Há aproximadamente sete anos, a vida de Lucio Bello mudou drasticamente. O novo-hamburguense de 55 anos descobriu que sofria de esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença degenerativa, progressiva e incurável, que resulta na perda de ativação de músculos voluntários, envolvidos nos movimentos dos braços ou das pernas, da respiração ou responsáveis pela fala e pela deglutição.
O problema, que não tem cura, pode acabar matando por parada respiratória, já que incapacita os músculos associados à respiração.
Na última terça-feira, entretanto, Bello teve novas razões para sorrir. A dupla formada pelo neurologista Francisco Tellechea Rotta e pelo cirurgião Richard Gurski prolongou a vida do paciente, ao realizar a implantação de um marca-passo diafragmático, que o auxiliará na respiração, impedindo que sofra asfixia.
O tratamento, que é pioneiro na América Latina, provoca estímulos elétricos no ponto de contato entre o nervo e o músculo, impedindo a atrofia e perda de força do diafragma. No caso de Bello, ele deve ser utilizado três vezes ao dia, por no mínimo 30 minutos.
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A iniciativa de aplicar o procedimento no Hospital Moinhos de Vento veio dos cirurgiões, que vêm acompanhando a técnica desde 2006, quando a descobriram em um congresso no Japão. Após constatarem que era conhecida e segura o suficiente para aplicar em uma pessoa, veio a fase de colocar a ideia em prática.
A dupla fez, então, contato com o inventor do aparelho, o médico Raymond Onders, da Case Western Reserve University, que treinou a equipe do hospital, para que a técnica pudesse ser aplicada com segurança.
Paciente fez a cirurgia no momento certo
Segundo Rotta, muitos fatores conspiraram a favor de Bello para que ele recebesse o pioneiro tratamento. Além de ser paciente há anos, ele estava no grau de desenvolvimento da doença propício para receber o aparelho, já que ela não pode estar nem muito no início nem muito avançada.
- Nós avisamos que ele precisava estar bem para receber o marca-passo. E ele respondeu perfeitamente ao nosso pedido - explica o neurologista.
O paciente fez a cirurgia na terça-feira passada. Na quinta-feira, ao meio dia, recebeu alta do hospital.
Próximo passo é realizar os sonhos
Lucio Bello e a mulher, Elisa, pretendem fazer uma viagem de carro até a Argentina ou Uruguai
Foto: Lívia Meimes /Fróes Berlato Associadas
Bello, que foi por muitos anos um empresário da indústria calçadista, pretende, agora, realizar seus sonhos. Entre eles, estão fazer uma viagem com os filhos Vinicius e Guilherme para a Itália, ir para Miami e viajar de carro até a Argentina ou Uruguai.
Embora o tempo de sobrevida do paciente seja discutível, já que isso varia de acordo com a pessoa, ele tem toda a certeza de que recebeu uma segunda chance para aproveitar.
- Estou muito feliz e emocionado. Meu objetivo é aproveitar muito essa fase e viajar pelo mundo ao lado da minha esposa e filhos - conta, visivelmente emocionado, o novo-hamburguense, que se comunica com auxílio da esposa, Elisa Bello.
O casal conta, ainda, que um dos fatores que os deixa mais felizes é saber que, com o sucesso da cirurgia de Bello, muitas outras pessoas também poderão se beneficiar do tratamento.
Estima-se que haja outros 600 pacientes com ELA no Rio Grande do Sul. No mundo, cerca de 900 pacientes já receberam o tratamento. Atualmente, o Hospital Moinhos de Vento conta com a única equipe na América Latina capacitada para realizar o implante cirúrgico.
Razões para sorrir
Paciente que recebeu primeiro marca-passo diafragmático da América Latina recebe alta
Portador de esclerose lateral amiotrófica, Lucio Bello pretende, agora, realizar seus sonhos
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