Se as pessoas são tão diferentes, como uniformizar comportamentos e ambições?
Talvez o significado das férias seja um dos parâmetros mais ricos para documentar essa diversidade.
É certo que a qualidade de vida antes das férias é que determina a intensidade do gozo durante o descanso.
Os que odeiam o que fazem, aqueles que têm raiva de segunda-feira até nas férias e defendem ardorosamente que o Dia de Finados deveria ser sempre numa sexta-feira por melhor expressar o cansaço eterno dos homenageados, esses curtem qualquer feriado, em qualquer lugar, com qualquer companhia, porque todo pretexto para mantê-los longe do trabalho massacrante é uma comemoração.
No outro extremo estão os viciados em trabalho, para os quais toda pausa é uma inexplicável perda de tempo.
Há os que acham que a felicidade é sinônimo de paz, e consideram que caminhar descalço na praia deserta é trilha para o céu. Claro que a ideia de férias desse grupo nunca combinará com a daqueles que, movidos a adrenalina, já se sentem felizes com qualquer efêmero ponto de equilíbrio no máximo de tensão. É sinal de sabedoria perceber essa diferença de exigências e não perder tempo com aconselhamentos.
Entre eles, transitam os deprimidos que, cansados de si, só entrariam em férias se fizessem sonoterapia, e os pessimistas, que não conseguem relaxar na angustiante espera de que as coisas piorem para confirmar suas previsões.
Os invejosos também tentam descansar, e claro que não conseguem, mas, de qualquer maneira, mudam o foco: durante o ano inteiro, sofrem com o que os outros fazem e, nas férias, atormentam-se com o que os outros têm.
Esses três tipos não têm repouso possível. Não neste mundo.
Não há como dissimular: o que levamos para descansar é a imagem do que fomos durante o ano inteiro. E não existe Photoshop capaz de retocá-la.
E o comportamento das pessoas em férias delata o jeito que elas viveram antes de chegar lá.
Os realizados e tranquilos, com a agradável sensação de dever cumprido, aproveitam para desligar a TV, massagear os filhos, escrever, diminuir a pilha de livros na mesa de cabeceira, atualizar a autocrítica e organizar uma volta com energia renovada. Para esses, a única grande tortura é a coincidência dos veraneios com uma nova edição do BBB e a rotina da torcida secreta para que, numa terça-feira gloriosa, sejam eliminados todos de uma vez.
Mas há os barulhentos que aumentam os decibéis nos restaurantes e elevam os sons dos carros como a dizer que também estão lá, conscientes que, durante o ano inteiro, estiveram bem abaixo do que planejaram, pegaram recuperação em todos os itens de prosperidade, mas nem por isso se sentem menos merecedores desse descanso.
Boas-vindas aos que fazem o que gostam e, prazerosamente, conquistaram o direito às férias que começam agora. Aos escassos de vocação, um consolo para o ano que se inicia: logo aí adiante tem muitos feriadões; e uma notícia ruim para o futuro: Natal e Ano-Novo de 2016 caem em finais de semana! Dá pra acreditar?