criança. Não há nada de errado com ela.
- Não supervalorize e nem superestime uma crise de birra. Na medida do possível, ignore e deixe que ela se acalme sozinha.
- Explique que chorar não faz com que as coisas se resolvam. Nesse caso, é bom manter o diálogo: "Quando tu parares de chorar, a gente conversa".
- Mantenha o controle. Durante a crise de birra, a criança não ouve.
- Espere que ela se tranquilize sem sua ajuda. Caso estiverem em um lugar público e isso não for possível, abrace-a e tente distraí-la com outro assunto.
- Dê limites sempre. O ideal é que a criança saiba a consequência que sofrerá se fizer algo de errado antes de ser punida.