Quando tinha sete anos, Ruby Karp implorava à mãe por uma conta no Facebook. Mas, como a política do site proíbe usuários com menos de 13 anos, a garota teve o pedido negado. Assim, ela cresceu acessando a comunidade virtual pelo perfil dos pais, em busca de jogos e se perguntando o que havia de tão interessante naquele mundo reservado para os mais velhos.
O tempo passou, e, finalmente, a menina soprou as velas do seu 13º aniversário. No entanto, a brincadeira já tinha perdido a graça. Os amigos de Ruby estavam em outras redes sociais, e os únicos que se mantinham fiéis ao megaportal eram os adultos e seus "comentários constrangedores".
O relato da jovem escritora foi publicado recentemente no site Mashable, sob o título Tenho 13 anos e Nenhum dos meus Amigos usa o Facebook. No texto, a adolescente nova-iorquina explica como seus colegas perderam o encanto pela maior rede social do mundo, por medo se terem suas estripulias flagradas pelos mais velhos, por rejeição às constantes novidades do modelo da página ou somente para fugir das insistentes propagandas e sugestões de acesso que inundam o feed de notícias.
- Eu não gosto mesmo da timeline, sinto falta da antiga versão dos perfis. O Facebook é um ótimo site, eu só não tenho nenhum uso para ele ainda - conta Ruby, em entrevista por e-mail ao Correio.
A adolescente mantém um perfil no site, mas diz não acessá-lo com frequência pela falta de amigos online. Em vez de fotos de colegas e notícias sobre as coisas de que gosta, ela diz ser surpreendida por comentários como "olá, queridinha", deixados pelos pais de seus amigos. A garota não desconsidera voltar a usar a conta:
- Se estivesse na moda de novo, e se fosse mais simples.
A atenção dos internautas nascidos na virada do milênio se pulverizou em uma variedade de outros sites e aplicativos, como Instagram, Vine, Snapchat e Twitter.
- Acho que é porque o Instagram era tão novo e legal, e o Facebook não era realmente "tudo isso" para mim - compara Ruby Karp.
O que há de comum entre os novos queridinhos dos jovens adolescentes, ressalta Ruby, é a simplicidade. Para ela, é muito mais simples tuitar ou postar uma foto com filtros do que administrar a infinidade crescente de ferramentas da timeline criada por Mark Zuckerberg.
Porque essa geração acha mais legal outras interações
A escolha parece natural para essa geração, que aprendeu a acessar a internet pelo smartphone. As imagens quadradas do Instagram e os 140 caracteres similares aos das antigas mensagens de texto fluem com facilidade na tela de cinco polegadas, enquanto o Facebook ainda trabalha para adaptar o site para o modelo móvel.
De acordo com o especialista em redes sociais Carlos d'Andréa, redes mais aptas a serem usadas pelo celular tendem a se integrar de forma mais natural à rotina dos mais jovens.
- As redes sociais são extremamente alinhadas com a vida cotidiana. Não faz sentido esperar chegar em casa para poder comentar sobre algo. Isso tem de ser feito simultaneamente, mostrando o que eu estou comendo, onde estou, a pessoa com que encontrei - analisa o professor de comunicação social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Preocupação com a privacidade é um dos problemas
Outro problema apontado por Ruby é o bullying, que encontra nos detalhados perfis pessoais e no sistema de comentários a fonte perfeita para perseguições e ataques pessoais online.
A preocupação com a privacidade, na verdade, parece ser um problema até mesmo em locais em que o Facebook ainda está na moda. De acordo com dados do Pew Research Center, mais da metade dos adolescentes evitam postar coisas na página para proteger a imagem pessoal. Assim como o caso da adolescente norte-americana, o afastamento do site começa com uma proibição dos pais, mas permanece depois que o jovem atinge a idade para acessar a grande rede social.
- Meus amigos têm perfis, mas eu não quero. Acho desnecessário, não vale a pena se expor, colocar coisas para os outros verem - resume Guilherme Andrey Medeiros Ribeiro, 13 anos, estudante do 8º ano.
O fenômeno de rejeição à comunidade global de Mark Zuckerberg é novo e, na verdade, ainda vai contra a forte corrente de adesão à página. O Facebook continua crescendo, e é o líder disparado da rede com 1,15 bilhões de usuários ativos: apenas em agosto, a rede atraiu 40 milhões de novos membros. O Twitter ainda tem pouco mais de meio bilhão de inscritos, e o Instagram tem apenas 130 milhões de contas registradas.
Mas seria o desprezo de alguns jovens o início de uma tendência que possa mudar esse quadro? Ainda com base nos números do Pew Research Center, 77% dos adolescentes usam o Facebook. Contudo, eles dizem desaprovar o "drama", a pressão social e a presença dos pais na rede social.
Já o uso do Twitter, que era de 16% em 2011, aumentou para 24% em um ano. A diferença também se reflete na faixa etária dos usuários: enquanto a idade média dos membros do Facebook subiu dois anos desde 2010, chegando a 40,5, o grupo de pesquisa sueco Pingon aponta que a do Twitter caiu na mesma medida, chegando a 37,3 anos.
Casos como o das amigas Rebeca Salazar e Daniela Nagliatti, ambas de 11 anos e alunas do 6º ano, podem ser responsáveis por esse tímido envelhecimento do Facebook. Elas são uma exceção na sala de aula, onde todos os colegas mantêm uma conta no site.
- Eles perguntam por que eu não tenho Facebook, e eu brinco dizendo que sou atrasada na tecnologia mesmo. Mas acabou que me interessei por outras coisas - conta Rebeca.
Ela diz que já acessou a página do irmão para entrar em contato com uma amiga, mas que prefere se comunicar por e-mail, em que pode evitar a exposição a desconhecidos. Já Daniela dá preferência ao Skype e ao Facetime:
- O único que tem Facebook lá em casa é meu pai, que usa para falar com meus tios - relata a garota.
Busca por identidade
A chegada de pais e avós à rede social, aponta uma especialista em comportamento adolescente, pode ser um grande motivo para o afastamento dos jovens da comunidade online.
- Os jovens necessitam se diferenciar. Se os outros fazem a mesma coisa, isso não contribui para a construção de sua identidade, como alguém diferente - explica Débora Dalbosco Dell'Aglio, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Adolescência da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Para a psicóloga, é comum que cada nova geração busque uma marca própria de seu grupo, rejeitando qualquer modelo que já tenha sido adotado por seus pais. A tendência, ressalta Débora, vale para roupas, gírias e também para a tecnologia.
- Basta lembrar que houve o tempo do Orkut - recorda a especialista.
- Os jovens necessitam se diferenciar. Se os outros fazem a mesma coisa, isso não contribui para a construção de sua identidade.