A epilepsia é a doença cerebral crônica de maior frequência no mundo - acomete 2% da população - e pelo menos 50% dos casos começam na infância ou na adolescência. A principal característica é a ocorrência de crises epiléticas, que podem prejudicar a qualidade de vida de quem convive com o problema. No entanto, apesar de ser uma doença séria, ela não deve desencorajar as mulheres do sonho de ser mãe.
De acordo com o neurocirurgião, colaborador do Departamento de Neurocirurgia da Universidade de Saint Louis (Missouri- EUA) e introdutor e pioneiro da neurocirurgia robótica no Brasil, Paulo Porto de Melo, as mulheres com epilepsia apresentam maiores riscos de complicações em gravidez, trabalho de parto e na concepção do que a população em geral. Porém, mais de 90% delas têm uma gestação normal e filhos saudáveis.
Segundo Melo, na mulher epiléptica a gravidez deve ser cuidadosamente planejada e vigiada, a fim de minimizar os riscos maternos e fetais. Tomar ácido fólico três meses antes e três meses depois de engravidar e conversar com o médico para tomar medicamentos que controlem a doença são alguns dos cuidados necessários. Com adequado plano e manejo terapêutico, o risco de complicações fica bem reduzido.
Apesar do baixo risco, existe a preocupação de complicações gestacionais para a mãe, como o aumento de crises, e problemas de saúde no bebê, decorrentes do uso materno de medicamentos contra as crises epilépticas. Melo alerta que há uma piora das crises em cerca de 1/3 das gestantes, causada pela interrupção ou troca de medicamento e a queda dos níveis da medicação em algumas fases da gestação. Além disso, a presença de crises fortes pode causar descolamento da placenta e sangramentos.
- O mais recomendável, além de programar a gravidez após controle adequado das crises, é manter a medicação de controle e ficar de olho na otimização da dose, caso seja necessário. Jamais interrompa a medicação ao saber que está grávida. O risco ao bebê será maior com a descompensação das crises do que com o uso do remédio, seja ele qual for - alerta o neurocirurgião.
Riscos e controles para o bebê
Já para o bebê, o risco maior é de malformação fetal, visto que o uso de antiepilépticos está associado em diversos estudos a um pequeno aumento do risco de defeitos no lábio e coluna, além de problemas cardíacos.
Nesse caso, além do uso do ácido fólico, é importante jamais suspender a medicação e sempre preferir, na medida do possível, medicamentos únicos e em menor dose, capazes de controlar as crises. O efeito nocivo de alguns tipos de crises epiléticas pode ser mais grave do que o dos próprios medicamentos. Por isso, é preferível o pequeno risco do uso destes medicamentos na gravidez do que o alto risco em consequência de crises não controladas na mãe.
Quais cuidados devo ter com o bebê?
Caso, mesmo após o parto, você esteja apresentando uma frequência elevada de crises, é aconselhável que os cuidados com o bebê sejam redobrados. Algumas recomendações podem ser úteis:
Amamentação
Todas as mulheres devem amamentar seus filhos, inclusive aquelas com epilepsia. No entanto, devem tomar alguns cuidados como amamentar acomodadas num colchão forrado com cobertores, colchas ou almofadas. Isso poderá evitar que a criança se machuque caso caia do colo da mãe se esta apresentar uma crise.
- A falta de sono e o cansaço podem aumentar as crises, por isso recomenda-se que se faça uso de mamadeira intercalada com o peito - sugere o médico.
Após a amamentação, observe se o bebê apresenta sonolência excessiva ou agitação, porque o medicamento antiepiléptico pode estar interferindo, através do leite, no comportamento. No caso de ocorrência de qualquer alteração, não deixe de conversar com seu médico.
Transporte do bebê
A mãe deve evitar o uso de suporte corporal (baby-bag). O transporte da criança deve ser feito sempre no carrinho.
Banho
É mais seguro deixar a banheira do bebê no chão e com pouca água. Dar preferência ao uso do chuveirinho.
Troca de roupas
É aconselhável trocar as fraldas e outras peças de roupa do bebê preferencialmente em locais baixos ou no chão, para que ele não se machuque no caso da mãe ter uma crise.